Saúde

Metanol: saiba quanto tempo os efeitos da intoxicação demoram para aparecer

Especialistas explicam que sintomas de intoxicação podem tardar a surgir e reforçam a importância do tratamento

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Sintomas de metanol
Imagem: Freepik

Os casos de intoxicação por metanol têm gerado diversas dúvidas sobre os efeitos da substância no organismo. Uma dessas questões refere-se ao tempo que os sintomas levam para se manifestar.

De acordo com Patrícia Mello, médica intensivista e presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), os sintomas costumam aparecer entre 12h e 24h depois do consumo da substância, mas em algumas situações podem demorar até 90 horas.

Normalmente, em uma intoxicação grave, a partir de 12 horas a pessoa já apresenta dor de cabeça e sintomas visuais. Quando esses sinais demoram a aparecer, geralmente se trata de uma intoxicação mais leve

Patrícia Mello, médica

A médica destaca que, apesar de a rapidez ser um indicativo de gravidade, não é possível prever quais os efeitos da contaminação e é necessário procurar atendimento médico o mais rápido possível para iniciar o tratamento.

Yuri de Albuquerque, diretor de Medicina Intensiva da Afya Whitebook, acrescenta que casos em que os sintomas tardam a aparecer costumam ser observados quando há ingestão de pequenas quantidades, em pessoas com metabolismo mais lento ou quando há consumo simultâneo de etanol, o que reduz os impactos da substância.

“A referência a até 90 horas é usada como margem de segurança, reforçando que mesmo pacientes assintomáticos nas primeiras 24 horas devem permanecer em observação”, destaca.

“O mais importante é reconhecer precocemente o risco e iniciar o tratamento específico antes que surjam os sintomas neurológicos e visuais, que podem ser irreversíveis”, adiciona.

Entre as possíveis sequelas, Patrícia menciona o parkinsonismo, em que o paciente passa a apresentar sintomas motores semelhantes aos da doença de Parkinson, como tremor e rigidez muscular.

“O atendimento rápido é muito importante. Se o paciente precisa de hemodiálise para retirar o metanol do corpo, por exemplo, quanto antes ele tiver acesso a esse tipo de tratamento, menor a chance de ter sequelas e risco de morte”, pontua.

Por que os sintomas não aparecem de forma imediata?

Os sintomas mais graves da contaminação levam certo tempo para aparecer porque dependem da metabolização do metanol no corpo.

Os especialistas explicam que não é a substância em si que causa os danos à saúde. A toxicidade é causada pelo ácido fórmico, que é formado pela metabolização do metanol por uma enzima chamada álcool desidrogenase.

“O ácido fórmico interfere no metabolismo celular e compromete a produção de energia, afetando especialmente tecidos muito dependentes do consumo de oxigênio, como o nervo óptico e a retina. Esse processo leva tempo: o metanol precisa ser convertido e seus metabólitos precisam se acumular no organismo até atingirem níveis tóxicos”, explica Albuquerque.

“Por isso, existe uma fase latente, um intervalo de 12 a 24 horas entre a ingestão e o início das manifestações clínicas graves. Durante esse período, o paciente pode apresentar apenas sintomas inespecíficos, como dor de cabeça, náusea e tontura, sem sinais neurológicos evidentes”, continua.

Patrícia ainda lembra que os antídotos, o etanol e o fomepisol, agem justamente competindo pela ligação à enzima álcool desidrogenase, processo chamado de antagonismo competitivo. Ao se ligarem à enzima, eles inibem sua atividade e impedem que o metanol seja metabolizado, evitando que ele se converta em ácido fórmico. Por isso é importante correr para as unidades de atendimento.

O que fazer em casos de suspeita?

Diante dos casos recentes, a Amib publicou uma nota técnica com orientações para profissionais que atuam em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

O primeiro passo, segundo a presidente da associação, é pedir que o paciente leve ao atendimento a bebida que foi consumida, para encaminhar para análise, e questionar se outras pessoas que também beberam o líquido estão com sintomas parecidos.

“O segundo passo, uma vez confirmada a possibilidade de intoxicação por metanol, é tomar os cuidados iniciais: hidratar, ver a pressão arterial e soliciar exames de eletrólitos, função renal e hepática, além dos exames específicos, que confirmam ou afastam a suspeita”, explica Patrícia.

Marcus Gaz, cardiologista e gerente médico das unidades avançadas do Einstein Hospital Israelita, cita que a dosagem do metanol, seja no sangue ou na urina, demora dias para ficar pronta, tanto no serviço público quanto no privado.

Então, não é algo que ajuda a fazer o diagnóstico agudamente. O que vai ajudar, além de uma anamnese bem feita e de um bom exame físico, são exames laboratoriais mais comuns, como a gasimetria, que pode verificar uma acidose do sangue e ajudar a suspeitar de uma contaminação.

Marcus Gaz, cardiologista

A gasimetria é um exame de sangue que mede a quantidade de oxigênio e de dióxido de carbono no corpo e verifica se o sangue está equilibrado em relação à acidez.

O tratamento com os antídotos também deve ser iniciado rapidamente para prevenir a formação do ácido fórmico e evitar seus efeitos.