
A recusa alimentar infantil é um desafio comum que pode transformar a hora das refeições em um verdadeiro campo de batalha para muitas famílias. Pais e responsáveis frequentemente se deparam com crianças que rejeitam alimentos – especialmente frutas, legumes e verduras – e, diante da frustração, recorrem a chantagens ou punições.
Mas é importante estar alerta: o caminho para uma alimentação saudável na infância não deve passar por brigas, e sim por acolhimento, paciência e estratégias de incentivo adequadas.
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Segundo Talita Bonatto, nutricionista do Hospital São José, o comportamento alimentar da criança está diretamente ligado ao ambiente em que ela come, ao exemplo dos adultos e à forma como o alimento é apresentado.
O ambiente alimentar exerce influência direta sobre os hábitos e preferências alimentares das crianças. Estudos indicam que crianças expostas regularmente a refeições em família apresentam maior consumo de frutas, hortaliças e menor ingestão de alimentos ultraprocessados.
Por que a criança não quer comer?
A recusa alimentar pode ter causas variadas. Entre os fatores mais comuns estão:
- Fases naturais do desenvolvimento infantil, como a neofobia (medo de experimentar novos alimentos), comum entre 2 e 6 anos;
- Excesso de estímulos antes das refeições (como TV ou celular);
- Ansiedade dos pais durante o momento da alimentação;
- Porções incompatíveis com a necessidade da criança;
- Uso de recompensas e punições como estratégia de controle.
Segundo a nutricionista, também é importante estar atento aos sinais emitidos pela própria criança para ter sucesso na hora das refeições.
“A oferta deve respeitar os sinais de fome e saciedade da criança, conforme preconiza o modelo de comer responsivo. Discussões, chantagens e recompensas com comida (como sobremesas) podem prejudicar essa relação e perpetuar comportamentos de recusa”, explica.
Como incentivar a alimentação sem estresse?
Algumas abordagens baseadas no respeito e no incentivo positivo podem ajudar na alimentação. Confira algumas técnicas:
1. Crie uma rotina alimentar
Estabeleça horários fixos para refeições e lanches. Isso ajuda a regular o apetite da criança e a reduzir “beliscos” fora de hora.
2. Ofereça variedade, mas sem pressão
Apresente novos alimentos ao lado de opções já conhecidas. Não obrigue a criança a comer, mas incentive que ela experimente, mesmo que seja apenas um pedaço pequeno.
3. Torne o prato atrativo
Use formas, cores e apresentações criativas para chamar a atenção da criança. Montar carinhas ou bichinhos com os alimentos, por exemplo, pode tornar a refeição mais divertida.
4. Envolva a criança no preparo
Permitir que os pequenos participem do preparo das refeições — como lavar alimentos ou montar o prato — aumenta o interesse e a aceitação.
5. Seja exemplo
As crianças observam os adultos. Uma alimentação equilibrada por parte dos pais favorece a formação de bons hábitos desde cedo.
Quando procurar ajuda profissional?
Apesar de ser uma preocupação para pais e mães de plantão, nem sempre a seletividade alimentar significa que há algum problema. Entretanto, a especialista destaca que se a recusa for persistente ou afetar o desenvolvimento da criança, é importante procurar ajuda.
A seletividade alimentar faz parte do desenvolvimento infantil em determinadas fases, mas é considerada preocupante quando persiste por mais de dois anos, ou quando compromete o estado nutricional, o crescimento e o convívio social da criança.
É importante destacar que não há solução única: cada criança é única, e o respeito ao seu tempo é essencial.