Atividade física
Imagem: Freepik

A prática de atividade física é, indiscutivelmente, um dos pilares de promoção da saúde. Redução do risco cardiovascular, controle do peso, melhora da saúde mental e prevenção de doenças crônicas são apenas alguns dos inúmeros benefícios cientificamente comprovados.

Em raros casos, no entanto, ouvimos notícias de atletas (amadores ou profissionais) que sofreram morte súbita durante uma partida, treino ou corrida. Esses eventos, embora infrequentes, causam grande comoção pública e levantam uma importante questão: por que isso acontece com pessoas que, à primeira vista, parecem tão saudáveis?

O que é a morte súbita?

Morte súbita é definida como um óbito inesperado que ocorre de forma abrupta, geralmente até uma hora após o início dos sintomas, em uma pessoa previamente considerada saudável.

Quando isso acontece durante a prática esportiva, trata-se de um evento dramático, por envolver indivíduos geralmente jovens, ativos e sem sinais aparentes de doença.

Quais são as principais causas em atletas jovens?

Nos atletas com menos de 35 anos, a maior parte dos casos de morte súbita está associada a doenças cardíacas de origem genética ou congênita, muitas vezes silenciosas. As mais comuns incluem:

  • Cardiomiopatia hipertrófica: condição na qual há espessamento anormal do músculo cardíaco, dificultando o bombeamento do sangue e predispondo a arritmias graves;
  • Cardiomiopatia arritmogênica: substituição do tecido muscular do coração por tecido fibroso e gorduroso, podendo levar a insuficiência cardíaca e arritmias potencialmente fatais;
  • Síndrome do QT longo, síndrome de Brugada e outras canalopatias: distúrbios elétricos do coração que não afetam a estrutura, mas aumentam o risco de arritmias;
  • Miocardite: inflamação do músculo cardíaco, muitas vezes após infecções virais. Pode passar despercebida e levar a arritmias graves e insuficiência cardíaca;
  • Malformações das artérias coronárias: alterações anatômicas nos vasos que irrigam o coração, dificultando o fluxo sanguíneo durante esforço.

Já nos atletas acima de 35 anos, a causa mais comum é a doença arterial coronariana, ou seja, a obstrução das artérias do coração, geralmente associada a formação de placas de gordura. Tem como fatores contribuintes a hipertensão, colesterol alto, diabetes, obesidade, tabagismo e histórico familiar.

A morte súbita pode ser evitada?

Felizmente sim! A chave é a avaliação cardiovascular preventiva, mesmo em pessoas jovens e aparentemente saudáveis.

A avaliação inclui:

  • História clínica detalhada, incluindo sintomas (como dor no peito, palpitações ou desmaios), histórico familiar de morte súbita ou doenças cardíacas precoces;
  • Exame físico completo;
  • Eletrocardiograma (ECG): exame simples, rápido e de baixo custo, mas que pode identificar arritmias, sinais de cardiomiopatias ou canalopatias;
  • Testes adicionais conforme necessidade: ecocardiograma, teste ergométrico, angiotomografia coronariana ou mesmo ressonância magnética cardíaca.

Não existe uma idade mínima única para a avaliação, mas recomenda-se que adolescentes e jovens atletas competitivos façam uma avaliação inicial ao começarem atividades de alta intensidade. Para adultos com mais de 35 anos, especialmente os que vão iniciar treinos mais vigorosos, a avaliação se torna ainda mais relevante, devido à maior chance de doença coronariana.

Prevenção também é preparo

Além da triagem médica, é fundamental que os locais de prática esportiva — academias, clubes, escolas e eventos esportivos — estejam preparados para agir em situações de emergência.

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A presença de desfibriladores (DEA) e profissionais treinados em reanimação pode ser a diferença entre a vida e a morte. Estudos mostram que a chance de sobrevivência a uma parada cardíaca fora do hospital pode chegar a 70% quando o atendimento com DEA é feito nos primeiros minutos.

A importância da conscientização

A morte súbita em atletas, embora rara, é um lembrete de que o coração precisa de atenção, mesmo entre os que aparentam estar no auge da saúde. A mensagem não é de medo, mas de responsabilidade com a própria saúde. Um simples eletrocardiograma, uma consulta médica detalhada ou uma investigação adicional podem salvar vidas.

Praticar atividade física é essencial, mas deve ser feita com segurança. A medicina esportiva e a cardiologia preventiva caminham lado a lado para garantir que o exercício traga apenas benefícios. Que possamos incentivar o esporte, mas também a avaliação adequada, o preparo para emergências e a informação de qualidade. Porque, no final, o que importa é viver bem e com saúde, seja dentro ou fora das quadras, pistas e academias.

Dr. Vitor Dornela de Oliveira

Cardiologista e Arritmologista

Médico cardiologista e arritmologista, com formação pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-FMUSP). Pós-graduando em Medicina do Esporte e do Exercício pelo Einstein. Membro titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Sócio-fundador do Instituto Salutare. Acesse o site: isalutare.com.br

Médico cardiologista e arritmologista, com formação pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-FMUSP). Pós-graduando em Medicina do Esporte e do Exercício pelo Einstein. Membro titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Sócio-fundador do Instituto Salutare. Acesse o site: isalutare.com.br