Saúde

Transtornos de imagem e o papel das redes sociais no problema

Estatísticas crescentes de insatisfações quanto ao corpo e à face aumentam e alertam quanto aos padrões impostos pelas redes sociais

Foto: Divulgação

Filtros para afinar o nariz e desenhar o maxilar, acompanhar influenciadoras que falam sobre cirurgias plásticas como um ato cotidiano, tentar se encaixar em um ideal para obter aprovação dos internautas. As redes sociais são a grande vitrine da sociedade atual e, por meio delas, os indivíduos tendem a buscar não apenas aceitação, mas conceitos do que é estar no padrão estético.

Graduada em Biomedicina pelo Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação, Dra. Gabriela Dawson buscou a Alemanha para se especializar em comportamento na European Coaching Association (ECA), justamente para entender a era das fotos espontâneas e as exigências de imagem das redes sociais refletidas no comportamento. “Atualmente tudo é movido pelas redes sociais. Entramos na era das selfies, impulsionados pela geração milennium, que tem a característica de ser mais imediatista. Todo o cenário mudou a forma como nos enxergamos como indivíduos e principalmente nossos conceitos acerca do que é belo ou não”, analisa a Dra. Gabriela.

O excesso de filtro, aplicativos de melhoramento de fotografia, assim como a atmosfera de um “mundo perfeito”, tem conduzido pessoas a postarem conteúdos e fotos cada vez mais distantes da realidade, fato que faz com que elas, ao se olharem no espelho, não reconheçam a própria imagem.

“Nesse momento, no qual há o entendimento de que a versão vista por meio da tela é mais atraente e dentro do padrão que a do espelho, a busca por intervenções cirúrgicas e procedimentos estéticos desnecessários ou exagerados acontecem. Porém, quando não decididas com prudência, podem se tornar perigosas, visto que o paciente pode aceitar sacrificar os limites da assimetria do rosto para transformar completamente a imagem”, alerta a biomédica.

O efeito comparativo que as redes podem causar é o que faz com que o internauta enxergue apenas narizes finos, barrigas definidas e a falta de rugas como a imagem ideal, aponta a Dra. Gabriela, que argumenta que as pessoas que se analisam por esse parâmetro pensam estar pouco parecidas com os padrões que enxergam diariamente nas redes, o que traz sentimento de inferioridade. "Isso acaba criando uma realidade paralela que entra em conflito com a imagem vista na realidade”, diz a profissional.

O papel do profissional

Segundo a especialista, os profissionais do ramo estético precisam analisar com responsabilidade os porquês da realização do procedimento, assim como demonstrar ao paciente quais são os limites da intervenção, com o objetivo de não se distanciar dos traços naturais. “É necessário analisar todas as possíveis intercorrências. No caso das harmonizações, por exemplo, há um estudo matemático sobre as proporções ideais para cada rosto, não é apenas injetar produtos na pessoa com base em achismos. É uma mescla entre anatomia e arte”, define.

Existem ângulos, por exemplo, que são medidos para que quando a pessoa olhe, o cérebro identifique características relacionadas ao belo. São conhecimentos acerca disso que irão tornar o profissional capaz de combinar a visão técnica com a estética, assim como identificar quando o paciente ultrapassa essa linha e quer transformar seu rosto em outro completamente diferente, argumenta Dra. Gabriela.

“Nesse momento o profissional pode explicar ao paciente a visão sobre a harmonização ser para valorizar traços que já são naturais ao rosto. Caso haja resistência, o que pode acontecer é ele procurar uma segunda opinião, visto que a característica dessas pessoas é não se fidelizar a um profissional apenas, já que esse reconhece os limites da aplicação”, argumenta.

Pontos moeda