Saúde

Apenas três hospitais do Espírito Santo oferecem terapia realizada em Paulo Gustavo contra covid-19

O procedimento foi suspenso do SUS em 2015. A justificativa, segundo especialistas, é o alto custo envolvido na técnica

Bianca Santana Vailant

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação / Instagram
O ator e comediante Paulo Gustavo está internado na UTI desde o dia 13 de março.

Oxigenação por Membrana Extracorpórea, ou na forma abreviada, ECMO. Uma terapia que ganhou visibilidade depois de ser realizada no ator e comediante Paulo Gustavo, que está internado por complicações da Covid-19 desde o dia 13 de março.

A técnica consiste em conectar o paciente a uma máquina que funciona como uma espécie de “pulmão externo”. O objetivo é fazer com que o aparelho assuma a função do pulmão, filtrando o sangue antes de devolvê-lo para o corpo do paciente. Dessa forma, o órgão trabalha menos, descansa, e tem mais chances de recuperação.

A técnica vem sendo cada vez mais utilizada em pacientes com complicações causadas pela Covid-19, mas apesar de ser considerada uma importante ferramenta no tratamento da doença, a terapia não é acessível a todos.

No Estado, três hospitais particulares oferecem a terapia, o Hospital Santa Rita, o Meridional e o Vitória Apart Hospital. Para isso, é preciso contar com um corpo clínico capacitado para dar avaliação e assistência necessária ao paciente que precisa desse tratamento.

“O tratamento é muito caro. Em primeiro lugar, é difícil de encontrar a máquina. Além disso, o funcionamento depende de profissionais especializados, que tenham um treinamento para operar o equipamento, uma equipe grande e cara. Pode chegar a custar 30 mil reais por dia”, explicou a pneumologista Cileia Martins. 

Terapia realizada há mais de 15 anos

Especialista neste tipo de terapia, o médico Cirurgião da equipe de transplante do Meridional, Heber Souza Melo Silva, explicou que essa não é uma técnica nova. “É uma terapia de alto custo, que não é facilmente liberada pelos convênios. Já é feita há muito tempo”, explicou.

Segundo o médico, no Brasil, a ECMO já é realizada há mais de 15 anos. “Essa terapia foi utilizada inclusive no caso do incêndio da Boate Kiss, na região sul do país. Aqui no Estado, usamos desde 2009. É uma terapia coadjuvante a outros tratamentos, ela permite que o órgão se recupere, ela não faz um tratamento”, completou o cirurgião.

Apesar de ser uma técnica que ganhou visibilidade nos últimos dias, o especialista explica que não se trata de uma “fórmula mágica” para o tratamento da covid-19. “Quando se estabelece a terapia, ela pode dar resultado ou não, e não é todo paciente que pode usar. É necessário avaliar muito bem o caso, é uma decisão tomada em conjunto. Não é uma solução mágica, está sendo usada na covid, mas nem sempre funciona. É preciso deixar isso claro, porque cria uma expectativa muito grande para a família”, ponderou o médico.

Trata-se de uma terapia complexa, que demanda uma equipe multidisciplinar formada por vários especialistas. “Precisamos de uma equipe de cirurgiões, de terapia intensiva, um profissional responsável para fazer o controle da máquina, mais enfermeiros. É uma terapia complexa e uma equipe grande”, finalizou.

Sem tratamento no SUS

No caso de hospitais públicos, o cenário é desolador. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que o procedimento não é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Um dos principais motivos, de acordo com especialistas, seria o alto custo do tratamento. No Brasil, o SUS oferece o tratamento, principalmente, em cirurgias cardíacas, como ponte de safena ou troca de válvula, e sempre em unidades especializadas.

Apesar de ser usada também para cirurgias cardíacas, a máquina também é utilizada para o tratamento de pneumonias graves. Mas esse tipo de uso foi barrado em 2015 pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). A decisão foi publicada no Diário Oficial da União no dia 1 de julho de 2015. De acordo com o Conitec, o tratamento é eficaz, porém, para ser utilizado, são necessários centros especializados que demandam um valor alto.

Foto: Diego Simão/TV Vitória
Profissional da saúde trabalha em UTI exclusiva para tratamento da Covid-19

No relatório apresentado pela Conitec, foram levantados os custos da terapia levando em consideração 3 meses do ano de 2012. Foram considerados os custos dos insumos necessários, sem levar em conta os custos com a equipe médica. O levantamento foi feito pelo núcleo de avaliação de tecnologias do ministério da saúde, do grupo de incorporação tecnológica do Instituto do coração de São Paulo e do Ministério da Saúde.

De acordo com o relatório, o sistema de oxigenação extracorpórea montado, ou seja, o aparelho para realizar a ECMO, custa em média, quatorze mil reais a unidade. A cânula usada para drenagem do sangue, passa da casa dos dois mil reais. Preço similar aos da cânula usada para devolver o sangue ao corpo do paciente.

No relatório, o custo individual de um paciente grave que precisa da ECMO é estimado em R$ 52.241,72, com 22 dias de internação, sendo 14 dias na UTI.


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