Saúde

Orlistate: como funciona e quais os riscos de remédio para perder gordura

Apesar de não ser necessário receita médica para comprar o medicamento, o uso indiscriminado pode ser perigoso para a saúde

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Freepik - @pressfoto

Usado para o tratamento da obesidade, o Orlistate é considerado um aliado antigo no combate ao problema que, segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2023, cresce exponencialmente. No Brasil, a estimativa é de que quase a metade da população adulta (41%) estará convivendo com a doença em 2035, ou seja, dentro de 12 anos.

O medicamento atua reduzindo a absorção no intestino de até 30% das gorduras ingeridas e é exatamente por esse motivo que auxilia na perda de peso.  

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Apesar de não ser necessário receita médica para comprar o medicamento nas farmácias e drogarias, seu uso indiscriminado pode ser perigoso para a saúde. Isso é o que afirma a endocrinologista, Amanda Araújo.

Antes é preciso explicar que o Orlistate é considerado um dos medicamentos mais seguros para auxiliar o emagrecimento, segundo a especialista. Principalmente no ponto de vista psiquiátrico e cardiovascular, no caso do paciente apresentar algum tipo de contraindicação. 

Amanda disse ainda que é importante lembrar que o principal efeito colateral do fármaco é a diarreia e se o paciente não for orientado corretamente, pode apresentar distensão abdominal.

"Mas o que as vezes as pessoas não falam tanto, quando o assunto é o Orlistate, é sobre a absorção das vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Durante o tratamento pode haver uma diminuição da absorção dessas vitaminas que são importantes para o funcionamento do organismo", destacou.

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Além disso, tem a questão relacionada à interação medicamentosa. "Por exemplo, se uma pessoa está fazendo um tratamento com o anticoagulante Varfarina, a administração do Orlistate deve acontecer com cautela. É que essa redução da vitamina K ,no caso, pode aumentar o risco de hemorragias, uma vez que aumenta o efeito do remédio", explicou a médica da Samp.

6 em cada 10 brasileiros estão acima do peso

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 6 em cada 10 brasileiros estão acima do peso. Atualmente, mais de 20% da população brasileira encontra-se obesa. 

Para a especialista ainda fala-se muito pouco sobre a obesidade relacionada à doença. "A maior relação é com a estética. Precisamos levantar a bandeira de que é uma doença grave que leva à uma série de outras doenças". 

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Segundo a endocrinologista e metabologista, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Espírito Santo, Priscila Pessanha Faria, a obesidade está entre os principais fatores de risco que desencadeiam enfermidades como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares. Além disso, engana-se quem acha que esse problema atinge somente adultos.

"Assim como em adultos, o excesso de peso reflete na saúde das crianças. Ele leva à alterações nas taxas de colesterol, glicose, triglicerídeos. Também acelera a puberdade. Nas meninas, pode antecipar a chegada da menstruação levando à perda da estatura final. Sem contar com os problemas comportamentais e transtornos psicológicos. Crianças com sobrepeso tendem a apresentar mais dificuldade de se socializar e ainda sofrem com bullying, pontuou."

Açúcar no cérebro pode ter efeitos semelhantes ao da cocaína

A alimentação e tudo aquilo que cerca esse tema é um ponto de extrema importância. A ingestão exagerada de carboidratos ruins, fast-foods, bebidas ricas em açúcar provoca grandes danos à saúde como um todo.

"O açúcar vicia 20 vezes mais que a cocaína! As crianças apresentam abstinência ao doce, ficam irritadas, oscilam o humor assim como os adultos quando iniciam uma dieta mais restritiva a esses alimentos. Não muda só pelo fato de serem crianças", lembra Priscila.

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O que fazer para evitar a obesidade?

Amanda destaca também que a principal ferramenta no combate à obesidade não são os medicamentos, de maneira isolada, mas sim um conjunto de fatores que culmina na tão desejada por muitos: "mudança de hábitos". 

"Quando se tem obesidade o nosso corpo libera uma série de substâncias inflamatórias que mudam a nossa regulação da fome (citocinas da obesidade). O próprio corpo dificulta essa mudança", lembra.

A também endocrinologista, pós graduada em Nutrologia e Medicina Esportiva, Giselle Lorenzoni, lembra que a obesidade é uma doença complexa e, por isso, seu tratamento não é nada simples. 

"Todo e qualquer tratamento para perda de peso inclui mudança de estilo de vida o que inclui hábitos alimentares saudáveis e prática regular de atividade física. Não existe uma dieta ou alimento ideal, o que deve ser feito é ter um equilíbrio entre os alimentos, com preferencia para alimentos saudáveis como legumes, verduras, frutas, carnes e laticíneos". 

Entre as orientações para evitar a obesidade, Giselle recomenda: evitar alimentos processados, embutidos, gordurosos, excesso de sal e açúcar. Duas outras dicas muito importantes são a hidratação e a regulação do descanso. "Respeitar o relógio biológico e ter boas e tranquilas noites de sono", complementou a especialista.

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E é exatamente por isso que torna-se fundamental associar o déficit calórico, por meio da alimentação mais balanceada, a prática de atividades físicas e a prescrição de fármacos, quando se faz necessário.

"Atividade física, mudanças de hábitos... Perda de peso é deficit calórico! Para perder peso, preciso consumir menos calorias. A chave para o emagrecimento é a alimentação. Fazer um acompanhamento com um nutricionista é muito importante. Claro, quando fazemos exercícios, aceleramos esse gasto calórico. Mas é preciso entender que tudo isso é a longo prazo. O medicamentos entram como uma adjuvante, é preciso combinar tudo", lembra Amanda.

Mais uma vez é necessário lembrar que caso não haja uma mudança de mentalidade, assim que o paciente receber alta da medicação, vai correr o sério de risco de voltar a engordar.

"O tratamento deve ser individualizado. É muito importante o acompanhamento médico. Somente um profissional vai saber qual o melhor remédio, como ele deve ser administrado e isso depende do padrão de cada paciente. Somente o médico vai saber qual o melhor. Automedicação é sempre um risco!", finaliza.

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