VACINAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO

Saúde

Viana Vacinada: como será o estudo inédito no país que vai avaliar a eficácia da meia dose da Astrazeneca

Objetivo do ensaio clínico é avaliar se a aplicação da dose ajustada possui eficácia igual ou superior à da dose padrão contra a covid-19. Vacinação em massa na cidade ocorrerá no dia 13 de junho

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: arquivo/ Tânia Rego/ Agência Brasil

No próximo dia 13, cerca de 35 mil moradores de Viana, com idades entre 18 e 49 anos, deverão ser imunizados com a primeira dose da vacina da Astrazeneca. Entretanto, será aplicada nesse público uma dose ajustada, ou seja, metade da dose que geralmente é aplicada em um indivíduo — a chamada dose padrão.

A ação faz parte de um estudo, coordenado por pesquisadores do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cujo objetivo é avaliar se a aplicação da dose ajustada possui eficácia igual ou superior à da dose padrão.

“A população será acompanhada por um ano para observar a efetividade da vacina produzida pela Fiocruz. Queremos observar, por exemplo, a redução de casos e de mortes por covid-19 após a imunização. Baseado em estudos preliminares, esperamos que a vacina em dose ajustada, ou seja, metade da dose padrão, seja suficiente para produzir anticorpos e células de defesa e reduzir 60% da incidência de covid-19, ao longo de seis meses após a vacinação”, explicou a coordenadora do projeto científico, a médica Valéria Valim.

Ainda segundo a coordenadora, será observada a efetividade vacinal por redução do número de casos, número de mortes, número de internações hospitalares e do número de internações em unidades de terapia intensiva (UTIs). Também será estudada a resposta imune com duas meias doses contra variantes do vírus, bem como a segurança por monitoramento dos eventos adversos pós-vacinação.

Valim destaca ainda que a pesquisa visa comprovar estudos feitos pela própria Astrazeneca. Segundo ela, nas fases 1 e 2 desse estudo, a média de anticorpos produzidos pela meia dose foi semelhante à da dose padrão, em indivíduos de diferentes faixas etárias. 

Foto: Polyana Martinelli

Já nos estudos de fase 3, a eficácia da meia dose foi comparada à dose padrão em cerca de 6 mil indivíduos. Nessa comparação, a eficácia da dose padrão foi de 62% e a da meia dose, de 90%. Já a eficácia geral, combinando os resultados de meia e de dose padrão, foi de 70%.

"Nós temos que considerar que realmente a meia dose é imunogênica, e há uma hipótese de que ela tenha o mesmo desempenho quando aplicada em escalas populacionais", frisou a coordenadora.

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Quem poderá ser vacinado?

Poderão participar do estudo qualquer morador de Viana na faixa etária entre 18 e 49 anos, desde que concorde em participar como voluntário. Para isso, a pessoa precisará assinar um termo de consentimento. 

"A qualquer momento, a pessoa pode desistir de participar do estudo, mesmo se já tiver assinado o termo", frisou Valéria Valim.

Por outro lado, não poderão se candidatar a voluntário as gestantes e os indivíduos que tenham tido uma história de reação alérgica ou reação adversa grave a qualquer vacina, além das pessoas que já estejam em algum grupo prioritário, que já esteja sendo ou já foi vacinado. 

Quem tiver recebido qualquer vacina nos últimos 14 dias, deverá obedecer esse intervalo para realizar um reagendamento. Também não poderá receber a vacina quem tiver algum sintoma gripal. Já para quem foi diagnosticado com a covid-19, deverá esperar um intervalo de 28 dias para ser incluído no estudo.

A coordenadora explicou ainda que, caso o estudo não confirme a hipótese inicial, de que a dose ajustada possui uma eficácia semelhante à dose padrão, os voluntários receberão uma dose de reforça, para complementar a imunização. Essa análise preliminar, segundo Valim, será feita 30 dias após a aplicação da segunda dose. O intervalo entre a primeira e a segunda dose é de 12 semanas.

Valéria Valim também destacou a importância do estudo em meio a um cenário de insuficiência de insumos para produção de vacinas, na escala necessária para contenção de uma pandemia como a da covid-19.

"Essa insuficiência de insumos limita a capacidade de produção e de vacinação em massa da população brasileira e da população mundial. Se nós formos observar, nós ainda temos um grande número de pessoas a serem vacinadas no mundo. Ainda existem mais de 5 bilhões de pessoas que ainda não tiveram acesso à vacina".

A coordenadora ressaltou ainda os benefícios da imunização em massa em Viana, não apenas para os indivíduos, mas para a sociedade como um todo. 

"Quando nós vacinamos uma população inteira, o que vai acontecer com o município de Viana, nós temos um benefício além de o indivíduo estar imunizado. É de nós termos uma quantidade de indivíduos vacinados que bloqueia a transmissão comunitária do vírus. Isso é também muito importante na estratégia de combate à pandemia", frisou.

"Isso também irá oportunizar a revisão dos protocolos de imunização, para que possa haver um alcance rápido da vacina para muitos indivíduos, no Brasil e no mundo", completou.

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