Saúde

Preconceito dificulta tratamento de doenças da mente. Veja a importância de procurar ajuda

Situação afeta vida pessoal e profissional, segundo especialistas, buscar ajuda para lidar com transtornos mentais não é motivo de vergonha, mas sinal de autoconhecimento

Bianca Santana Vailant

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Pexels

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade, como Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), fobias, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), estresse pós-traumático e ataques de pânico. Com a pandemia, os casos de ansiedade aumentaram em 80%, de acordo com levantamento da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O problema fica ainda mais grave quando pensamos na alta carga de preconceito que está ligada às doenças da mente. Mesmo diante de tantas informações, muitas pessoas ainda se recusam a procurar tratamento por vergonha. 

"Historicamente, várias doenças são causadoras de estigma. O estigma e o preconceito em torno das doenças mentais existe amplamente em todo o mundo e pesquisas têm mostrado que a população em geral tem um conhecimento limitado sobre tais doenças.", explicou a psquiatra Nathália Gurgel. 

Vergonha compromete a busca por tratamento

A psicóloga e especialista em gestão de carreira e liderança, Vânia Goulart, explica que buscar ajuda para lidar com transtornos mentais não é motivo de vergonha, mas sinal de autoconhecimento "para conhecer suas emoções e os gatilhos emocionais que armam ou desarmam suas atitudes, possibilitando uma vida mais plena e feliz", explicou.

"Trazendo uma metáfora para facilitar o entendimento, como um celular que ligamos e começamos a usar sem ler o manual, assim são os seres humanos, nascem e vão vivendo e aprendendo com as interações, não possuem manual. No entanto, quando alguém mais experiente te aponta atalhos no celular, você aprende e o utiliza com maior rapidez e destreza. Nessa compreensão, frequentar um consultório psicológico é dar acesso ao autoconhecimento que facilitará seu acesso e maior inteligência emocional", reforçou Vânia.

Tal situação afeta não apenas a vida particular, como também o lado profissional do paciente. "Os trabalhadores que sofrem com essas doenças acabam sentindo, na prática, os malefícios de atitudes preconceituosas, que afetam a qualidade de vida, a forma como eles procuram ajuda médica e a maneira como eles lidam com a situação no trabalho", disse a especialista. 

Apesar do número elevado de casos, o trabalhador muitas vezes não procura o tratamento adequado por receio da repercussão que isso poderá causar diante dos seus gestores e colegas de trabalho. 

De acordo com a psiquiatra, essa semora para procurar o tratamento pode fazer com que a situação do trabalhador piore. "O transtorno mental pode se agravar, se traduzindo em dificuldade de socialização, queda do rendimento do trabalho e dificuldades no âmbito familiar", disse. 

Saúde mental nas empresas

Por esse motivo, é importante que as empresas incluam na sua política de gestão de pessoas a atenção e o cuidado ao portador de transtorno mental, dando apoio e o encaminhamento correto aos casos. 

"Isso vai facilitar a percepção do funcionário de que a empresa lida com essa situação de uma forma adequada, permitindo que ele fale mais abertamente do problema, sem a preocupação de sofrer consequências que possam denegrir sua imagem profissional", disse a psiquiatra. 

Ainda segundo Nathália Gurgel, "quando o funcionário se sente acolhido, isso reflete em uma reabilitação mais rápida e, consequentemente, na melhoria de sua produtividade". 

Falar abertamente sobre o assunto é o melhor tratamento

Em um contexto de pandemia, quando todos estão expostos à morte, a psicóloga Vânia Goulart explicou que "o sistema nervoso trabalha em ritmo acelerado e com muito esforço, preparado para te defender da ameaça iminente". 

É justamente esse nível de tensão, associado ao isolamento social, que tem causado um aumento do nível de estresse e, consequentemente, o adoecimento da saúde mental das pessoas. 

Admitir isso ainda é um tabu, por isso a importância de viver momentos de relaxamento e descompressão, abrindo o espaço para o diálogo e a busca por tratamento e acompanhamento especializado, tanto na esfera pessoal, quanto na profissional. 

"Nessa hora, o mais correto é se abrir, colocar de forma clara e transparente o que está sentindo e procurar logo um especialista, assim como faria se tivesse uma crise de hipertensão, uma labirintite ou qualquer outro sintoma fisiológico. Quanto antes iniciar o seu tratamento mais rápido voltará seu equilíbrio e poderá manter todas suas atividades laborais", disse a psicóloga. 






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