CORONAVÍRUS

Saúde

Especialistas apontam caminhos para o combate à pandemia no segundo semestre

Isolamento dos infectados, testagem em massa e conscientização são medidas que devem ser adotadas para frear a disseminação do novo coronavírus

Foto: Divulgação
Como o lockdown tem se tornado uma opção cada vez menos viável, o ideal seria manter o nível de isolamento social em pelo menos 50%.

Investir em estratégias de vigilância em saúde que possibilitem identificar e isolar rapidamente pessoas com sintomas de covid-19 e seus contatos próximos. Manter as escolas fechadas pelo menos até o fim deste ano. Fazer campanhas para conscientizar a população sobre a necessidade de respeitar medidas de proteção, como uso de máscaras e distanciamento social, até que se tenha uma vacina eficaz. Parar de minimizar a importância da pandemia ou de transmitir a ideia de que o pior já passou. Esses são alguns caminhos para frear a disseminação do novo coronavírus no estado. 

Caminhos possíveis

Como o lockdown tem se tornado uma opção cada vez menos viável, na avaliação de Eduardo Massad, professor e pesquisador da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ideal seria manter o nível de isolamento social em pelo menos 50% até a chegada de uma vacina. 

“Isso é caro, é difícil e ninguém aguenta mais. Mas ao menos é preciso dizer para as pessoas que vamos reabrir aos poucos e que a epidemia não acabou e o pior não passou. Fomos assolados por uma onda de otimismo e há pessoas dizendo que podemos reabrir escolas, shoppings e academias. E tudo isso, ao final do dia, é mentira”, disse Massad. 

Na falta de uma vacina, identificar o mais rapidamente possível os indivíduos infectados, seus contatos próximos e prover os meios necessários para que se mantenham em isolamento total durante ao menos 14 dias é a solução menos custosa e mais eficaz para reduzir o avanço da doença no país, avaliaram os participantes do seminário.

“Depois que o grande incêndio foi amenizado pelas medidas de isolamento social, agora é preciso conter os pequenos focos para evitar que se tornem novamente um incêndio de grandes proporções”, opinou Paulo Inácio Prado, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP). 

Segundo o pesquisador do IB-USP, o Brasil tem o privilégio de poder contar com agentes de saúde que podem atuar de forma efetiva para rastrear infectados e garantir que o isolamento seja cumprido. “É uma rede com capilaridade fora do comum, que atinge até mesmo pequenos municípios. No entanto, falta uma coordenação federal como prevê o pacto do SUS (Sistema Único de Saúde). Os recursos que poderiam ser usados no preparo material e no treinamento dos agentes estão parados no Ministério da Saúde”, afirmou.

Beatriz Kira, que é pesquisadora da Escola de Governo da Universidade de Oxford (Reino Unido), apresentou dados de uma pesquisa conduzida por seu grupo mostrando que a maior parte da população brasileira sabe reconhecer os sintomas da covid-19 e tem consciência de que a doença é mais grave do que uma gripe. No entanto, somente 44% dos entrevistados demonstraram entender como deveria ser o autoisolamento caso venham a contrair o vírus.

“Muitos ainda não entenderam que autoisolamento significa ficar sem qualquer contato com o mundo exterior durante todo o período infeccioso. Acham que podem sair para ir à farmácia ou ao supermercado, por exemplo. Além de aumentar a testagem, portanto, me parece necessário melhorar a qualidade da informação pública que é dada às pessoas”, disse.

A pesquisa feita em Oxford mostrou ainda que a população brasileira respondeu bem às políticas públicas implementadas para combater a epidemia – sobretudo por governadores e prefeitos – e de fato houve uma mudança no comportamento da sociedade a partir de março.

“Isso reforça o papel crucial dos formuladores de políticas públicas, que precisam evoluir conforme mudam os dados epidemiológicos, sempre com foco nas populações mais vulneráveis. É mais fácil desenhar políticas para quem pode trabalhar de casa ou lavar com frequência as mãos. Para os mais pobres é muito mais complexo e os governantes devem estar na linha de frente promovendo essas políticas públicas”, afirmou Kira.

FONTE: Karina Toledo da Agência FAPESP

 

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