Saúde

Pacientes com doenças crônicas retomam tratamentos após pico da pandemia no Espírito Santo

Muita gente deixou de procurar unidades de saúde para o diagnóstico de doenças. Agora, com a expectativa de retomada, hospitais já ampliam a capacidade de atendimento

Iures Wagmaker

Redação Folha Vitória
Foto: TV Vitória
O senhor Manoel sentiu dores fortes no peito e foi logo atrás de socorro, atitude que salvou sua vida

A pandemia do novo coronavírus impactou a vida das pessoas de diversas maneiras. O medo de uma doença ainda tão desconhecida paralisou muita gente, e fez deixar de lado a própria saúde. Muitos sintomas foram ignorados, tudo por conta do medo de procurar uma unidade de saúde e acabar contaminado com o tão temido vírus.

Nos primeiros meses da pandemia, enquanto o número de casos da covid-19 aumentava, um levantamento realizado pelo Instituto Oncoguia, que apoia pessoas com câncer, apontou que 43% dos mais de 560 entrevistados relataram que tiveram o tratamento afetado durante a pandemia. São pacientes de quimioterapia, hormonioterapia, radioterapia, imunoterapia e outros tratamentos.

Estimativas das sociedades brasileiras de Patologia e Cirurgia Oncológica apontam que nos primeiros meses da pandemia no Brasil, entre março e maio, entre 50 mil e 90 mil diagnósticos deixaram de ser realizados entre os brasileiros, além de uma redução de 70% no número de cirurgias de câncer. Para se ter uma ideia, o Instituto Nacional do Câncer tem projeção de 600 mil novos casos da doença por ano. Diante do número, pode-se considerar que a quantidade de pessoas que ainda não foram diagnosticadas é muito maior.

O fato não é isolado no Brasil. De acordo com um estudo da University College London, publicado pelo The British Medical Journal, do Reino Unido, houve uma queda de 76% nos encaminhamentos de urgência de pessoas com sintomas suspeitos de câncer. Pesquisadores analisaram dados de oito hospitais, que também apontaram a redução de cerca de 60% nos agendamentos de pacientes em tratamento, se comparado com o período anterior à pandemia.

O tratamento de muitas doenças só é eficaz se o atendimento for precoce. O diretor executivo do Hospital Meridional Fábio Frank ressalta que diante do risco, é muito importante a buscar por atendimento logo que notar os primeiros sintomas.

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Fábio Frank
 "O maior perigo é a 'espera' dos sintomas graves. Esse comportamento é uma armadilha, pois com o isolamento, as atividades diminuem e a demanda do coração também, passando a falsa sensação de que está tudo bem. Como o isolamento social, houve casos de pessoas ganhando peso, sem praticar atividades físicas, estressadas com o isolamento e isso funciona como uma bomba relógio. Então mesmo o paciente que não tenha sintomas, mas que é consciente que tem doenças crônicas, ele precisa retornar aos consultórios para fazer o acompanhamento ou buscar diagnóstico de sintomas existentes", explicou Frank.

E foi o diagnóstico precoce que salvou a vida do senhor Manoel Aladir Jaques Moraes. Aos 70 anos, ele já passou por problemas no fígado e venceu um aneurisma. Neste ano, em plena pandemia, ele descobriu que estava com insuficiência cardíaca. Segundo o paciente, ele sentiu fortes dores no peito e logo buscou atendimento médico. "Senti uma dor muito forte no peito e resolvi procurar recurso. Se fosse uma dorzinha, a gente administrava, tomava um remédio. Mas foi muito forte, daí eu para procurei o hospital", disse.

A diretora médica do Hospital Meridional e infectologista, Lia Canedo, explica que a percepção da queda na procura por atendimentos fez com que as unidades de saúde se preparassem adequadamente para receber os pacientes, por isso não há motivos para temer a covid-19 em uma unidade de saúde. 

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Lia Canedo

"No nosso feriado de 7 de Setembro, por exemplo, vimos praias, parques e supermercados cheios, com aglomeração. O risco é muito maior do que vir à uma unidade de Saúde. As unidades de saúde se prepararam com protocolos de segurança. Mesmo que a gente tenha paciente covid positivos, faremos o bloqueio. Eu não teria medo de vir à unidade, sem dúvida", destacou.

Lia Canedo - infectologista

Não Existe Só Covid

Diante da necessidade do diagnóstico no início da doença e da grande queda na procura por atendimento médico, o Conselho Regional de Medicina (CRM) lançou a campanha ‘Não Existe Só Covid”.

A campanha Vá ao médico se perceber algo diferente com sua saúde. Não existe só Covid-19, foi trabalhada nas redes sociais do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo. “Com medo do coronavírus, as pessoas estão ficando mais relapsas com a própria saúde, quando o assunto remete às doenças que não envolvem o quadro respiratório provocado pela Covid-19”, informou o Dr. Celso Murad, presidente do CRM-ES.

 A conselheira do CRM do Espírito Santo, a médica, Marta Zortea, explica a campanha:

O CRM-ES ainda lista orientações aos médicos e clínicas no atendimento aos pacientes:

Para consultas

Para cirurgias


Ampliação de leitos e ala oncológica

Pensando em cuidar cada vez melhor dos pacientes, o Hospital Meridional Serra deu início ao processo de expansão, tanto física, quanto nos atendimentos na unidade. Integrado à Rede Meridional, o local já concluiu a expansão de 60 novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva, com previsão de totalizar 170 leitos, somados aos de enfermaria.

O hospital Meridional Serra é referência em alta complexidade na região e conta com pronto-socorro 24 horas com pediatra, obstetra, cardiologista, neurologista, entre outras especialidades, além de unidade geriátrica, UTI geral, neonatal e cardiovascular. Serviço completo de cardiologia (ambulatório, hemodinâmica, UTI e Centro Cirúrgico) e mais. Segundo o diretor executivo da unidade, Fabio Frank, além dos novos leitos, o hospital contará com novas recepções de pacientes, pronto-socorro e eletiva.

 "Nesse momento da covid, tivemos uma baixa do paciente, ele estava aguardando o momento mais seguro. Agora estamos colocando a disposição desse paciente uma estrutura muito mais robusta, que vai dar mais segurança neste retorno. Entendemos que esse retorno é gradativo daqueles pacientes que não eram de urgência. Isso volta de maneira natural. Quando pensamos em pacientes oncológicos, isso é um tratamento que deve ter uma continuidade. Nessa nova ala, o paciente da Serra vai se sentir muito mais atendido”, afirma.

O atendimento oncológico na unidade também já foi iniciado, A previsão é que até o final de 2020 seja entregue uma nova ala exclusiva para esse fim. Após a inauguração, os atendimentos da área oncológica contarão com ambulatórios, área de diagnóstico, linhas de infusão e tratamento, entre outros. O hospital também terá melhorias significativas em estrutura nesse setor para conseguir atender aos pacientes com câncer do início do diagnóstico ao fim do tratamento.

Frank ainda destaca que, além do tratamento oncológico, a unidade é referência em outras especialidades. "O hospital Meridional Serra é referência em alta complexidade na região e conta com pronto-socorro 24 horas com pediatra, obstetra, cardiologista, neurologista, entre outras especialidades, além de unidade geriátrica, UTI geral, neonatal e cardiovascular. A instituição conta também com serviço completo de cardiologia", disse.

Geração de emprego

Os investimentos em novos leitos e oncologia do Hospital Meridional Serra, além de aumentar a capacidade de atendimento aos pacientes, ainda devem gerar uma média de 50 empregos em áreas assistenciais e administrativas como Técnico de Enfermagem, Enfermeiros, recepcionistas, entre outras funções.