ômega-3
Imagem: Canva

Muito se fala sobre os benefícios do ômega-3 para o coração. Afinal, quem nunca ouviu que cápsulas de óleo de peixe podem “limpar as artérias” ou “prevenir infartos”? Mas a medicina baseada em evidências exige mais que promessas.

Precisamos olhar para o que os grandes estudos e diretrizes mostram hoje. E a verdade é: nem todo mundo precisa suplementar.

O ômega-3 é uma gordura saudável encontrada principalmente em peixes de águas frias e profundas, como salmão, sardinha e cavala. Seus principais componentes — EPA e DHA — têm efeitos biológicos importantes: reduzem os triglicerídeos, podem modular a inflamação e têm leve ação anticoagulante.

Mas será que isso se traduz em proteção real?

Um dos ensaios clínicos mais importantes, o REDUCE-IT, testou uma forma purificada de EPA isolado sem DHA (icosapent etílico) em dose alta (4 g/dia) em pessoas com risco cardiovascular elevado e triglicerídeos altos, mesmo usando estatinas. O resultado foi impressionante: redução de 25% no risco de infarto, AVC e morte cardiovascular.

Outro estudo, o VITAL, avaliou a suplementação com 1 g/dia de EPA+DHA em mais de 25 mil pessoas. O benefício foi mais modesto: uma discreta redução de infartos, especialmente em quem comia pouco peixe.

Em contrapartida, outros ensaios, como o STRENGTH, não mostraram benefícios significativos do ômega-3 sobre o risco cardiovascular, levantando dúvidas sobre a eficácia de algumas formulações.

E os riscos? Eles existem!

Nos últimos anos, surgiram alertas importantes. Estudos recentes mostram que o uso de doses elevadas de ômega-3, a partir de 1 grama, pode aumentar o risco de fibrilação atrial, uma arritmia cardíaca que pode levar a AVC. Além disso, há maior risco de sangramentos em quem já usa medicamentos anticoagulantes.

Por isso, diretrizes internacionais e brasileiras são claras: ômega-3 pode ser indicado em pessoas com triglicerídeos muito elevados (acima de 500 mg/dL), como parte do tratamento.

Em pacientes com risco cardiovascular aumentado, já em uso de estatinas, e com triglicerídeos persistentemente elevados — nesse caso, principalmente com o EPA puro (icosapent etílico), que ainda não está disponível no Brasil.

Quando evitar ou usar com cautela?

Em pessoas saudáveis, sem fatores de risco, não há evidência de benefício em suplementar. Doses elevadas devem ser evitadas sem acompanhamento médico, pelo risco de arritmias e sangramentos.

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A boa notícia é que duas porções semanais de peixe gorduroso já fornecem quantidade adequada de ômega-3, com benefícios comprovados e segurança.

Nem todo mundo deve suplementar ômega-3. O que é bom para uns pode ser ineficaz — ou até arriscado — para outros. Como sempre, o melhor caminho é individualizar. E, acima de tudo, manter hábitos saudáveis no prato, nos pés e na cabeça: alimentação equilibrada, atividade física e manejo do estresse ainda são os pilares da saúde do coração.

Dra. Tatiane Mascarenhas Santiago Emerich

Colunista

Médica pela Escola de Medicina da Santa Casa de Vitória. Residência em Clínica médica pela Santa Casa de São Paulo. Residência em cardiologia e ecocardiografia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo. Titulo de especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Título em área de atuação em Ecocaridografia pelo Departamento de Imagem Cardiovascular - SBC. Presidente da SBC ES 2020/21. Caridologista e Ecocardiografista do Centrocor e CDC. @tatianeemerich

Médica pela Escola de Medicina da Santa Casa de Vitória. Residência em Clínica médica pela Santa Casa de São Paulo. Residência em cardiologia e ecocardiografia pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo. Titulo de especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Título em área de atuação em Ecocaridografia pelo Departamento de Imagem Cardiovascular - SBC. Presidente da SBC ES 2020/21. Caridologista e Ecocardiografista do Centrocor e CDC. @tatianeemerich