Entre as responsabilidades profissionais e a necessidade de estar presente para a família, muitos pais, que representam papéis ativos na vida dos seus filhos, acabam negligenciando algo essencial: a própria saúde.
A rotina acelerada leva à adoção de hábitos prejudiciais, como a má alimentação, o sedentarismo e a privação de sono. Este cenário favorece o surgimento de problemas de saúde como o estresse crônico e as doenças cardiovasculares.
No Dia dos Pais, especialistas apontam os impactos da rotina atarefada e dão algumas dicas para garantir mais saúde para acompanhar o crescimento dos filhos.
A cobrança para “dar conta de tudo”
Com o nascimento de um filho, novas funções acabam sendo adicionadas ao dia a dia, o que pode gerar uma sobrecarga e exigir adaptações.
Segundo a psicóloga e doutora em psicologia Mariana Rambaldi, ainda vivemos em uma cultura que cobra dos homens uma postura de “dar conta”, de serem provedores, fortes e autossuficientes, o que pode ser prejudicial à sua saúde geral.
Quando esse homem também se envolve ativamente na criação dos filhos, surgem novas camadas de exigência. A sobrecarga e a falta de tempo para si acabam gerando um ciclo de estresse, onde o autocuidado é deixado de lado. Isso pode levar ao esgotamento emocional, quadros de ansiedade, depressão e até sintomas físicos.
Mariana Rambaldi, coordenadora do curso de Psicologia do Unesc
A especialista ainda destaca que pais que acumulam muitas funções e os que têm um padrão de pensamento mais rígido, com autocobrança elevada e perfeccionismo, são mais vulneráveis ao estresse. “Frases como ‘não posso falhar’ ou ‘se eu descansar, estou sendo fraco’ são comuns nesses casos e acabam mantendo o estresse ativo”, explicou.
Apesar da paternidade representar alegria e até mesmo ser aguardada por muitos homens, a nova rotina pode desencadear um quadro de estresse crônico.
Paternidade e estresse crônico
O estresse crônico, diferente do agudo, é contínuo e seus sintomas impactam diversas áreas da vida, incluindo a relação com os filhos. Rambaldi explica que o estresse acumulado transforma o ambiente familiar num espaço de tensão, afetando a convivência.
“O pai pode ficar mais reativo, impaciente ou emocionalmente ausente. Isso afeta diretamente o vínculo com os filhos, que percebem essa desconexão. Também impacta a relação com a parceira ou com outros familiares, que passam a se sentir sobrecarregados ou negligenciados“, afirmou a psicóloga.
Ela ainda alerta para sinais que não podem ser ignorados como irritabilidade frequente, dificuldade para relaxar, sensação constante de sobrecarga, insônia ou sono agitado, lapsos de memória e perda de prazer em atividades que antes eram prazerosas,
Riscos do estresse para o coração
Mas não para por aí. O estresse crônico e a autocobrança constante são verdadeiros agressores silenciosos do coração, segundo o cardiologista Rafael Altoé.
Na minha prática, vejo o quanto a pressão diária, de ser um bom profissional, um pai presente e de não falhar pode se acumular até gerar impactos concretos na saúde cardiovascular, elevando o risco de hipertensão, arritmias e infarto.
Rafael Altoé, cardiologista da Cardiodiagnóstico
O especialista explica que o cuidado com o coração envolve diversos aspectos, incluindo o emocional. Para ele, é essencial entender a relação entre a saúde mental e a saúde cardiovascular.
“O coração sente o peso das nossas emoções e das batalhas internas, por isso precisamos olhar para ele não só como um órgão, mas como reflexo da nossa qualidade de vida”, completou.
Dicas para cuidar da saúde
Ambos os especialistas destacam que só é possível oferecer o melhor de si aos filhos estando saudável. Confira as principais dicas:
Atividades breves e regulares
Quando o tempo é curto e cansaço é inevitável, Altoé explica que o segredo está nas atividades breves, porém, regulares.
Caminhadas, exercícios em casa, subir escadas, já fazem uma grande diferença. Aqueles mais condicionados podem lançar mão de treinos mais intensos e curtos.
Tempo de conexão familiar
Entre um compromisso e outro, é importante encaixar momentos de conexão com a família, indo além das tarefas diárias. Além de fundamentais para a criação dos laços afetivos entre pai e filho, fazem grande diferença para a saúde como um todo.
“Quando estou com minha filha, desconectado das cobranças externas, sinto que meu coração se renova. Recomendo que todos encontrem esses espaços de autocuidado e conexão familiar, por menores que sejam, o mais importante é estar presente com corpo e mente”, destacou o cardiologista.
Autocuidado
Tão importante quando o tempo com a família é o tempo para o autocuidado. Praticar terapia, ter hobbies ou buscar momentos de silêncio são atitudes que ajudam a reduzir o estresse e trazem equilíbrio emocional.
Aprender que nem sempre é possível dar conta de tudo
Para Mariana Rambaldi é essencial aprender a questionar pensamentos de autocobrança.
Estabelecer prioridades realistas, programar pausas curtas durante o dia para descanso ou respiração consciente e delegar tarefas ajudam neste processo e evitam a sobrecarga.
Cuidar de si também é cuidar da família
Apesar da rotina atarefada e das preocupações naturais que envolvem a paternidade, cuidar da saúde precisa fazer parte das prioridades.
Além de estar presente em momentos importantes, estar saudável também é dar exemplo aos filhos e uma forma de cuidar da família.
Faço questão de priorizar minha alimentação, meu sono, meu movimento físico. Não por vaidade, mas porque sei que minha filha merece um pai inteiro, presente e saudável”, finalizou o cardiologista Rafael Altoé.