Foto: IA/Canva
Foto: IA/Canva

Com a chegada do Natal é normal andar pelas ruas e lojas e encontrar um senhorzinho vestido simpático com barba branca e vestindo roupa vermelha. Os pais já começam a pensar nas fotos dos filhos e de como eles ficarão felizes com Papai Noel.

Essa tradicional figura natalina parece ser tudo o que a criançada ama, um homem que distribui doces e presentes, porém não é toda a criança que fica animada ao ficar próxima do bom velhinho, pelo contrário, algumas choram, outras gritam e imploram para não chegar perto.

Esse medo, que pode parecer exagerado, faz muito sentido para a mente ainda em desenvolvimento das crianças e pode, inclusive, continuar até a vida adulta. Existe um nome para esse pavor de pessoas fantasiadas ou mascaradas: masclofobia.

De acordo com o psicólogo e professor do Unesc, Alexandre Vieira Brito, esse medo é uma resposta ao encontro do estranho, especialmente porque o Papai Noel é uma figura que mistura traços humanos e fantasiosos, ou seja, familiar e desconhecido ao mesmo tempo.

Dessa forma, ainda segundo Brito, a figura pode provocar angústia em crianças, porque é alguém que parece humano, mas não é reconhecido como tal.

Do ponto de vista psicanalítico, trata-se do encontro com aquilo que Freud chamou de “unheimlich”, o inquietante, algo que deveria ser familiar, mas aparece de forma “distorcida”. Algumas pessoas ainda usam figuras folclóricas para colocar medo nas crianças, enquanto outras ensinam que não deve se falar com estranhos, e o Papai Noel não é menos estranho.

Alexandre Vieira Brito.


O psicólogo destaca que esse sentimento é bastante comum e esperado e costuma aparecer entre os 2 e 5 anos. Ele destaca que a infância é um período em que o sujeito está construindo seu lugar no mundo da linguagem e algumas figuras culturais, como o “bom velhinho” podem não ser tão acolhedores.

Brito afirma que esse medo é bastante similar ao medo de palhaços, por exemplo, por serem figuras que encenam excessos, como de voz, gestos e roupas e que podem ser vistos como invasivos.

A masclofobia só deixa de ser normal quando se torna persistente, intenso e começa a interferir na vida da criança. Nesses casos, o ideal é procurar ajuda profissional.

Como “combater” a masclofobia?

O psicólogo e professor frisa que é importante não forçar a criança a tirar uma foto ou a sentar no colo do Papai Noel, pois isso pode transformar a experiência é uma forma de invasão.

“É desrespeitoso e violento. Do ponto de vista psíquico, isso pode reforçar sentimentos de impotência e desamparo. A criança aprende, ali, que seus sinais de recusa não são levados em conta, o que pode ser mais grave do que o medo em si.”

Segundo ele, quando o medo aparecer, o ideal é acolher o sentimento da criança. Ao respeitar os limites, os pais e responsáveis estão mostrando cuidado e construindo confiança.

Brito também reforça que a aproximação entre a criança e o Papai Noel deve ser gradual, apresentando imagens e histórias, ou até mesmo mostrando a figura natalina de longe.

“O essencial é que a criança tenha controle sobre o ritmo do encontro. Quando há respeito ao tempo da criança, o medo tende a se transformar ou simplesmente perder força.”

Além disso, a masclofobia tende a desaparecer naturalmente, uma vez que a mente infantil passa a “ampliar seu repertório simbólico e encontrar modos próprios de dar sentido às experiências culturais”.

Quando há escuta, respeito e acolhimento, aquilo que antes causava angústia pode ser ressignificado ou simplesmente deixado para trás.

Alexandre Vieira Brito.

Adultos podem ter medo do Papai Noel?

De acordo com Brito, o medo pode persistir em adultos, especialmente quando o encontro com o Papai Noel foi de forma invasiva ou violenta. Porém, não se trata de pavor apenas da figura natalina, mas da situação de não ser ouvido ou respeitado.

O psicólogo observa que muitos desconfortos vistos como “irracionais” têm relação com experiências que aconteceram na infância.

“Quando uma vivência não encontra espaço para simbolização, ela pode permanecer e reaparecer sob a forma de aversão, ansiedade ou mal-estar na vida adulta.”

*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos

Ana Piontkowski *

Estagiária

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.