A recuperação de cirurgia, especialmente daquelas que envolvem a boca e o rosto, pode ser desafiadora, mas ao cuidar também da mente, aumentam-se as hipóteses de uma recuperação mais rápida e tranquila.
LEIA TAMBÉM | Maio Laranja: proteger é um ato de amor e responsabilidade
O nosso estado emocional — como pensamos e sentimos — também pode ter um grande impacto no processo de recuperação. Por isso, além dos medicamentos e cuidados médicos, vale a pena dar atenção às emoções e ao bem-estar mental.
O otimismo na recuperação de cirurgia
Estar otimista, ou seja, acreditar que tudo vai correr bem, pode fazer com que o corpo responda melhor à cirurgia. Pessoas otimistas geralmente sentem menos dor, têm menos inflamações e recuperam mais rapidamente.
Já o pensamento positivo ajuda-nos a lidar melhor com o stress e a manter a calma, o que também é importante para que o corpo se recupere de forma mais eficiente.
Diversos estudos na área da psicologia da saúde têm evidenciado a influência de fatores psicológicos no processo de recuperação cirúrgica. Entre esses, o otimismo e o pensamento positivo destacam-se como variáveis importantes na modulação da dor, na adesão ao tratamento e na aceleração do processo de cicatrização.
Resultado na cirurgia bucomaxilofacial
Em particular, na cirurgia bucomaxilofacial — que pode incluir procedimentos complexos como a correção de deformidades faciais, traumas ou extrações cirúrgicas — a recuperação está frequentemente associada a desconfortos significativos, sendo altamente impactada pelo estado emocional do paciente.
Um estudo publicado no Journal of Behavioral Medicine (The physical and psychosocial predictors of Adolescents’ recovery from oral surgery – DOI: 10.1007/BF01857662) investigou a recuperação de adolescentes após a extração de terceiros molares (dentes do siso).
Os resultados indicaram que expectativas positivas sobre a recuperação e estilos de enfrentamento eficazes estavam associados a uma melhor recuperação, independentemente da extensão da cirurgia.
Especificamente, adolescentes com expectativas mais positivas e cujos pais antecipavam respostas de incentivo à recuperação apresentaram melhor abertura bucal pós-operatória e menor incapacidade funcional.
Variações psicológicas impactam no pós-operatório
Outro estudo avaliou os efeitos de fatores psicológicos na recuperação pós-cirúrgica, controlando o impacto do trauma físico da cirurgia. Os resultados mostraram que variáveis psicológicas, como ansiedade e expectativas sobre a recuperação, influenciaram significativamente a dor pós-operatória, a interferência nas funções normais, o inchaço e a cicatrização.
Esses efeitos foram em grande parte independentes do trauma cirúrgico, sugerindo que intervenções para melhorar o estado psicológico pré-operatório podem beneficiar a recuperação. (The effects of psychological factors and physical trauma on recovery from oral surgery – DOI: 10.1007/BF00845053).
O otimismo, definido como a expectativa generalizada de que eventos positivos ocorrerão no futuro, tem sido correlacionado com níveis mais baixos de ansiedade pré-operatória, melhor resposta imunológica e menor percepção de dor no pós-operatório. Estudos demonstram que pacientes otimistas tendem a apresentar níveis mais baixos de marcadores inflamatórios, como a proteína C-reativa, e uma recuperação mais eficiente do tecido lesionado.
Pensamento positivo é uma ferramenta de enfrentamento
O pensamento positivo, por sua vez, atua como uma ferramenta de enfrentamento, auxiliando o paciente a reinterpretar situações potencialmente estressantes de maneira construtiva, o que pode reduzir a produção de cortisol e melhorar a qualidade do sono — fatores essenciais na recuperação cirúrgica.
Na cirurgia bucomaxilofacial, em particular, o estado psicológico do paciente pode afetar diretamente sua cooperação com o plano terapêutico, a ingestão alimentar no pós-operatório e a percepção estética dos resultados. Intervenções baseadas em psicoeducação, mindfulness e técnicas cognitivas comportamentais podem promover uma atitude mais otimista e positiva, com impacto direto na qualidade de vida do paciente durante o processo de reabilitação.
Portanto, promover uma abordagem multidisciplinar que integre aspectos psicológicos no acompanhamento de pacientes submetidos a cirurgias bucomaxilofaciais não só melhora os desfechos clínicos, como também reforça a importância do cuidado integral em saúde.
O que pode ajudar na recuperação?
- Preparação emocional antes da cirurgia: Saber o que esperar e falar sobre os nossos medos com profissionais de saúde pode ajudar a reduzir a ansiedade.
- Práticas como meditação ou respiração profunda: São simples e ajudam a controlar o nervosismo e a focar no momento presente.
- Pensar de forma positiva: Tentar mudar pensamentos negativos por outros mais otimistas pode fazer uma grande diferença. Por exemplo, trocar “Vai doer muito” por “Estou a fazer algo importante para melhorar a minha saúde”.
- Ter o apoio da família e dos amigos: Sentir-se acompanhado e compreendido ajuda a manter o ânimo e a seguir melhor os cuidados indicados pelo médico.
- Ter objetivos pequenos e realistas na recuperação: Celebrar cada passo dado, mesmo os pequenos, mantém a motivação em alta.
Integrar essas abordagens psicológicas no cuidado pós-operatório, especialmente em cirurgias bucomaxilofaciais, pode melhorar significativamente os resultados clínicos e a qualidade de vida dos pacientes.