Pensamento positivo e recuperação de cirurgia
Foto: Freepik

A recuperação de cirurgia, especialmente daquelas que envolvem a boca e o rosto, pode ser desafiadora, mas ao cuidar também da mente, aumentam-se as hipóteses de uma recuperação mais rápida e tranquila.

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O nosso estado emocional — como pensamos e sentimos — também pode ter um grande impacto no processo de recuperação. Por isso, além dos medicamentos e cuidados médicos, vale a pena dar atenção às emoções e ao bem-estar mental.

O otimismo na recuperação de cirurgia

Estar otimista, ou seja, acreditar que tudo vai correr bem, pode fazer com que o corpo responda melhor à cirurgia. Pessoas otimistas geralmente sentem menos dor, têm menos inflamações e recuperam mais rapidamente.

Já o pensamento positivo ajuda-nos a lidar melhor com o stress e a manter a calma, o que também é importante para que o corpo se recupere de forma mais eficiente.

Diversos estudos na área da psicologia da saúde têm evidenciado a influência de fatores psicológicos no processo de recuperação cirúrgica. Entre esses, o otimismo e o pensamento positivo destacam-se como variáveis importantes na modulação da dor, na adesão ao tratamento e na aceleração do processo de cicatrização.

Resultado na cirurgia bucomaxilofacial

bucomaxilofacial
O pensamento positivo pode auxilir na recuperação de cirurgia bucomaxilofacial (Reprodução: Freepik)

Em particular, na cirurgia bucomaxilofacial — que pode incluir procedimentos complexos como a correção de deformidades faciais, traumas ou extrações cirúrgicas — a recuperação está frequentemente associada a desconfortos significativos, sendo altamente impactada pelo estado emocional do paciente.

Um estudo publicado no Journal of Behavioral Medicine (The physical and psychosocial predictors of Adolescents’ recovery from oral surgery – DOI: 10.1007/BF01857662) investigou a recuperação de adolescentes após a extração de terceiros molares (dentes do siso).

Os resultados indicaram que expectativas positivas sobre a recuperação e estilos de enfrentamento eficazes estavam associados a uma melhor recuperação, independentemente da extensão da cirurgia.

Especificamente, adolescentes com expectativas mais positivas e cujos pais antecipavam respostas de incentivo à recuperação apresentaram melhor abertura bucal pós-operatória e menor incapacidade funcional.

Variações psicológicas impactam no pós-operatório

Outro estudo avaliou os efeitos de fatores psicológicos na recuperação pós-cirúrgica, controlando o impacto do trauma físico da cirurgia. Os resultados mostraram que variáveis psicológicas, como ansiedade e expectativas sobre a recuperação, influenciaram significativamente a dor pós-operatória, a interferência nas funções normais, o inchaço e a cicatrização.

Esses efeitos foram em grande parte independentes do trauma cirúrgico, sugerindo que intervenções para melhorar o estado psicológico pré-operatório podem beneficiar a recuperação. (The effects of psychological factors and physical trauma on recovery from oral surgery – DOI: 10.1007/BF00845053).

O otimismo, definido como a expectativa generalizada de que eventos positivos ocorrerão no futuro, tem sido correlacionado com níveis mais baixos de ansiedade pré-operatória, melhor resposta imunológica e menor percepção de dor no pós-operatório. Estudos demonstram que pacientes otimistas tendem a apresentar níveis mais baixos de marcadores inflamatórios, como a proteína C-reativa, e uma recuperação mais eficiente do tecido lesionado.

Pensamento positivo é uma ferramenta de enfrentamento

O pensamento positivo, por sua vez, atua como uma ferramenta de enfrentamento, auxiliando o paciente a reinterpretar situações potencialmente estressantes de maneira construtiva, o que pode reduzir a produção de cortisol e melhorar a qualidade do sono — fatores essenciais na recuperação cirúrgica.

Na cirurgia bucomaxilofacial, em particular, o estado psicológico do paciente pode afetar diretamente sua cooperação com o plano terapêutico, a ingestão alimentar no pós-operatório e a percepção estética dos resultados. Intervenções baseadas em psicoeducação, mindfulness e técnicas cognitivas comportamentais podem promover uma atitude mais otimista e positiva, com impacto direto na qualidade de vida do paciente durante o processo de reabilitação.

Portanto, promover uma abordagem multidisciplinar que integre aspectos psicológicos no acompanhamento de pacientes submetidos a cirurgias bucomaxilofaciais não só melhora os desfechos clínicos, como também reforça a importância do cuidado integral em saúde.

O que pode ajudar na recuperação?

  1. Preparação emocional antes da cirurgia: Saber o que esperar e falar sobre os nossos medos com profissionais de saúde pode ajudar a reduzir a ansiedade.
  2. Práticas como meditação ou respiração profunda: São simples e ajudam a controlar o nervosismo e a focar no momento presente.
  3. Pensar de forma positiva: Tentar mudar pensamentos negativos por outros mais otimistas pode fazer uma grande diferença. Por exemplo, trocar “Vai doer muito” por “Estou a fazer algo importante para melhorar a minha saúde”.
  4. Ter o apoio da família e dos amigos: Sentir-se acompanhado e compreendido ajuda a manter o ânimo e a seguir melhor os cuidados indicados pelo médico.
  5. Ter objetivos pequenos e realistas na recuperação: Celebrar cada passo dado, mesmo os pequenos, mantém a motivação em alta.

Integrar essas abordagens psicológicas no cuidado pós-operatório, especialmente em cirurgias bucomaxilofaciais, pode melhorar significativamente os resultados clínicos e a qualidade de vida dos pacientes.

Dra. Martha Salim

Colunista

Doutorado em Cirurgia Bucomaxilofacial (UNESP), Mestrado em Patologia Bucodental (UFF), Especialização em Cirurgia Bucomaxilofacial (UERJ), Capacitação em Odontologia Do Sono, Capacitação em Sedação com ÓXido Nitroso, Graduação em Odontologia (UFES), Atua como professora de Cirurgia Bucomaxilofacial da UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Revisora Científica das Revistas: Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery (JBCOMS) e Brazilian Dental Science (BDS), Autora dos livros "Cirurgia Bucomaxilofacial: diagnóstico e tratamento" (1 e 2 edições), Anestesia Local e Geral na Prática Odontológica, além de colaborar com 38 capítulos de livros e artigos científicos publicados. @dramarthasalim

Doutorado em Cirurgia Bucomaxilofacial (UNESP), Mestrado em Patologia Bucodental (UFF), Especialização em Cirurgia Bucomaxilofacial (UERJ), Capacitação em Odontologia Do Sono, Capacitação em Sedação com ÓXido Nitroso, Graduação em Odontologia (UFES), Atua como professora de Cirurgia Bucomaxilofacial da UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Revisora Científica das Revistas: Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery (JBCOMS) e Brazilian Dental Science (BDS), Autora dos livros "Cirurgia Bucomaxilofacial: diagnóstico e tratamento" (1 e 2 edições), Anestesia Local e Geral na Prática Odontológica, além de colaborar com 38 capítulos de livros e artigos científicos publicados. @dramarthasalim