A relação entre refluxo e irritação frequente na garganta é um tema amplamente estudado nos últimos tempos.
O refluxo gastroesofágico, também conhecido como DRGE (Doença do Refluxo Gastroesofágico), é uma condição em que o conteúdo do estômago retorna ao esôfago e, em alguns casos, pode alcançar a laringe e garganta, causando uma série de sintomas desconfortáveis nessa região.
A irritação constante na garganta é um dos sinais mais comuns e persistentes nesses casos, especialmente quando o refluxo atinge regiões mais altas, o que caracteriza o chamado refluxo laringofaríngeo (RLF).
A relação entre refluxo e irritação na garganta
O estômago produz ácido para auxiliar na digestão dos alimentos. Esse ácido, embora essencial, é altamente corrosivo e deve permanecer confinado ao estômago. Quando o esfíncter esofágico inferior (uma válvula entre o esôfago e o estômago) não funciona corretamente, ele permite que o ácido gástrico volte ao esôfago.
Em alguns casos, esse conteúdo ácido alcança a laringe, faringe e até as cordas vocais, estruturas que não são protegidas contra o ácido, como o estômago é.
Esse tipo de refluxo que ultrapassa o esôfago é mais comum do que se imagina e, muitas vezes, ocorre sem os sintomas clássicos de azia e queimação no peito. Por isso, pode passar despercebido por meses ou até anos, sendo erroneamente associado a outras causas, como alergias, gripes recorrentes ou problemas vocais.
Por que a inflamação acontece
A irritação frequente na garganta provocada pelo refluxo acontece porque o ácido e as enzimas digestivas entram em contato direto com as mucosas da faringe e laringe.
Isso pode causar uma sensação constante de algo preso na garganta, pigarro, dor leve, tosse seca crônica, rouquidão e até dificuldade para engolir. Em alguns casos, o paciente relata sensação de corpo estranho na garganta e acorda com a garganta áspera ou irritada, principalmente após uma noite de sono.
O refluxo pode ser mais intenso durante a noite, quando a pessoa está deitada. Nessa posição, a gravidade não atua para manter o conteúdo gástrico no estômago, facilitando o refluxo. Além disso, a produção de saliva, que neutraliza o ácido, é menor à noite, o que agrava a exposição das vias respiratórias superiores ao conteúdo ácido.
Diagnóstico
Um dos grandes desafios no diagnóstico do refluxo laringofaríngeo é o fato de ele nem sempre causar sintomas digestivos clássicos. Muitas vezes, o paciente procura um otorrinolaringologista por conta da irritação persistente na garganta e, somente após investigação mais detalhada, chega-se à causa real do problema.
O diagnóstico pode ser suspeitado por meio da laringoscopia, que permite visualizar sinais de inflamação na laringe. Em alguns casos, exames complementares, normalmente realizados por gastroenterologista, são indicados para avaliar a acidez no esôfago e o funcionamento do esfíncter esofágico.
Tratamento do refluxo alto
O tratamento do refluxo alto, que causa irritação na garganta envolve uma combinação de mudanças no estilo de vida e, em muitos casos, o uso de medicação.
As mudanças mais comuns incluem:
- Evitar alimentos que estimulam o refluxo, como café, álcool, chocolate, alimentos gordurosos, frituras, condimentos fortes e bebidas gaseificadas;
- Não se deitar logo após as refeições, esperando pelo menos duas horas antes de se deitar;
- Elevar a cabeceira da cama em 15 a 20 cm para dormir, evitando que o conteúdo gástrico suba durante o sono;
- Perder peso, quando houver sobrepeso ou obesidade, fatores que aumentam a pressão intra-abdominal e favorecem o refluxo;
- Parar de fumar, pois o tabaco relaxa o esfíncter esofágico e irrita ainda mais a mucosa da garganta.
No que diz respeito à medicação, geralmente são prescritos medicações que reduzem a produção de ácido no estômago ou que aceleram o trânsito gastrointestinal.
Em casos mais graves ou quando há resistência ao tratamento clínico, pode-se considerar uma intervenção cirúrgica, como a fundoplicatura, que visa reforçar a função do esfíncter esofágico inferior.
Complicações
A irritação constante da garganta causada por refluxo não tratado pode levar a complicações, como laringite ou tosse crônica, formação de pólipos nas cordas vocais, infecções de vias aéreas superiores, e, em casos mais raros, alterações celulares que aumentam o risco de câncer de esôfago.
Além disso, essa irritação crônica compromete significativamente a qualidade de vida do paciente, interferindo no sono, no apetite, na fala e até nas interações sociais, especialmente em profissões que exigem o uso frequente da voz, como professores, cantores e palestrantes.
Estar atento é essencial
A conexão é clara e merece atenção cuidadosa. Embora os sintomas possam parecer leves ou pouco relacionados ao sistema digestivo, eles podem ser indícios de um problema maior e que, se não tratado adequadamente, tende a se agravar.
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Avaliar os sintomas cuidadosamente, adotar hábitos alimentares e comportamentais saudáveis, e buscar o acompanhamento médico adequado são medidas fundamentais para evitar o desconforto crônico e as possíveis complicações do refluxo laringofaríngeo. A garganta agradece – e a saúde como um todo também.