Respirar é um ato tão automático que raramente paramos para pensar sobre como fazemos isso. Mas quando o ar entra pela boca em vez do nariz, especialmente durante o crescimento, o corpo inteiro sente as consequências — e elas se acumulam de forma progressiva, silenciosa e crônica.
Primeira fase: o início quase imperceptível
Tudo pode começar com algo simples: uma rinite persistente, um desvio de septo, amígdalas ou adenoides aumentadas. A criança começa a dormir de boca aberta, roncar, salivar no travesseiro. De dia, o hábito continua.
Nesse estágio inicial, os pais muitas vezes acham “fofinho” o rostinho de boca entreaberta — mas é o primeiro sinal de alerta de que o ar não está passando adequadamente pelas vias nasais.
Segunda fase: alterações musculares e posturais
Com o tempo, o corpo tenta se adaptar. A língua deixa de repousar no palato e passa a se posicionar baixa na cavidade bucal. Isso muda a forma como os músculos da face funcionam e afeta diretamente o crescimento ósseo.
A criança começa a apresentar lábios entreabertos, olheiras, fala anasalada e mastigação ineficiente. O pescoço tende a projetar-se para frente para facilitar a passagem de ar, alterando a postura corporal.
Terceira fase: o impacto no desenvolvimento facial
O rosto passa a se alongar verticalmente, com o queixo mais retraído e o nariz aparentemente mais proeminente. O crescimento da maxila é limitado, o palato torna-se estreito e profundo, o que reduz o espaço nasal e agrava ainda mais a dificuldade respiratória — criando um ciclo vicioso.
Essas alterações dão origem ao chamado “rostinho de respirador bucal”, que pode incluir mordida aberta, desalinhamento dental e problemas ortodônticos importantes.
Quarta fase: repercussões na saúde geral
A respiração bucal crônica não afeta apenas a estética facial. Ela compromete o sono, reduz a oxigenação cerebral e altera o padrão de crescimento e aprendizado. A criança dorme mal, acorda cansada, tem dificuldade de concentração e queda no desempenho escolar.
Muitas vezes os sintomas da Síndrome do Respirador Bucal podem ser confundidas com o Transtorno do Deficit de Atenção ou outras questões relacionadas a dificuldade de atenção, foco e aprendizado. Irritabilidade também é muito frequente e pode ser extrema. O cérebro da criança precisa de repouso para se desenvolver de forma adequada e saudável e as noites mal dormidas podem ser devastadoras nessa fase.
Além disso, pode haver aumento da incidência de cáries, gengivite, halitose e até infecções respiratórias recorrentes.
A fase crônica: quando o hábito se consolida
Quando não tratada, a respiração bucal se torna um padrão automático que persiste na adolescência e na vida adulta. Nesse ponto, as alterações ósseas e musculares já estão estabelecidas e o tratamento exige uma abordagem multidisciplinar — envolvendo otorrinolaringologista, fonoaudiólogo e ortodontista.
A importância da detecção precoce
A boa notícia é que, quando identificada precocemente, a respiração bucal pode ser revertida. Com diagnóstico preciso e intervenção adequada, é possível restabelecer o padrão nasal e permitir que a face cresça de forma equilibrada.
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Quanto antes o problema for tratado, menores serão as consequências para o desenvolvimento facial, dental e cognitivo da criança.
Respirar pelo nariz é mais do que uma função fisiológica — é um alicerce para o crescimento saudável e harmonioso da criança. Por isso, se o seu filho dorme de boca aberta, ronca ou vive com o nariz entupido, procure ajuda profissional de um ortodontista e um otorrinolaringologista. Respirar bem é crescer bem.