A revolução tecnológica atinge diferentes áreas do conhecimento e setores da economia. Oferecendo aos processos mais eficiência, produtividade e previsibilidade, os resultados para toda a sociedade são cada vez maiores e melhores, inclusive quando aplicados na Medicina.
Hoje, a saúde integra sistemas tecnológicos para facilitar a formação médica, melhorar os diagnósticos e os tratamentos de pacientes. São diferentes ferramentas que podem ser utilizadas para viabilizar desde teleconsultas a cirurgias menos invasivas.
O diretor científico da Associação Médica do Espírito Santo, Walter Fagundes, destaca os pontos positivos do uso das tecnologias na medicina percebidos por ele:
Hoje podemos atender pacientes do Brasil inteiro, temos imagens de ressonância magnética que são extremamente fidedignas em relação à anatomia; o tratamento cirúrgico pode usar microscópios de alta resolução, tecnologias minimamente invasivas.”
Walter Fagundes
Por conta das múltiplas aplicações tecnológicas possíveis, o uso das ferramentas inteligentes é crescente. Conforme dados da pesquisa TIC Saúde de 2022 – estudo que investiga os avanços tecnológicos nos serviços de saúde –, o uso de tecnologias digitais avançou em todo o país, nos últimos anos.
Em 2022, oito em cada dez enfermeiros usaram os meios digitais para registrar dados sobre os pacientes, em 2019, eram cinco a cada dez. Entre os médicos, o uso também cresceu: 74% deles digitalizaram a lista de medicamentos prescritos aos pacientes, em 2019. Três anos mais tarde, a proporção saltou para 85%.
As teleconsultas realizadas por médicos e o monitoramento remoto de pacientes também aumentaram após a pandemia.
Como mostram os dados, a tecnologia facilita e traz mais eficiência também para serviços mais simples da saúde, aumentando a presença médica no dia a dia dos pacientes e simplificando tarefas.
A professora do curso de Medicina da Faesa Rosana Alves pontua que a digitalização de prontuários e o uso de aplicativos para marcar consultas e agendar exames representam avanços consideráveis que têm resultados positivos profundos, como a maior dedicação do médico ao diálogo com o paciente.
“Uma facilidade (proporcionada pela tecnologia) é a de solicitação de um exame, que pode ser marcada na unidade e encaminhada ao paciente. Não necessariamente ele tem que se deslocar para marcar o exame, ou pegar o resultado. Então, imagina a facilidade de comunicação com os pacientes que precisam, às vezes, chegar aqui às 4 horas, 5 horas para poder agendar uma consulta ou agendar um exame”.
Além disso, ela ressalta que o acompanhamento médico se torna mais frequente. “Antes, o paciente fazia uma avaliação uma vez por ano. E aí, muitas vezes, tinha algo que precisava ser ajustado. Agora, é possível, de vez em quando, conversar com o paciente para verificar como ele está, se está fazendo o tratamento”.
Outro ponto positivo que merece destaque, na visão dos profissionais, é a melhora da gestão hospitalar. A informatização que agiliza processo resulta em uma melhor gestão de leitos e de recursos pelo próprio sistema de saúde.
Mais tecnologia, mais precisão
Enquanto ferramentas simples facilitam o dia a dia, as mais complexas são aplicadas nos centros cirúrgicos para garantir melhores resultados e menos riscos aos pacientes.
Para a professora Rosana, uma das potencialidades da inteligência artificial, na medicina, é a de produção de imagens. Impressoras 3D, que possibilitam a impressão de ultrassons e ressonâncias, podem facilitar o trabalho do cirurgião:
Ao invés de entrar na sala cirúrgica e abrir (uma parte do corpo) para procurar, o médico já sabe o que vai encontrar. Então, não só do ponto de vista de tempo e do ponto de vista de precisão, a inteligência artificial trabalhada, pensando na saúde digital como um todo, vem para facilitar, com imagens, abordagens e isso é muito importante para a cirurgia.”
Rosana Alves
O médico urologista Marcus Vinícius da Silva Carvalho faz cirurgias robóticas e explica que o uso de tecnologias, principalmente em casos de procedimentos com maior complexidade, ajudam a alcançar uma “menor resposta ao trauma”:
“O paciente tem menos chance de ter sangramento e uma hospitalização prolongada e, consequentemente, tem um retorno mais rápido para suas atividades cotidianas”.
No Hospital Santa Rita, onde Carvalho atua, dois equipamentos se destacam e trazem bons resultados: o robô Da Vinci XI, que oferece imagens em 3D, visão magnificada e possui quatro braços de longo alcance com movimentos de rotação e angulação; e o microscópio neurocirúrgico Zeiss Kinevo 900, que tem sistema de visualização robótica e funciona por comandos do cirurgião.
As funções dos aparelhos garantem maior estabilidade e firmeza, alcance maior do que a mão humana e memorização de imagens durante os procedimentos. Em cirurgias complexas, a automação de algumas tarefas faz diferença não só na dinâmica, mas também na duração da cirurgia.
Para a urologia, o desenvolvimento da cirurgia robótica trouxe diversos benefícios – é a área médica que mais utilizou a tecnologia, conta Carvalho.
A urologia ela tem procedimentos cirúrgicos bastante delicados, trabalha em cavidades muito restritas e o benefício da cirurgia robótica, nesse sentido, é amplo. Conseguimos ter uma visão magnificada, uma visão tridimensional, uma liberdade de movimento muito mais ampla do que a própria mão humana e isso fez diferença, tanto no aspecto de recuperação, mas também de reabilitação do paciente.”
Marcus Vinícius da Silva Carvalho
Um dos destaques é a cirurgia da próstata que visa tratar o câncer. Além de lidar com a doença, é preciso oferecer uma reabilitação que leve em consideração a continência urinária e a função erétil, explica o médico.
Avanços possíveis
Considerando o Espírito Santo um Estado com bons sistemas tecnológicos, Fagundes pontua que ainda é possível evoluir. Neurocirurgião, ele afirma que em outros países já existem aparelhos que permitem a realização de cirurgias menos invasivas e mais precisas:
“Há um aparelho de ressonância intraoperatória que, em uma ressecção (remoção) de um tumor, antes de terminar, seja possível fazer uma ressonância para ver se ainda existe algum resquício tumoral ou não, e, com isso, há a possibilidade de retornar e fazer essa cirurgia até a ressecção completa do tumor”.
Há também tecnologias voltadas ao tratamento de epilepsia. Segundo Fagundes, são eletrodos implantados no cérebro para captar alterações neuronais que indicam uma possível crise.
“Isso vai a um gerador que envia pulsos para aquela região cerebral, impedindo que o paciente tenha uma crise epiléptica”.
Planejamento e ética
Na sala de aula e na formação dos profissionais, é importante integrar a tecnologia com planejamento. Nos laboratórios, os sistemas orgânicos integrados são trabalhados em aulas de anatomia, fisiologia, histologia, genética e embriologia.
“São coisas que, integradas, facilitam esse estudo. E é claro que a facilitação vem por meio da tecnologia. Seja pela mesa anatômica, seja pela forma como eles são trabalhados aqui e seja pela forma também dos manequins simuladores, computadorizados para facilitar a aquisição de competências voltadas para habilidades”, explica a professora Rosana.
Além disso, as habilidades permitem, inclusive, a avaliação do profissionalismo e comunicação com o paciente.
“Esse profissionalismo é trabalhado inicialmente com a comunicação, para o saber entender o paciente. E, na prática, o aluno consegue fazer isso na Unidade Básica de Saúde, nos primeiros períodos”.
Para a aluna de Medicina da Faesa Isadora de Oliveira Martins, a tecnologia tem um papel fundamental, tanto para a aquisição de conhecimentos, quanto para a prática de técnicas e desenvolvimento de capacidade de compreender a pessoa que será atendida:
Eu acho que a tecnologia agrega, sim, mas depende muito do médico. É o médico que faz a consulta, então, acredito que ele tenha que humanizar ali, conversar com o paciente. Acredito, sim, que a tecnologia está aí para auxiliar, ajudar, facilitar.”
Isadora de Oliveira Martins
Como a estudante pontua, os comandos e gestão da tecnologia são essenciais para garantir um bom resultado.
Por isso, Fagundes ressalta que é importante ter cuidado, porque as ferramentas “não devem conduzir o processo”.
“O médico deve estar no centro dessa condução para que a coisa possa ser utilizada de maneira com conhecimento, com respeito ao paciente, porque uma vez utilizada de forma incorreta, muitas vezes, pode gerar até estresse, ansiedade e diagnósticos equivocados”.