
Nos últimos anos, os relógios inteligentes, frequência cardíaca e ansiedade: quando o alarme vira problema — e quando ele ajuda se tornaram companheiros inseparáveis de quem busca cuidar melhor da própria saúde.
Os Smartwatch monitoram passos, sono, níveis de estresse, oxigenação e, claro, a frequência cardíaca. Mas, junto com todos esses benefícios, surgiu um novo fenômeno no consultório: pessoas preocupadas com alertas de elevação ou queda da frequência cardíaca que, na maioria das vezes, não representam doença nenhuma.
Avanços da tecnologia
A tecnologia realmente trouxe avanços importantes. Hoje, muitos pacientes chegam ao consultório com registros de frequência cardíaca que antes não seriam percebidos — como episódios suspeitos de arritmia ou variações que merecem ser avaliadas.
Para indivíduos com histórico de problemas cardíacos, essa informação pode ser útil e, às vezes, até salvar vidas ao alertar sobre ritmos muito irregulares. Além disso, acompanhar a frequência cardíaca durante o exercício é uma ótima forma de garantir que o treino está na zona adequada para cada objetivo .
Quando o monitoramento é excessivo
O problema é que os smartwatches também registram variações completamente normais, que fazem parte da vida. A frequência cardíaca sobe quando subimos escadas, quando damos uma corridinha, quando nos estressamos ou até quando tomamos café. À noite, ela pode diminuir bastante durante o sono profundo. Tudo isso é esperado!
Mas o relógio não sabe diferenciar o normal do preocupante — ele apenas capta números. O que tenho visto com frequência é o paciente saudável que recebe um alerta de “frequência cardíaca elevada” e imediatamente imagina o pior: “Estou com arritmia?”, “Tive um infarto e não percebi?”, “Por que meu coração está acelerado?”.
Essa ansiedade, paradoxalmente, pode aumentar ainda mais a frequência cardíaca, criando um ciclo de preocupação que não tem relação com doença real.
Estamos vivendo um momento em que monitoramos tanto o corpo que começamos a tratar fenômenos fisiológicos — e completamente normais — como se fossem problemas.
Isso tem nome: medicalização do normal.
É importante lembrar: a frequência cardíaca muda o tempo todo e oscilações ao longo do dia são normais. Além disso, o relógio pode errar — principalmente se estiver frouxo ou durante movimentos bruscos.
O resultado pode ser um excesso de exames, procura por pronto-atendimento desnecessária e, principalmente, mais ansiedade do que saúde.
A tecnologia não é a vilã
A tecnologia não é vilã. Ela é uma ferramenta poderosa — desde que usada com equilíbrio.
Algumas dicas práticas:
- Use o relógio para acompanhamento geral, não como diagnóstico.
- Foque em tendências ao longo do tempo, não em um número isolado.
- Se um alerta aparecer, mas você estiver bem, sem sintomas, aguarde e observe.
- Procure avaliação médica se houver sintomas associados: palpitações persistentes, tontura, desmaio, dor no peito ou falta de ar.
- Não deixe o relógio substituir sua percepção do próprio corpo.
Smartwatches são aliados valiosos para incentivar movimento, melhorar a qualidade do sono e aumentar a consciência corporal. Mas nenhum wearable é capaz de substituir uma boa conversa com um profissional de saúde — nem deve se tornar motivo de medo.
A chave está no equilíbrio: usar a tecnologia para promover saúde, e não para alimentar preocupações.
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Se o relógio está te ajudando a se mexer mais, dormir melhor e entender seu corpo, ótimo.
Se está te deixando mais ansioso do que informado, talvez seja hora de ajustar as notificações — ou desconectar um pouco.