Dia Mundial do AVC
Imagem: Freepik

Você já ouviu alguém dizer que o tempo é dinheiro? Pois, quando o assunto é o cérebro, o tempo vale ainda mais: vale neurônios. Em um AVC, cada minuto conta. A cada minuto que o cérebro fica sem receber sangue, milhões de neurônios morrem.

É por isso que o lema mundial do Dia do AVC, celebrado em 29 de outubro, é sempre o mesmo: reconhecer rápido, agir rápido.

Mas vamos por partes:

O que é, afinal, um AVC?

O AVC (Acidente Vascular Cerebral) acontece quando o fluxo de sangue que deveria chegar ao cérebro é interrompido. Pode ser por um entupimento (AVC isquêmico), que responde por cerca de 85% dos casos, ou por um sangramento (AVC hemorrágico), quando um vaso se rompe dentro do cérebro.

Em termos simples: o cérebro é um órgão exigente. Ele precisa de oxigênio o tempo todo. Se o sangue não chega, as células nervosas não resistem.

Os sinais de alerta que ninguém pode ignorar

Muita gente ainda associa o AVC a pessoas mais velhas. Mas isso é um mito.
Embora seja mais frequente após os 55 anos, o AVC pode acontecer em qualquer idade — até em jovens e adultos aparentemente saudáveis.

O importante é saber reconhecer os sinais. Eles costumam aparecer de forma repentina, sem aviso:

  • Fraqueza ou dormência em um lado do corpo (no rosto, no braço ou na perna);
  • Dificuldade para falar ou entender o que os outros dizem;
  • Alteração súbita na visão, em um ou ambos os olhos;
  • Tontura, desequilíbrio ou falta de coordenação;
  • Dor de cabeça muito forte e súbita, sem causa aparente.

São sintomas que pedem atenção imediata. Mesmo que desapareçam em poucos minutos, é um sinal de alerta: o cérebro está pedindo socorro.

Grave esse lembrete:
SAMU: Sorria, Abrace, Música, Urgência

  • Sorria: para ver se a boca está torta.
  • Abrace: para ver se um dos lados do corpo está fraco.
  • Música: cante uma música para observar se há alteração na fala.
  • Urgência: ligue imediatamente para 192 (SAMU).

Por que o tempo é tão importante

Há um “relógio invisível” correndo contra o paciente. No AVC isquêmico, existe uma janela terapêutica, em torno de 4 horas e meia, para o uso de medicamentos capazes de dissolver o coágulo e restabelecer o fluxo de sangue. Passado esse tempo, a chance de recuperação cai drasticamente.

Nos casos de AVC hemorrágico, o atendimento rápido também faz toda diferença: controlar a pressão, conter o sangramento e evitar complicações pode ser a linha entre a vida e a morte.

O que fazer e o que não fazer

Quando alguém apresenta sintomas suspeitos, não espere passar. Não ofereça água, remédios ou tente “deitar pra ver se melhora”.

Ligue sempre para o SAMU (192). Se o SAMU não estiver disponível, leve a pessoa a um pronto-socorro (preferencialmente em um hospital que tenha serviço de AVC).

Cada minuto economizado é uma chance a mais de preservar o cérebro e a vida.

E dá pra prevenir? Sim

A boa notícia é que quase 90% dos AVCs poderiam ser evitados com controle dos fatores de risco:

  • Pressão alta é o principal vilão e o mais comum.
  • Diabetes, colesterol elevado e tabagismo também pesam muito.
  • Sedentarismo, obesidade e consumo excessivo de álcool completam a lista.
  • E vale lembrar: o coração também fala com o cérebro.
    Fazer um check-up cardíaco regular é fundamental, porque arritmias como a fibrilação atrial podem gerar coágulos que migram para o cérebro e causam AVC embólico.

A prevenção é silenciosa, mas poderosa. Pressão controlada, alimentação equilibrada, exercícios regulares e sono de qualidade são escolhas que somam. E o cérebro agradece.

Depois do AVC, a vida continua

O AVC pode deixar sequelas, é verdade, mas isso não significa o fim da autonomia. A reabilitação precoce, com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, ajuda o cérebro a se reorganizar.

O sistema nervoso tem uma capacidade incrível de adaptação, chamada neuroplasticidade. Mesmo depois de uma lesão, ele tenta criar novos caminhos para que funções perdidas sejam recuperadas, total ou parcialmente.

Um alerta que salva

Falar sobre AVC é falar sobre consciência e prevenção. É lembrar que o corpo sempre dá sinais e que o cérebro, embora silencioso, pede ajuda de forma urgente quando algo não vai bem.

O Dia Mundial do AVC existe justamente para isso: para lembrar que o conhecimento é a nossa melhor ferramenta. Que identificar um sintoma pode significar salvar alguém e que cada um de nós pode ser esse socorro.

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Então, se algum dia alguém perto de você tiver dificuldade para sorrir, levantar o braço ou articular palavras, lembre-se: não espere, não hesite, aja. Porque o tempo, nesse caso, é o próprio cérebro.

Dra. Camila Resende

Neurologista e Neurofisiologista

Médica. Neurologista e Neurofisiologista (Residência médica USP - RP). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC). @dracamilaresende

Médica. Neurologista e Neurofisiologista (Residência médica USP - RP). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC). @dracamilaresende