
Nos últimos meses, tenho acompanhado com atenção o uso da tirzepatida por atletas — mesmo que de forma off-label, ou seja, fora das indicações oficiais. Essa medicação foi desenvolvida para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade, com excelentes resultados clínicos.
No entanto, o fato de não estar na lista de substâncias proibidas pela WADA (Agência Mundial Antidoping) tem aberto espaço para discussões sobre seu uso em contextos esportivos.
Uso da tirzepatida por atletas
Em algumas modalidades, principalmente aquelas em que o peso corporal influencia o desempenho, já vemos relatos de uso da tirzepatida com o objetivo de acelerar a perda de gordura, preservar a massa magra e melhorar a performance.
Um artigo recente que li reuniu evidências sobre efeitos metabólicos como melhora da oxidação de gordura, regulação da glicose, redução de inflamação e aumento da sensibilidade à insulina — benefícios que, à primeira vista, podem parecer interessantes para quem busca resultados rápidos.
Mas é fundamental destacar: não existem estudos controlados com atletas saudáveis. O que temos até o momento são observações pontuais, muitas vezes baseadas em experiências individuais. Cada organismo responde de forma diferente, e o que funciona para um, pode não ter efeito ou até causar prejuízos em outro. Como médica endocrinologista, vejo com preocupação a banalização do uso de medicamentos potentes, sem a devida avaliação clínica, ética e científica.
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Meu objetivo ao levantar esse tema não é incentivar o uso da tirzepatida no esporte, mas sim promover a informação com responsabilidade. Precisamos conversar sobre os limites entre a busca por performance e a preservação da saúde. O debate está aberto — especialmente entre nós, médicos e profissionais da saúde, que temos o dever de orientar com base em evidências e ética.