Um único som alto pode causar perda auditiva? Entenda

Perder a audição é uma condição multifatorial que pode se desenvolver de forma progressiva ao longo de anos, como acontece em trabalhadores expostos a ruídos crônicos, ou surgir de maneira súbita, após um único evento de som muito intenso.

Embora a maioria das pessoas associe o risco auditivo à exposição prolongada, é plenamente possível que um único episódio de ruído excessivo cause danos irreversíveis ao ouvido interno, dependendo da intensidade e da duração do som.

As células sensoriais auditivas da orelha interna são extremamente delicadas e não se regeneram quando danificadas. Portanto, qualquer agressão acústica capaz de destruí-las, mesmo que ocorra apenas uma vez, pode resultar em perda auditiva permanente.

Eventos que podem causar perda auditiva

Quando a perda auditiva acontece após uma única exposição a um som muito intenso, chamamos esse quadro de trauma acústico agudo. Ele ocorre geralmente em situações inesperadas, como:

• Explosões (fogos de artifício, tiros, explosões industriais ou militares);
• Ruído de shows, trios elétricos ou baladas com som em volume extremo;
• Proximidade de caixas de som potentes, sirenes, ou motores de grande porte;
• Acidentes envolvendo ferramentas ou maquinário sem proteção auditiva.

Nessas circunstâncias, a energia sonora atinge o ouvido interno de forma tão violenta que pode causar lesões mecânicas imediatas na cóclea e até perfurar o tímpano, dependendo da intensidade.

Intensidade sonora

A intensidade sonora é medida em decibéis (dB). Quanto mais alto o número, maior a energia do som. Alguns exemplos ajudam a dimensionar o risco:

    •        Conversa normal: cerca de 60 dB
    •        Trânsito intenso: 85 dB
    •        Show musical ou trio elétrico: 100 a 110 dB
    •        Foguete, tiro ou explosão próxima: 140 dB ou mais

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que sons acima de 85 dB já podem causar dano se a exposição for prolongada. Porém, sons acima de 120 dB são potencialmente nocivos mesmo em frações de segundo.

Assim, um único ruído de 140 dB, como o de um tiro ou fogos de artifício muito próximos, pode causar perda auditiva por trauma acústico agudo.

Os efeitos do ruído intenso podem ser classificados como:

1. Efeitos mecânicos diretos: O som extremamente alto pode causar deslocamento abrupto da membrana basilar na cóclea, rompendo as células ciliadas e suas estruturas de sustentação. Em casos extremos, pode haver ruptura do tímpano ou luxação dos ossículos (martelo, bigorna e estribo).

2. Efeitos metabólicos: Mesmo que o som não cause ruptura física, a energia sonora excessiva leva a um estresse oxidativo intenso no ouvido interno, gerando radicais livres e inflamação local. Essa sobrecarga metabólica danifica o DNA das células ciliadas e as leva à morte.

O resultado é uma perda auditiva neurossensorial, geralmente permanente, que pode se manifestar imediatamente após o evento ou evoluir nas horas seguintes.

Sinais de trauma acústico

Os sinais típicos de trauma acústico agudo aparecem logo após o evento ruidoso e podem incluir:

• Zumbido intenso (tinnitus);
• Sensação de ouvido tampado ou “entupido”;
• Dificuldade para perceber sons agudos ou compreender a fala;
• Dor de ouvido ou tontura;
• Em casos de explosões próximas, pode haver sangramento no ouvido e perda auditiva total súbita.

É importante destacar que o zumbido persistente após uma exposição a ruído é um alerta de que houve dano auditivo, mesmo que a audição pareça normal.

O que é fazer diante de uma suspeita de trauma acústico?

Qualquer pessoa que perceba zumbido ou perda de audição após um evento sonoro intenso deve procurar um otorrinolaringologista com urgência, de preferência nas primeiras 48 horas.

O médico fará uma avaliação clínica e solicitará exames específicos, que ajudam a identificar se houve dano às células ciliadas.

Em alguns casos, o profissional pode indicar o uso medicações por via oral, intramuscular, endovenosa, ou por via intratimpânica (injeções dentro do ouvido), principalmente quando a perda auditiva é recente, para tentar reduzir a inflamação e preservar parte da audição. Quanto mais precoce o tratamento, maiores as chances de recuperação parcial.

Fatores de vulnerabilidade

Nem todas as pessoas expostas ao mesmo ruído terão a mesma consequência. Alguns fatores que aumentam a vulnerabilidade incluem:

• Proximidade da fonte sonora: quanto mais perto, maior a energia recebida;
• Duração da exposição: mesmo poucos segundos podem ser suficientes se o som for muito intenso;
• Uso de proteção auditiva: tampões ou abafadores reduzem o impacto;
• Predisposição individual: pessoas com histórico de infecções de ouvido, doenças metabólicas ou uso de certos medicamentos ototóxicos podem ser mais sensíveis;
• Idade: o ouvido de crianças e adolescentes pode ser mais suscetível aos efeitos do som extremo.

Medidas de prevenção

Como o dano auditivo causado por ruído é, na maioria das vezes, irreversível, a prevenção é fundamental. Algumas medidas simples podem evitar consequências sérias como: evite ficar próximo a caixas de som, alto-falantes ou fogos; usar protetores auriculares em eventos barulhentos. e dar tempo para o ouvido se recuperar.

Também é essencial educar crianças e adolescentes sobre o risco. Jovens que usam fones de ouvido em volume máximo ou frequentam baladas e festivais estão entre os grupos mais vulneráveis.

E, claro, procurar avaliação médica se houver zumbido ou desconforto auditivo. Mesmo sintomas leves podem indicar lesão precoce.

Um sentido precioso

A perda auditiva causada por um único evento pode variar de leve a profunda, dependendo da energia do som e da susceptibilidade individual. Além da dificuldade auditiva, o paciente pode desenvolver zumbido crônico, hiperacusia (sensibilidade exagerada ao som) e alterações de equilíbrio.

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Em muitos casos, o dano não se reverte totalmente, e a reabilitação passa a depender de aparelhos auditivos ou próteses auditivas implantáveis , conforme a gravidade.

A audição é um sentido precioso e insubstituível. Basta um único descuido, um único som alto demais, para causar um dano e uma limitação que podem durar para sempre.