Aborto de repetição: causas, tratamento e a importância do suporte psicológico

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Dra. Layza Merizio Borges

A interrupção da gravidez é um momento difícil para muitas mulheres e, infelizmente, é mais comum do que se pode imaginar. Há estimativas de que o aborto espontâneo atinja de 15% a 30% das gestantes até a 22ª semana, dependendo da idade materna. Quanto mais tarde a mulher engravida, maior o risco de aborto.

De acordo com a literatura, a ocorrência do primeiro não requer avaliação aprofundada, mas sempre é importante uma avaliação individualizada.

Porém, em caso de dois ou mais abortos consecutivos, o chamado de abortamento de repetição, exige investigação criteriosa do casal e acompanhamento psicológico, tamanha frustração causada pelas perdas. A atriz hollywoodiana Sharon Stone revelou que “perdeu nove filhos” por abortos espontâneos, afirmando que as mulheres são levadas a sentir que perder um bebê é “algo para suportar sozinha e secretamente”, como uma sensação de fracasso. A atriz brasileira Fiorella Mattheis também revelou que teve 5 abortos em 8 meses.

As revelações de mulheres famosas são importantes para se discutir mais sobre o assunto, que é tão estigmatizado e traz impactos emocionais importantes para as mulheres e para os casais.

Quando o aborto é recorrente, os sentimentos de impotência, fracasso, culpa, desgaste emocional e físico, que já são comuns após um único aborto, são intensificados.

Por isso, é importante que a mulher e o casal não passem por estes traumas sozinhos. A psicóloga do Instituto de Medicina Reprodutiva, Arielle Nascimento, revela que é fundamental buscar suporte emocional e que a equipe de profissionais que acompanha o casal acolha sua história e compreenda a maneira como ambos vivenciam as perdas e como se sentem sobre a possibilidade de uma nova gestação.

Em relação às causas do abortamento de repetição, as alterações genéticas embrionárias constituem a principal causa de aborto no primeiro trimestre da gravidez, e essas alterações estão relacionadas à idade materna, principalmente acima dos 37 anos.

A partir dos 40 anos as taxas de abortamento podem passar dos 30%, devido ao envelhecimento e perda da qualidade dos óvulos.
Alterações hematológicas (trombofilia), alterações da cavidade uterina (miomas, pólipos, sinéquias, endometrite), alterações imunológicas, alterações hormonais, infecciosas e alterações seminais do parceiro também constituem causas para o abortamento de repetição.

Tratamento

Após o diagnóstico de aborto de repetição, o casal deve ser investigado por meio de exames como o cariótipo, pesquisa de marcadores para Síndrome do Anticorpo Antifosfolipideo (SAAF) e outras trombofilias, pesquisa de marcadores de doenças autoimunes, ultrassonografia e histeroscopia para avaliação e correção da cavidade uterina, se possível.

Em até 50% dos casos, nada se encontra na investigação das causas de abortamento de repetição, devendo-se individualizar a conduta sempre em conjunto com outros especialistas, como reumatologista, hematologista e geneticista.

Porém, em todos os casos, é fundamental adotar hábitos de vida saudáveis: ter uma alimentação equilibrada, não fumar, evitar o excesso de álcool, e praticar atividade física, além de controlar o peso e realizar atividades que aliviem o estresse. Suplementação de metilfolato no mínimo dois meses antes de engravidar é mandatório e a suplementação com progesterona pode ser necessária.

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Dra. Layza Merizio Borges

Médica. Mestre (IAMSPE-SP) e Doutora (UNIFESP) em Reprodução Assistida. Título de Especialista em Reprodução Assistida pela Associação Médica Brasileira e pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Membro internacional da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE). Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e de Reprodução Assistida (SBRA). Responsável Técnica do Instituto de Medicina Reprodutiva. @medicinareprodutiva