Elogiar pode ser perigoso? Entenda quando e o porquê

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Psi. Renata Bedran

Esse tema é bem polêmico, já que muitas pessoas não entendem por que o elogio faria mal.

Aqui estão algumas razões pelas quais o elogio pode ser ruim:

1) Elogios vazios ou exagerados: elogios que não são genuínos, exagerados ou que não refletem verdadeiramente o desempenho da criança podem ser prejudiciais. Isso porque elas podem perceber a falta de sinceridade, o que pode levar à desconfiança e à diminuição do valor percebido do elogio.

Exemplo: sua filha mostra um desenho que ela fez e você diz: “ficou muito lindo!” Isso é muito raso, não mostra para criança o que especificamente você gostou no desenho dela. É muito mais interessante você descrever o que você gostou, como por exemplo: “eu achei muito legal que você colocou essa chaminé na sua casa” ou “adorei as cores amarelo e laranja que você usou para fazer essa casa”.

2) Foco no resultado, não no esforço: elogios centrados apenas em resultados podem desencorajar o esforço e a aprendizagem contínua. Quando as crianças são elogiadas apenas pelo sucesso, podem evitar desafios futuros por medo de não alcançar os mesmos resultados e corresponder as expectativas. Além disso, o elogio só funciona quando a criança vai bem.

Exemplo: você elogia a criança quando ela tira nota boa na prova, mas quando ela não tira, você não consegue elogiar. Por isso é importante focar no processo e no esforço, e não no desfecho. Quando seu filho não vai tão bem na prova, você pode dizer: “É difícil mesmo, mas eu vi que você se esforçou estudando naquela tarde para a prova. Você está no caminho certo, o que você acha que poderia fazer para melhorar? Quer que eu estude com você?”

3) Efeito da gratificação instantânea/ dependência de validação externa: elogios frequentes e excessivos podem criar dependência de uma opinião e validação externa. Isso pode criar uma dependência emocional de feedback positivo, tornando-as menos capazes de desenvolver uma autoestima saudável e intrínseca.

Exemplo: o elogio não foca na criança como um ser com individualidades e sentimentos, nem leva em consideração como ela se sentiu ou o que foi importante para ela. É mais importante focarmos no que sentimos em relação a algo feito por nós, do que no que os outros pensam. Exemplo: A criança faz um desenho e vai correndo contar para você (mãe/pai/professora) que diz: parabéns!

Essa criança provavelmente chega a conclusão de que sua mãe (pai/professor(a)) gostou do desenho dela. Mas, o que é mais importante na sua vida de adulto hoje, olhar um trabalho que você tenha feito e pensar: “fiz um bom trabalho!”, ou ficar preocupado com a opinião de outra pessoa, esperando elogios, para aí, sim, você se convencer de que fez um bom trabalho?

Quando um adulto diz para uma criança: “estou orgulhoso de você” ou “estou tão feliz que você participou da apresentação da escola”, você reforça na criança que ela DEVE ou TEM que fazer as coisas para que OS PAIS (opinião externa) se orgulhem dela. Além disso você nem sabe se a criança dá importância para se apresentar na escola.

Já quando a gente afirma: “você deve estar orgulhoso(a) do que você fez!”, você reforça no(a) seu filho(a) a necessidade dele(a) se orgulhar de um feito dele(a). Quando minha filha aprendeu a pedalar a bicicleta, depois de algumas vezes tentando, eu fiquei muito feliz com a conquista dela, mas ao invés de dizer: “filha, a mamãe tá muito orgulhosa de você”, eu disse: “filha, você ficou feliz com essa conquista? Imagino que você deva estar orgulhosa de você!”

Hoje, muitos adultos têm atitudes que buscam sempre agradar ao outro em detrimento a satisfazer a eles mesmos e estão sempre a espera de elogios ou agradecimentos.

É importante defendermos a autenticidade dos nossos filhos. Todos nós nascemos bons merecedores (de amor, carinho, respeito) por sermos quem somos. A ideia de que não merecemos, de que devemos mudar para se encaixar na sociedade vem dos adultos que nos cercam.

Devemos ensinar nossos filhos a se comemorarem e sentirem satisfação de amar as próprias realizações e não a fazer algo só para que o papai e a mamãe (ou quem quer que seja) fiquem orgulhosos.

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Psi. Renata Bedran

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran