Por que devo me preocupar em fazer o teste da linguinha no meu filho?

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Dr. Giulliano Luchi

O teste da linguinha é um exame simples e rápido realizado em recém-nascidos para identificar possíveis alterações no frênulo lingual, a pequena membrana que liga a língua ao assoalho da boca. Esse teste foi instituído no Brasil em 2014, por meio da Lei nº 13.002, tornando-se obrigatório em hospitais e maternidades de todo o país.

A finalidade do teste é detectar precocemente condições que possam interferir na amamentação, na respiração, na deglutição, e, mais tarde, no desenvolvimento da fala da criança.

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A importância do teste da linguinha está em identificar a chamada “língua presa” ou anquiloglossia, uma condição em que o frênulo lingual é curto, grosso ou pouco elástico, limitando os movimentos da língua. Estima-se que cerca de 4% a 11% dos recém-nascidos apresentam essa condição. Embora não seja uma doença grave, a língua presa pode trazer implicações significativas, principalmente para a amamentação e o desenvolvimento oral da criança.

O teste da linguinha é feito por um profissional de saúde, médico ou fonoaudiólogo, logo nos primeiros dias de vida do bebê. O exame é rápido, dura cerca de um minuto e é indolor.

Através de uma análise visual e de alguns toques, o profissional avalia se o frênulo está em uma posição e formato que permita a movimentação adequada da língua. Caso seja identificada alguma restrição, o bebê é encaminhado para uma avaliação mais detalhada e, se necessário, pode ser recomendado uma intervenção ou apenas acompanhamento com exercícios.

Quando necessário, pode-se proceder uma frenotomia, um procedimento rápido e com pouca dor, que corrige a amplitude do frênulo limgual. Em casos menos severos, o acompanhamento e exercícios específicos podem resolver a restrição, sem a necessidade de intervenção cirúrgica.

A detecção precoce da língua presa é fundamental para prevenir problemas no desenvolvimento da criança. Alguns dos principais motivos pelos quais o teste da linguinha é tão importante são:

Evitar problemas na amamentação;
Evitar alterações no desenvolvimento oral e da fala;
Prevenir problemas de deglutição e respiração;
Evitar complicações ortodônticas.

A amamentação tem grande importância tanto para a nutrição, especialmente nos primeiros meses de vida, quando a amamentação é a principal fonte de nutrição, quanto para o vínculo entre mãe e filho. Para mamar adequadamente, o bebê precisa fazer movimentos específicos com a língua, o que ajuda na pega correta do peito. Se o frênulo lingual for curto, esses movimentos são limitados, o que pode prejudicar a pega e dificultar a sucção.

Se houver dificuldade, o bebê pode não conseguir extrair o leite de forma eficiente, resultando em menor ganho de peso e na redução da produção de leite materno. A mãe, por sua vez, pode sentir dor e desconforto durante a amamentação e desenvolver fissuras nos mamilos, o que muitas vezes desestimula o aleitamento materno.

A língua também desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da fala e da articulação dos sons. Quando a mobilidade da língua é limitada, as crianças podem apresentar dificuldades para pronunciar certos fonemas e para formar palavras corretamente. A língua presa pode resultar em uma fala comprometida, com dificuldades para emitir sons como “r”, “l” e “t”, o que impacta na clareza da comunicação.

A correção precoce da anquiloglossia previne problemas na fala e reduz a necessidade de terapias fonoaudiológicas prolongadas mais tarde.

A língua presa também pode interferir na deglutição, o ato de engolir, pois limita o controle e os movimentos necessários da língua. Isso pode levar o bebê a engolir ar durante a amamentação ou a ingerir uma quantidade menor de leite. Esse fator, além de dificultar a alimentação, pode causar desconforto e cólicas na criança.

Além disso, a língua desempenha um papel na postura da boca e na respiração. Se a criança tem dificuldade em movimentar a língua corretamente, isso pode alterar a postura oral, o que pode resultar em respiração bucal. A respiração pela boca, por sua vez, está associada a diversos problemas, como o aumento da incidência de infecções respiratórias, alterações na estrutura facial e dificuldades de sono.

Um aspecto relevante a ser considerado é que o teste da linguinha é simples, indolor e de baixo custo.

É importante mencionar que nem todos os bebês com alguma limitação no frênulo lingual precisam de intervenção cirúrgica. Muitos casos são leves e não interferem significativamente na amamentação ou no desenvolvimento da fala. No entanto, sem o teste da linguinha, mesmo esses casos leves poderiam passar despercebidos, o que destaca a importância da avaliação inicial para a tomada de decisão informada.

Esse exame simples e de baixo custo promove um início de vida saudável, garantindo que o bebê possa se alimentar adequadamente, facilitando o processo de amamentação e contribuindo para o desenvolvimento adequado da fala e da mastigação.

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Dr. Giulliano Luchi

Médico. Mestre e Doutor em Otorrinolaringologia. Professor de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Título de especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Membro internacional da Academia Americana de Otorrinolaringologia. MBA em gestão de negócios em Saúde. Formação em Mentoring, Coaching e Advice. @otoclinica_giulliano_luchi