Das ferramentas integradas em sistemas online aos “dispositivos inteligentes”, atualmente a Inteligência Artificial (IA) faz parte de quase tudo que existe. No dia a dia de um cidadão comum, a tecnologia ajuda a escrever e-mails, resume textos, lê documentos, e está até nos eletrodomésticos, como geladeiras e televisões.
As ferramentas que buscam imitar a mente humana fazem processamentos ágeis e servem para resolver diversos problemas. No entanto, ao mesmo tempo em que a IA é empregada para automatizar tarefas em poucos segundos, ela também é vista como uma ameaça para parte da população que teme ser substituída.
De fato, os dados mostram que as ferramentas inteligentes chegaram para ficar. Segundo o estudo “Nossa vida com IA: da inovação à aplicação” (tradução livre) do Google em parceria com a Ipsos, no Brasil 54% das pessoas utilizaram IA generativa em 2024, superando a média global de 48%.
Já um estudo da McKinsey & Company – O estado da IA em 2024 – demonstra que 72% das empresas ao redor do mundo adotaram soluções de inteligência artificial no ano passado. Em 2023, eram 55%.
Frente a esta revolução tecnológica, o medo da ferramenta deve ser substituído por aprendizado, como defende o professor de Ciência da Computação da Faesa, Howard Cruz Roatti:
A IA veio para facilitar nossas vidas. Alguns empregos serão modificados, sim, mas não vão terminar, porque a IA não tem a mesma capacidade que o ser humano de empatia, por exemplo. Então ela vai conseguir fazer algumas atividades até certo ponto, mas a partir dali quem toma a decisão é o ser humano.
Então, funções sistemáticas e repetitivas que não exigem tomada de decisão podem, sim, ser efetuadas por sistemas inteligentes. Mas a tomada de decisão depende de um ser humano com capacidades e habilidades que não podem ser replicadas artificialmente.
O que o professor ressalta é que no lugar da substituição dos empregos, na verdade existe a necessidade de especialização dos profissionais. As pessoas terão que a cada dia aprender mais sobre a IA para fazer bom uso dela e aumentar a eficiência do próprio trabalho, já que, segundo Roatti, em breve ela será quase imperceptível no cotidiano.
“Com a disponibilização dessas inteligências, com mais fácil acessibilidade, nós vamos perceber cada vez menos onde elas estão e só vamos utilizá-las”.
Aplicações da IA
Com a capacidade de fazer cálculos, leituras e comparações em poucos segundos, a IA tem diversas funcionalidades. Por isso, ela está presente em diferentes áreas em maior ou menor grau.
Segundo a pesquisa do Google com a Ipsos, a maior parte dos brasileiros acredita que a IA é positiva em áreas como ciência e agricultura e também que ela vai aumentar as oportunidades de emprego.
Este pensamento positivo em relação à tecnologia pode ser comprovado com casos concretos do Espírito Santo. No Estado capixaba, a IA tem sido aplicada em diferentes esferas para solucionar problemas e melhorar a vida da população.
Na área de segurança pública, por exemplo, câmeras utilizam IA para fazer leituras de placas veiculares e identificar suspeitos de crimes e pessoas desaparecidas.
Já na educação, o professor da Faesa explica que ela pode ser utilizada para auxiliar nos estudos. “O aluno vai até onde ele consegue e, se tem alguma dificuldade, faz a busca na IA e pode combinar as informações”.
Serviços otimizados com IA
A IA também está cada vez mais presente nas empresas, que buscam implementar sistemas inteligentes para aumentar a produtividade e eficiência.
Conforme Luís Felipe Carvalho, CEO da Aevo – empresa de tecnologia e consultoria para inovação –, a IA já é uma tecnologia “de uso geral, que impacta todos os mercados e de fato muda a forma como fazemos negócio e vivemos a nossa vida”.
O especialista conta que, por isso, é importante definir estratégias com as ferramentas e também sensibilizar as pessoas para este processo de transformação, capacitando funcionários para agregar valor aos serviços com a tecnologia aplicada.
Isto é o que vem fazendo o cirurgião bucomaxilofacial – especialidade da odontologia que trata de traumas e deformidades na região da boca, maxilares e face –, Nicolas Souza. Ele tem usado a IA no dia a dia para fazer o planejamento virtual e impressões 3D das cirurgias.
Com a tecnologia, ele conta que é possível melhorar o tratamento oferecido ao paciente, visto que é possível gerar imagens do resultado da cirurgia antes mesmo de ela ser executada.
“Com os planejamentos virtuais, através da aquisição de uma imagem mais detalhada, nós conseguimos mostrar ao paciente como ele vai ficar”.
As fintechs também são bons exemplos de aplicação prática da IA. Gil Andriani, CEO da IACrypto – provedora que converte reais em criptomoedas e vice-versa –, conta que hoje 99,98% das transações são feitas completamente de forma automática, sem nenhum tipo de intervenção humana.
Na empresa, a tecnologia ainda está presente no atendimento ao cliente e no processo de validação da transação. “A IA valida se aquele é um bom cliente, se ele pode estar envolvido com lavagem de dinheiro, se ele traz algum risco aos negócios e até para ele mesmo”, explica.
Dessa maneira, as ferramentas garantem mais segurança e transparência aos serviços oferecidos e agiliza tarefas. Ela também é utilizada para aperfeiçoar processos internos, como contratar funcionários e aprimorar códigos.
Desafios do uso da IA
Apesar das facilidades e benefícios oferecidos pela inteligência artificial, o professor Roatti da Faesa explica que a IA pode errar e, por isso, conteúdos oferecidos por ela devem sempre ser checados.
“Quando você faz uma solicitação para a IA, você deve avaliar se aquilo realmente faz sentido. Você não pode sair pedindo uma receita milagrosa para a IA, porque provavelmente ela vai te dar, mas será que realmente existe?”.
A estudante de sistemas de Informação da Faesa Gabrielli Feletti responde:
A IA não sabe de tudo. Ela sabe o que foi ensinado e está na base de dados do treinamento dela. E quando ela não sabe algo, ela simplesmente inventa.
Sendo assim, os sistemas podem dar informações erradas que resultam de uma combinação incoerente de informações que eles têm à disposição ou ainda criar conteúdos falsos. “Tem disseminação de fake news, de deep fakes – que são fotos e vídeos produzidos com IA que não tem cunho verdadeiro”, pontua Gabrielli.
Um outro exemplo que a aluna da Faesa dá é a possibilidade de uma IA ser injusta e reproduzir preconceitos. Gabrielli estudou um caso de um sistema que, a partir de fotos com pessoas brancas e negras, escolhia fazer o recorte da imagem apenas com as pessoas brancas.
O problema não era o modelo de IA, e sim o banco de dados com que esse modelo havia sido treinado. Então, a IA não é o problema. O problema são os dados que ela recebeu, que nada mais são do que um reflexo social.
Por isso, a estudante e os demais especialistas ressaltam que as ferramentas inteligentes são sim facilitadoras da vida humana, mas devem sempre ser testadas e validadas, além de serem utilizadas sob supervisão.