Economia

Tarifaço de Trump deixa de fora laranja, celulose e Embraer. Principais afetados serão café e carnes

Decreto do tarifaço de Trump traz, por enquanto, 694 exceções ao aumento da tarifa para 50%; entrada em vigor será no dia 6 de agosto

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O presidente Donald Trump justificou tarifaço como forma de combater "violações de direitos humanos" no Brasil. Crédito: Reprodução/ Instagram
O presidente Donald Trump justificou tarifaço como forma de combater "violações de direitos humanos" no Brasil. Crédito: Reprodução/ Instagram

Foram três semanas de tensão entre empresários, associações setoriais e o governo, desde que o presidente americano Donald Trump anunciou, em 9 de julho, que as exportações brasileiras seriam taxadas em 50%. Esse tarifaço praticamente inviabilizaria a venda de boa parte dos produtos nacionais. Foi um período de conversas, negociações, lobbies, promessas, tudo na tentativa de amenizar o máximo possível os efeitos da taxação para os negócios no Brasil. Nesta quarta-feira, 30, veio o anúncio oficial do governo americano, que gerou um misto de alívio, para quem ficou de fora, e de apreensão entre os que não escaparam.

É uma longa lista de exceções do tarifaço. São 694 itens. Entre eles estão alguns produtos importantes na lista de exportações brasileira, como o suco de laranja, celulose e aviões da Embraer. Por outro lado, alguns produtos de peso na balança, como café, carnes e frutas passarão a ter uma alíquota extra de 40% – que se soma à de 10% atualmente em vigor, chegando à taxa de 50%. A medida entrará em vigor no dia 6 de agosto.

Impacto

Uma estimativa preliminar da Leme Consultores avalia que as exceções ao tarifaço atingem mais de 40% das exportações brasileiras para os EUA. De janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou US$ 20 bilhões para os Estados Unidos. Desse total, US$ 8,2 bilhões (41%) são de produtos que figuram na lista de exceções de Trump, enquanto US$ 11,81 bilhões são produtos que foram atingidos (59%).

Mesmo com as exceções, o impacto das tarifas de Trump para o Brasil será “muito grande”, segundo o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral.

Uma taxa de 50% é muito alta mesmo. A situação do Brasil é bem pior do que a da Europa e a do Japão, por exemplo, que foram taxados em 15%. Vai afetar muito o País, inclusive produtos em que o Brasil compete com outros, como a carne.

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior

Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, uma avaliação preliminar da medida, feita logo após a divulgação, indicava que o cenário de impacto com o tarifaço dos EUA não era “o pior possível”. “Parece que, do ponto de vista de efeito econômico, é menor que o cenário anterior”, afirmou, reforçando que não poderia reagir precipitadamente sem antes conhecer em detalhes a medida, incluindo as exceções no tarifaço aplicado pelos EUA. “O cenário do tarifaço não sendo o pior não quer dizer que não há impactos”.

Comemoração de quem ficou fora do tarifaço

Os setores que ficaram de fora do tarifaço, claro, comemoraram. Entre eles, os exportadores de suco de laranja. O diretor executivo da associação CitrusBR, que abriga as grandes empresas do setor, Ibiapaba Netto, disse ter recebido a notícia “com alívio e responsabilidade”.

Porém, mesmo desidratado em relação ao que se esperava, ainda assim a taxação é extremamente alta para muitos setores, o que deve provocar problemas graves em muitas empresas, provavelmente até com fechamentos de unidades e demissões.

José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira de Máqunas (Abimaq), observou que o setor não foi contemplado na lista de exceções. A visão dele é de que Trump beneficiou apenas produtos que terão impacto sobre a economia americana. Nesse sentido, no caso das máquinas, o Brasil é visto como um concorrente. Ele disse, contudo, que houve pelo menos a boa notícia de que os produtos já em trânsito para os EUA não serão tarifados.

Com esse cenário colocado, logo após o anúncio, o presidente Lula se reuniu com um grupo de ministros para discutir os próximos passos. Entre os presentes, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, da Secretaria de Comunicação Social e Sidônio Palmeira, da Secretaria de Relações Institucionais. E ainda, Gleisi Hoffmann e o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Tom político

O texto da ordem executiva assinada por Trump para justificar a taxação ao Brasil trouxe um tom muito mais político do que econômico. Ataca o governo brasileiro e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). E ainda faz uma defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e de “milhares de seus apoiadores” como alvos de “violações dos direitos humanos que minaram o Estado de Direito no Brasil”.

No texto, a Casa Branca informa:

Hoje, o presidente Donald J. Trump assinou uma Ordem Executiva implementando uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, elevando o valor total da tarifa para 50%, para lidar com políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos.

Comunicado da Casa Branca

A ordem declara uma nova emergência nacional, “utilizando a autoridade do presidente sob a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional de 1977 (IEEPA). E estabelece uma tarifa adicional de 40% para lidar com as políticas e ações incomuns e extraordinárias do governo do Brasil que prejudicam empresas americanas, os direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos, a política externa dos EUA e a economia dos EUA”.

Do mesmo modo, esse tom político permeou todas as discussões em torno do tarifaço, desde o início. Nesse sentido, quando anunciou a taxação, em 9 de julho, Trump justificou a medida dizendo que havia uma “caça às bruxas no Brasil”. Ele se referiu ao julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal. A questão econômica ficou em segundo plano nessas discussões. Até porque os Estados Unidos são superavitários há muitos anos na relação comercial com o Brasil.