
O que começou como uma experimentação em festivais gastronômicos se tornou uma marca registrada da cozinha capixaba contemporânea. A “Experiência Paella ao Vivo”, conduzida pelo chef Davi Maresias nos restaurantes Catuá e Maresias e em eventos como o Manguinhos Gourmet e o Jacaraípe Gourmet, coloca o público literalmente dentro da cozinha, mexendo, tocando, interagindo e deixando sua energia no prato que vai consumir minutos depois.
A proposta surgiu há cerca de três anos e tem inspiração em dois pilares: o programa de experiências turísticas do Sebrae e a tradição do festival Manguinhos Gourmet, do qual Davi participa há 18 edições. Segundo ele, a ideia nasceu do desejo de conectar gastronomia, território e afeto.
A paella a várias mãos vem de um fomento do Sebrae, onde aprendemos a criar produtos de experiência para o turista. Mas também nasce do Manguinhos Gourmet, que sempre nos permitiu esse contato direto com o público.
Davi Maresias, chef
A experiência foi se moldando até ganhar sua forma atual: autoral, interativa e já batizada por ele como “Experiência Paella ao Vivo”.
“É uma provocação direta com o público. Eles podem tocar, mexer, participar e colocar suas boas energias gastronômicas, turísticas e emocionais dentro da paella”, diz.
Interação real, emoção e música
A dinâmica segue um protocolo próprio. A paella começa com o fogo alto no tacho, etapa conduzida apenas pelos chefs. Depois, o público é convidado a entrar em cena usando colheres gigantes em formato de remos de baiteira, garantindo segurança e distância do calor.
Dali em diante, a experiência segue até o final: a mistura dos ingredientes, o cozimento e, por fim, o empratamento.
Davi conta que a alegria é nítida. “As pessoas dançam, filmam, entregam suas energias ali. Casais se revezam entre mexer e registrar o momento. As crianças também participam. É perceptível o quanto isso se transfere para o alimento”, afirma.
Para ele, a essência do projeto é unir pessoas. “A paella representa unir povos, etnias e permitir que qualquer pessoa viva uma experiência única, que antes só poderia ser encontrada em cursos ou eventos fechados. Hoje ela acontece em grandes eventos que fortalecem a gastronomia do Espírito Santo”, diz o chef.
‘Capixabismo’ no tacho
A marca pessoal de Davi Maresias aparece no toque regional dado à receita originalmente espanhola. A cada ano, a paella muda de sabor, incorporando ingredientes locais e identitários.
No Manguinhos Gourmet, a base já foi feita com creme de moqueca de banana-da-terra. No Jacaraípe Gourmet deste ano, o chef trouxe a lambreta de volta ao protagonismo.
“Procuramos sempre trazer produtos da terra. São paellas com socol, com banana-da-terra, com ingredientes do Espírito Santo e também da minha infância na Bahia. Isso tudo faz parte da nossa identidade capixaba”, afirma.
A sócia do chef, Thati Almeida, reforça esse impacto no posicionamento dos restaurantes Catuá e Maresias. “O Davi é referência de gastronomia capixaba e participa de ações de turismo no Brasil inteiro. Na experiência, colocamos casaca para tocar, já fizemos até premiação para quem mexe melhor a paella. Todo mundo posta, engaja, marca. É o tipo de conteúdo que mais viraliza”, diz.
Aceitação total e planos de expansão
A recepção do público é, segundo o chef, “100% positiva”. Em Manguinhos, a prática já virou tradição; em Jacaraípe, foi abraçada com entusiasmo, impulsionada pela maturidade do projeto.
Os planos do chef incluem expandir o formato e criar versões solidárias. “Quero fazer uma paella itinerante, fazer paellas solidárias e transformar isso em uma marca ainda mais forte. Hoje já são paellas capixabas, com a nossa identidade”, adianta.
Ele também não descarta adaptar a grande “paelleira” – a estrutura usada no preparo – para outros pratos de origem.
Paellas de 80 a 800 pessoas já foram feitas, sempre com rigor técnico: cálculo de ingredientes, cortes padronizados, mise en place antecipado e revezamento da equipe durante o calor intenso.
“A paella já é um produto fixo de todos os nossos eventos. Nada impede que a gente faça um grande arroz de polvo, uma galinhada, um baião de dois… Sempre trazendo o capixabismo como protagonista”, afirma.
Engajamento e posicionamento de marca
Para Thati, o impacto da experiência nas redes e no marketing é imediato.
“Não tem como: todo mundo que mexe publica. São os vídeos com mais visualizações. É a cara do nosso posicionamento: elevar o capixabismo e mostrar que a gastronomia do Espírito Santo tem identidade e força”, destaca.
Mais do que um prato, a experiência criada por Davi Maresias se torna um produto cultural, turístico e afetivo, e reforça o Espírito Santo no mapa da gastronomia brasileira.