Orgulho Capixaba

Cachaça capixaba Santa Terezinha entra para a lista das melhores do Brasil

Destilado produzido desde 1943 conquista destaque no guia “Mapa da Cachaça”, de Felipe Januzzi, e reforça a tradição capixaba no cenário nacional

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Adwalter Menegatti. Foto: Arquivo
Adwalter Menegatti. Foto: Arquivo

Setembro, o mês dedicado à cachaça, começou com um feito histórico para o Espírito Santo. A cachaça Santa Terezinha, produzida há mais de 80 anos, foi reconhecida entre as melhores do Brasil no Guia Mapa da Cachaça, elaborado pelo pesquisador e especialista Felipe Januzzi.

Duas edições da marca capixaba alcançaram notas expressivas, 92,5 e 93,5 pontos, e figuraram entre as cinco melhores do país. Além disso, a Santa Terezinha foi premiada em categorias como produtor e design, reforçando a excelência que une tradição e inovação.

A história da Santa Terezinha remonta a 1943, quando os italianos Antônio Menegatti e Rodolpho Torezani decidiram transformar paixão e tradição em destilados de qualidade. Hoje, quem carrega esse legado é Adwalter Menegatti, neto de Antônio, responsável por manter a produção artesanal em terras capixabas.

“Cada detalhe importa, da escolha da madeira ao envelhecimento. Quando tudo se encaixa, a cachaça não apenas agrada… ela emociona”, resume Adwalter.

Da cana ao alambique

A Santa Terezinha segue métodos clássicos, mas com olhar moderno. A cana é cortada sem queima e a destilação ocorre em alambiques de cobre, prática que garante a pureza e a riqueza aromática da bebida.

Essa dedicação ao processo já rendeu prêmios nacionais e internacionais, entre eles medalhas de ouro em Bruxelas e no World Spirit Award, além de diversos reconhecimentos na tradicional Expocachaça de Belo Horizonte.

Um “maestro” da cachaça

Adwalter costuma se definir como maestro de suas próprias criações. Para ele, elaborar uma boa cachaça é como reger uma orquestra: tudo precisa estar em harmonia.

Ele explica o processo a partir de cinco elementos fundamentais: complexidade, intensidade, tipicidade, equilíbrio e persistência.

A complexidade, segundo ele, é quando a cachaça revela aromas e sabores diferentes ao mesmo tempo: frutas, flores, especiarias, madeira, notas defumadas. “É como uma boa música tocada por vários instrumentos em harmonia”, compara.

Já a intensidade é o “volume” dessa melodia, podendo ser suave e convidativa ou marcante e potente. A tipicidade, por sua vez, revela a identidade: o sotaque da bebida, que expressa a cana, o terroir e o tipo de madeira utilizada no envelhecimento.

O equilíbrio garante que nenhum elemento se sobreponha. E, por fim, a persistência é como o refrão que fica na memória: o sabor que permanece na boca, prolongando a experiência.

“Quando tudo encaixa, a cachaça não apenas agrada. Ela emociona”, repete Adwalter, em sua definição quase poética da bebida.

Excelência em cada garrafa

Atualmente, a Santa Terezinha oferece diferentes linhas de produtos, sempre com atenção aos detalhes. A Signature, por exemplo, reúne aguardentes envelhecidas de 3 a 8 anos, com graduação alcoólica entre 48% e 54%.

Produzidas a partir de caldo de cana fresco e destiladas lentamente em alambique de cobre aquecido a lenha, essas cachaças passam por tonéis selecionados que intensificam sabores como caramelo, coco, avelã e maçã com especiarias. O resultado é um destilado de perfil sensorial rico, sofisticado e sem aditivos.

Sustentabilidade e inovação

A tradição não impede o olhar para o futuro. Segundo a destilaria, todo o processo é pensado para minimizar o impacto ambiental. O compromisso também envolve a valorização de artistas capixabas, como no caso da linha Crafted, que leva no rótulo uma serigrafia assinada por DelSanto.

Essa linha, produzida com cana do tipo caiana, traz frescor e suavidade, sendo indicada tanto para consumo puro quanto em caipirinhas e coquetéis tropicais.

Um espaço para conhecer

Quem quiser experimentar a tradição capixaba pode visitar o espaço da Santa Terezinha no Hortomercado, em Vitória. Ali, o público encontra não apenas os rótulos da marca, mas também a oportunidade de se aproximar dessa história.

A visão do especialista
Felipe Januzzi Foto: Divulgação

O reconhecimento da Santa Terezinha faz parte de um projeto maior de valorização da cachaça brasileira. O pesquisador Felipe Januzzi, autor do guia que destacou a marca capixaba, passou mais de uma década mapeando produtores por todo o país.

“Desde 2012 eu viajo pelo Brasil registrando histórias e receitas de produção. Para o guia, chamamos um grupo de 10 especialistas, todos calibrados para avaliar cerca de 200 cachaças vindas de diferentes regiões”, contou Januzzi.

Segundo ele, o processo levou em conta mais de 40 critérios, como aroma, visual, paladar, retrogosto e cor, além de análises físico-químicas feitas em parceria com laboratórios da USP.

A obra de Januzzi, publicada em português e em inglês, busca mostrar ao mundo que a cachaça está entre os grandes destilados globais. Além do sabor, o guia também avaliou critérios de design e sustentabilidade, premiando marcas que unem qualidade, responsabilidade e identidade.

“Queremos mostrar que a cachaça é a cara do Brasil. Mais do que uma bebida, é um patrimônio cultural e sensorial do nosso país”, afirma Felipe Januzzi.

Tradição que se renova

Com reconhecimento crescente, a Santa Terezinha vem conquistando uma nova geração de apreciadores. Para esse público, a marca aposta em rótulos modernos, sofisticados e sustentáveis, sem abrir mão do caráter artesanal.

Seja em competições internacionais, nas prateleiras especializadas ou no brinde entre amigos, a cachaça capixaba mostra sua força. E, agora, com lugar garantido entre as melhores do Brasil, reforça que o Espírito Santo tem muito a dizer e a brindar no universo da cachaça.

Alessandro Eller

Colunista

Chef de cozinha, apresentador do reality show "Chef de Família" da TV Vitória/Record TV. É presidente do Instituto Panela de Barro e professor de Gastronomia na Universidade de Vila Velha

Chef de cozinha, apresentador do reality show "Chef de Família" da TV Vitória/Record TV. É presidente do Instituto Panela de Barro e professor de Gastronomia na Universidade de Vila Velha