Gastronomia

Da tradição ao defumado: as técnicas de churrasco que vão incendiar o Festival Na Brasa

Fogo de chão, pit smoker e outras artes do assado serão apresentadas por chefs renomados no maior evento de churrasco do Espírito Santo

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Foto: Arquivo / Coluna Alessandro Eller
Foto: Arquivo / Coluna Alessandro Eller

O fogo é ancestral. Desde os primeiros encontros humanos ao redor da chama, ele se tornou mais do que fonte de calor: virou espaço de convívio, de histórias e de partilha. No churrasco, essa herança cultural encontra expressão máxima, seja nas técnicas tradicionais que atravessam gerações ou nas inovações que reinventam o sabor da carne.

No Espírito Santo, essa conexão ganha forma no Festival Na Brasa Music Beer, que acontece de 04 a 07 de setembro no estacionamento do Shopping Vitória. O evento promete unir tradição e modernidade em um verdadeiro espetáculo gastronômico.

Mais do que degustar cortes e receitas especiais, o público terá a oportunidade de conhecer de perto diferentes técnicas de preparo, do clássico fogo de chão, símbolo de paciência e ritual, ao pit smoker, ícone do American Barbecue.

A arte do fogo de chão

Entre as técnicas que estarão em evidência no festival, o fogo de chão ocupa um lugar especial. Lento, exigente e carregado de simbolismo, ele pede paciência e respeito à chama.

Para o chef e mestre churrasqueiro Sérgio Farias, a paixão por essa técnica é quase uma filosofia de vida.

O fogo de chão é um jogo de paciência e de muito trabalho e dedicação que a gente faz com maior carinho. Eu sou apaixonado por essa técnica e não me vejo assando de outra forma, revela Sérgio.

Nascido em Jerônimo Monteiro, filho de agricultor familiar e hoje morador de Muniz Freire, Sérgio construiu sua trajetória com base na gastronomia e na cultura do assado. Ele ressalta que cada detalhe influencia no resultado final: a escolha do local, o vento, a qualidade da lenha e a distância da carne em relação à brasa.

“O distanciamento ideal é de 60 a 80 centímetros, para que o calor chegue de forma uniforme à proteína”, explica. O processo pode levar de 8 a 14 horas, dependendo da carne e do clima. Durante esse tempo, a conversa flui, os laços se fortalecem e a espera se torna parte da experiência.

Outro defensor da técnica é o chef Paulo Buzon, vencedor do reality Na Brasa em 2024 e dono dos restaurantes Cordilheira Amaro e Fuego, em Pedra Azul, e Cordilheira Parrilabar, em Cachoeiro de Itapemirim. Para ele, o fogo de chão é mais do que um método: é um legado cultural.

O fogo de chão veio dos nossos conterrâneos da Serra Gaúcha, dos indígenas, e ao longo dos anos foi se aperfeiçoando. Ele traz um sabor e uma suculência única para o churrasco. Não é só colocar carne: você tem que colocar a sua alma junto, afirma Paulo.

O sabor do pit smoker

Se o fogo de chão carrega a tradição, o pit smoker representa inovação e identidade. Essa técnica, nascida nos Estados Unidos, conquistou espaço no Brasil ao longo da última década e promete encantar os visitantes do festival.

Chef Arthur Binda Foto: Arquivo / Coluna Alessandro Eller

O mestre churrasqueiro Arthur Binda é especialista em American Barbecue e lembra que a defumação é a essência do método. “Nos Estados Unidos, o corte mais apreciado é o brisket, a nossa ponta de peito. Ele é preparado em baixa temperatura, com lenhas frutíferas, para extrair mais aromas e sabores”, explica.

O uso do dry rub, mistura de temperos secos, também é marca registrada. Cada assador imprime sua identidade no preparo, seja pela combinação de especiarias ou pela escolha da madeira.

Mas há uma diferença importante de paladar entre americanos e brasileiros.

Nos Estados Unidos, a carne costuma ser mais picante e carregada de açúcar. Eu procuro adaptar, trazendo técnicas americanas que sejam mais aceitáveis para o gosto brasileiro, destaca Arthur.

A evolução tecnológica também transformou o American Barbecue. “Os novos pits com fluxo direto têm tomado o lugar dos equipamentos mais antigos, garantindo melhor transmissão de calor e fumaça. A técnica evolui junto com a tecnologia, e isso tem sido muito bacana”, completa.

Pit Smoker Foto: Arquivo / Coluna Alessandro Eller
Histórias que inspiram

Por trás das brasas, há também histórias de vida marcadas por superação e paixão. O chef Paulo Buzon talvez seja o maior exemplo disso. Empresário do ramo gráfico, viu sua trajetória mudar completamente após perder os rins e enfrentar anos de hemodiálise até realizar um transplante.

“Quando você passa por um processo desse, enxerga a vida de outra forma. Eu decidi que ia fazer o que realmente gosto: gastronomia”, conta. Entre dificuldades financeiras e incertezas, Buzon encontrou na cozinha um novo propósito, que o levou a estudar na Argentina e se consolidar como referência no Espírito Santo.

O título conquistado no reality Na Brasa em 2024 abriu ainda mais portas, mas ele faz questão de destacar o papel do fogo de chão em sua carreira. “Essa técnica me trouxe títulos, reconhecimento e, principalmente, a chance de entregar pratos que emocionam quem prova”, diz.

A trajetória de Sérgio Farias também inspira. De filho de agricultor familiar a mestre churrasqueiro em festivais, ele viu no fogo de chão a chance de empreender e construir seu próprio buffet de churrasco.

Já Arthur Binda se apaixonou pelo American Barbecue há mais de 10 anos, quando viajou para São Paulo em busca de conhecimento. “Era uma novidade que estava chegando ao Brasil. De lá para cá, o churrasco americano só cresceu, principalmente em grandes eventos gastronômicos”, relembra.

Churrasco como experiência coletiva

Mais do que um preparo culinário, o churrasco é uma experiência coletiva. Seja no fogo de chão, que reúne amigos em torno da espera, ou no pit smoker, que surpreende com aromas defumados, cada técnica cria memórias e celebrações.

No Festival Na Brasa, essa diversidade estará ao alcance do público, que poderá aprender com os mestres, assistir às aulas-show e provar cortes preparados com paixão e técnica.

É uma oportunidade rara de mergulhar em diferentes culturas gastronômicas sem sair de Vitória, e de sentir como a chama une tradição, inovação e sabor em um mesmo espaço.

A chama que une tradição e inovação

O Festival Na Brasa Music Beer se consolida como ponto de encontro para quem ama a brasa. Mais do que um evento, é uma celebração da cultura do churrasco em todas as suas formas.

Para os chefs e mestres churrasqueiros, é também um espaço de compartilhar conhecimento, trocar experiências e manter viva a chama da tradição.

Como resume Paulo Buzon: “Fazer churrasco todo mundo sabe, mas fazer um churrasco bom e com qualidade não é qualquer um. É preciso entregar alma, técnica e amor para que as pessoas se encantem com o resultado.”

Serviço

Festival Na Brasa Music Beer

Local: Estacionamento do Shopping Vitória – Vitória/ES
Data: 04 a 07 de setembro de 2025
Entrada: Gratuita
Destaques: mais de três toneladas de carne, oito estações de preparo, aulas-show com chefs renomados, música ao vivo e espaço kids

Alessandro Eller

Colunista

Chef de cozinha, apresentador do reality show "Chef de Família" da TV Vitória/Record TV. É presidente do Instituto Panela de Barro e professor de Gastronomia na Universidade de Vila Velha

Chef de cozinha, apresentador do reality show "Chef de Família" da TV Vitória/Record TV. É presidente do Instituto Panela de Barro e professor de Gastronomia na Universidade de Vila Velha