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Decisão da CCJ do Senado sobre armas causa reações distintas

Decisão da CCJ do Senado sobre armas causa reações distintas Decisão da CCJ do Senado sobre armas causa reações distintas Decisão da CCJ do Senado sobre armas causa reações distintas Decisão da CCJ do Senado sobre armas causa reações distintas

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira, 12, por 15 votos a 9, projetos que anulam o decreto do presidente Jair Bolsonaro que flexibilizou o porte de armas no País. Os projetos ainda precisam passar pelo plenário da Casa, o que só deve ocorrer no dia 18, e pela Câmara dos Deputados.

A decisão dividiu especialistas. Na visão do promotor do Ministério Público de São Paulo (MPE-SP) Felipe Zilberman, a comissão foi “corretíssima”. Segundo afirma, o decreto seria inconstitucional porque “viola” o Estatuto do Desarmamento, lei federal de 2004, que não pode ser alterada dessa forma. “Se o presidente quer cumprir uma promessa de campanha, o que não há problema, tem de submeter essas mudanças ao Congresso. Só assim é possível revogar a lei”, diz. “O que não é possível é, por uma canetada, fazer do texto legal uma tábula rasa.”

Para Zilberman, a decisão da CCJ deve ser confirmada nas próximas votações no Senado e na Câmara. “Ainda que o texto seja aprovado politicamente, uma possibilidade remota, o decreto não resiste à análise de inconstitucionalidade do Judiciário”, projeta.

Já o presidente do Movimento Viva Brasil e líder pró-armas, Bene Barbosa, afirma que a decisão da CCJ foi “ideológica” e “partidária”. “Embora o alegado seja que o decreto extrapolou os limites e entrou na seara do Legislativo, em nenhum momento nenhum dos senadores conseguiu mostrar, tecnicamente, onde aconteceu isso.”

Para ele, o decreto não apresentaria “problemas legislativos ou constitucionais”. “Todos os decretos anteriores, dos últimos 30 anos, que eram sempre a favor de mais restrições a armas, jamais tiveram esse problema. O debate tem sido ideológico, entre quem acredita que o Estado tem o monopólio da força e quem acredita que os cidadãos têm direito à legítima defesa, no que me incluo.”

Critérios

“O decreto deu objetividade a critérios, que antes eram subjetivos, para que o cidadão possa ter a posse de arma, se quiser”, afirma Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp). No entanto, a votação da CCJ indica, para ela, que a questão do armamento ainda precisa de uma “discussão mais madura”. “Se há rejeição é porque a opinião da sociedade sobre o próprio decreto ainda não está solidificada, apesar de o presidente ter sido eleito com essa proposta.”

Coordenador do estudo Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz afirma que a proposta vai “na contramão da história”. “Não há prova material mostrando que armar pacifica a população. Todas as pesquisas sérias mostram exatamente o contrário: quanto mais armas maior a quantidade de homicídios e de mortes”, diz.

Em nota, o Instituto Sou da Paz comemorou a “vitória parcial” na CCJ e disse que a diminuição da circulação de armas no Brasil, desde o Estatuto do Desarmamento, está relacionada à redução de índices de assassinato. “Antes, o crescimento anual dos homicídios era de 8,1% – índice que foi reduzido para 2,2%.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.