Uma sensação de queimação constante na boca, como se a mucosa estivesse em chamas, mas sem que exames clínicos revelem alterações visíveis. Essa é a Síndrome da Ardência Bucal (SAB).
A síndrome acomete, principalmente, mulheres entre 50 e 70 anos, coincidindo com a pós-menopausa. A presença em homens é significativamente menor, o que reforça o papel das alterações hormonais no desencadeamento da condição, como explica a dentista Beatriz Coutens.
Nessa fase da vida, alterações fisiológicas e hormonais favorecem a sensação de boca seca e a redução do volume de saliva produzido, condição conhecida como xerostomia, fatores que contribuem para a sensação de queimação contínua na boca.
Beatriz Coutens, dentista
Características da SAB
Muitas vezes, a falta de lesões aparentes, comum em pessoas com SAB, faz com que o diagnóstico seja complicado, o que deixa a paciente ansiosa. Além disso, de acordo com Beatriz, a Síndrome da Ardência Bucal é pouco conhecida e debatida
“Muitas vezes essa paciente vai levar essa queixa ao consultório, mas, ao fazer o exame da região, o dentista não encontra nenhuma alteração. Essas pacientes acabam ficando sem uma conclusão, sem um diagnóstico e sentindo uma certa incompreensão”, analisa.
A característica central da SAB é a sensação persistente de ardência ou queimação na cavidade oral, especialmente na língua, mas também em gengivas, palato e lábios. Em alguns casos, o desconforto pode durar meses ou até anos, trazendo uma sensação de desconforto permanente que pode comprometer a alimentação e até o sono, causando irritabilidade.
“Essa é uma alteração neuropática, ou seja, dos nervos da face. Além de questões relacionadas à menopausa, essa alteração também pode ter relação com o uso de algumas medicações psiquiátricas, que podem causar alterações na modulação neural, levando a essa sensação de queimação bucal”, afirma Coutens.
Tratamento
Não existe um tratamento único e definitivo para a Síndrome da Ardência Bucal. O objetivo das terapias é aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
“A laserterapia pode ser uma aliada importante para alívio dos sintomas, assim como a intensa hidratação da mucosa da boca, utilizando a vitamina E. Em alguns casos, utilizamos um medicamento, um modulador neural de forma tópica, para fazer a regulação da enervação, reduzindo essa sensação de queimação”, aponta a dentista.
Para ela, a chave está em oferecer acolhimento às pacientes, pois a ardência bucal pode não deixar marcas visíveis, mas causa um sofrimento significativo. “Reconhecer essa dor, oferecer acompanhamento adequado e personalizar o tratamento são passos fundamentais para devolver qualidade de vida a essas mulheres”, ressalta