Existem águias na Mata Atlântica do ES? Veja fotos!

Na verde Mata Atlântica do Espírito Santo, a presença de Harpias revela a riqueza e os desafios da conservação ambiental. Este artigo explora a vida e a luta pela sobrevivência dessas águias majestosas, destacando o trabalho vital do Projeto Harpia. Acompanhe a jornada pessoal do fotógrafo Leonardo Merçon, que através de suas lentes captura não apenas imagens, mas histórias de resistência e resiliência da fauna brasileira. Descubra o papel crucial das Harpias no ecossistema e o impacto da conservação para garantir seu futuro na natureza.

1 de maio de 2024
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Existem águias na Mata Atlântica do Espírito Santo? Sim. E são lindas!

Encontro com gigantes

Em meio à densidade verde da Mata Atlântica do Espírito Santo, um silêncio intrigante é quebrado pelo canto de um gigante. 

Um silvo agudo que ecoa por toda a floresta. O ouvido atento dos pesquisadores já conseguem entender o que aquilo significa e seus olhos chegam a brilhar enquanto procuram por algo na copa das árvores.

Primeiro, um vulto passando em meio às sombras da floresta, e em seguida uma visão impressionante se apresenta dominando a paisagem da floresta, na árvore mais alta das redondezas. Um casal de águias cortejando próximas ao seu ninho.

Harpia no ninho na Mata Atlântica do Espírito Santo, olhando diretamente para a câmera, simbolizando a conexão entre natureza e humanidade.

Uma Harpia no seu ninho, fixando o olhar na lente, capturando a essência da vida selvagem | Foto: Leonardo Merçon

A Harpia, conhecida como gavião-real, é uma manifestação viva do poder e da majestade que ainda habita nossas florestas. 

A fotografia que acompanha esta matéria foi fruto de uma jornada pessoal de descobertas e desafios na Reserva Natural Vale, no complexo florestal Sooretama-Linhares, do qual a importante Reserva Biológica de Sooretama também faz parte. 

Pesquisador caminha por trilha na Reserva Natural Vale, pequeno em comparação à vastidão da floresta, iluminado por raios de sol que penetram a densa folhagem.

Na imensidão da Mata Atlântica, um pesquisador (Brener Fabres, do Projeto Harpia) avança pela Reserva Natural Vale, uma cena que captura a escala humana frente à natureza | Foto: Leonardo Merçon

Há muitos anos sou colaborador do Projeto Harpia, o que me possibilitou muitos encontros lindos com essas criaturas magníficas que dominam o céu, como esse da foto, em uma das regiões mais ricas e biodiversidade do Espírito Santo. Além de fazer amigos especiais que também se importam com a natureza.

Leonardo Merçon e o Professor Aureo Banhos, coordenador do Núcleo Mata Atlântica do Projeto Harpia, realizam a vigilância de um ninho de harpia na densa floresta, cercados por mosquitos.

Leonardo Merçon ao lado do Professor Aureo Banhos, coordenador do Núcleo Mata Atlântica do Projeto Harpia, durante uma longa vigilância de ninho de Harpia na Mata Atlântica, demonstrando o compromisso e os desafios da conservação, com muito calor e mosquitos | Foto: Leonardo Merçon

A fotografia tão esperada

A captura dessa imagem não foi mero acaso. Acompanhado por pesquisadores do Projeto Harpia, que dedica-se incansavelmente à conservação desses seres majestosos, minha aventura começou ao raiar do dia. 

Ao alcançarmos o ninho, fomos recebidos pelo olhar vigilante da fêmea em cima de seu enorme ninho. 

Harpia sobre um ninho grande na Mata Atlântica, observando o horizonte, destacando a imponência e o instinto de vigilância da espécie.

Uma Harpia observa o horizonte de seu ninho impressionantemente grande na Mata Atlântica | Foto: Leonardo Merçon

A troca de olhares com a Harpia, que por um momento me fitou diretamente, foi tão impactante que o tempo pareceu congelar – foi então que o clique da câmera eternizou aquele meu momento, aquela história que agora, também fazia parte de minha vida.

O voo pela conservação

A Harpia, apesar de sua aparência intimidadora e enorme força, é uma criatura sensível, que depende da floresta saudável para sobreviver e enfrentar desafios diários.

O desmatamento e a fragmentação de habitats têm restringido severamente seus territórios de caça e reprodução. A caça ilegal também é um problema que diminuem suas chances de sobrevivência na Mata Atlântica, um dos biomas mais devastados do planeta. 

Tendo isso em perspetiva, o Projeto Harpia, juntamente com parceiros importantes, tem sido uma força vital para estas águias, permitindo que pesquisadores e voluntários monitorem e protejam seus ninhos.

Bem como sensibilizem as pessoas sobre essas águias, sua ecologia e importância para o equilíbrio ambiental.

Reflexões de uma predação capturada

Isso me faz lembrar de uma situação que vivi, também acompanhando o Projeto Harpia em Carajás, no Pará. 

Recentemente, um VÍDEO que postei no Instagram capturando o momento exato em que uma Harpia predava um quati gerou uma onda de comentários e discussões fervorosas. 

Harpia capturando um quati na Amazônia, destacando a força e a habilidade predatória desta majestosa ave de rapina.

Momento dramático na Amazônia: uma Harpia captura um quati. No vídeo registrado desse momento e postado no instagram, pude verificar diversas dúvidas do público que gostaria de responder | Foto: Leonardo Merçon

O registro, além de mostrar a crua realidade da cadeia alimentar, abriu espaço para um debate importante sobre a interação entre predador e presa. 

Ao documentar tais momentos, minha intenção é oferecer uma janela para a complexidade da natureza, onde a vida e a morte se entrelaçam de maneiras que são ao mesmo tempo brutais e necessárias para o equilíbrio ecológico.

Águia ou Gavião?

Muitos dos comentários no vídeo destacaram uma confusão comum: a distinção entre “gavião” e “águia”. 

A Harpia, apesar de ser frequentemente chamada de “gavião-real”, é classificada como uma águia devido a características específicas, como seu tamanho imponente e garras poderosas. 

Harpia imponente pousada em um galho, de frente para a câmera, exibindo seu penacho distintivo e garras poderosas na Mata Atlântica.

Diante da câmera, uma Harpia revela seu penacho marcante e garras formidáveis, um símbolo de força na Mata Atlântica | Foto: Leonardo Merçon

A distinção entre “águia” e “gavião” tem tanto aspectos populares quanto científicos, mas não é uma classificação taxonômica rígida. 

Na linguagem popular, as diferenças muitas vezes são baseadas em percepções gerais de tamanho, poder e comportamento. 

Cientificamente, águias e gaviões são classificados dentro da mesma família, Accipitridae, e as diferenças são mais sutis e variam de espécie para espécie.

Em resumo, embora esses termos tenham uma base científica ao descrever grupos de aves de rapina, a aplicação desses nomes pode variar e é frequentemente influenciada por fatores culturais e regionais. 

Por isso, na ciência, os pesquisadores se referem mais frequentemente aos nomes científicos para evitar confusão.

A maior das águias?

Um outro ponto controverso que surgiu nos comentários foi se a Harpia é a maior águia do mundo. 

Segundo pesquisadores da área me orientaram, apesar de a Harpia ser a mais pesada, robusta e poderosa, existem outras águias que têm uma envergadura maior de asa. 

A questão de “quem é a maior” depende de como medimos: se por peso e robustez, a Harpia certamente lidera; se por envergadura de asas, ela pode não ser a maior. Pelo que percebi em minhas buscas, não existe um consenso sobre a questão.

Esta discussão nos lembra que a natureza não opera em definições simples, mas sim em uma matriz de adaptações e habilidades que variam amplamente entre as espécies.

O dilema do predador e da presa

A reação ao vídeo também revelou uma profunda empatia pelo quati, uma presa no ciclo natural de predadores. 

Esta dualidade de sentimentos é comum quando testemunhamos a realidade muitas vezes dura da natureza. 

Por um lado, sentimos tristeza pela presa; por outro, reconhecemos a necessidade do predador de alimentar-se e, por extensão, sustentar a cadeia ecológica. 

É essencial respeitar e compreender essas interações, pois elas são fundamentais para a manutenção da biodiversidade e saúde dos ecossistemas.

Entre a lente e o coração

A jornada para fotografar as Harpias é repleta de aprendizados e reflexões. 

Cada imagem capturada carrega consigo histórias de resistência e resiliência. Através da fotografia, busco não apenas documentar a beleza desses seres, mas também sensibilizar o público sobre a importância de sua conservação. 

Afinal, cada fotografia pode se tornar uma ponte entre a natureza e a empatia humana.

O Projeto Harpia

O Projeto Harpia se destaca como um símbolo na luta pela conservação das aves de rapina, em especial da majestosa Harpia.

Iniciado em 1997 pela pesquisadora Tânia Sanaiote, este projeto não apenas busca proteger essas poderosas águias, mas também visa aumentar o entendimento público e científico sobre suas necessidades e os desafios que enfrentam.

Por meio do mapeamento de ninhos, monitoramento da atividade reprodutiva e campanhas de sensibilização, o Projeto Harpia trabalha para garantir um futuro para essas aves, simbolizando o compromisso com a preservação de nossos ecossistemas mais vulneráveis.

Grupo de pesquisadores do Projeto Harpia, de diversas regiões do Brasil, reunidos em uma mesa de trabalho discutindo estratégias de conservação da Harpia.

Pesquisadores do Projeto Harpia, unidos em esforço colaborativo, debatem conservação desta ave majestosa na Mata Atlântica | Foto: Leonardo Merçon

Apoiado por uma rede de pesquisadores, voluntários e comunidades locais, cada ação do projeto é um passo em direção à continuidade da existência dessas aves fantásticas.

Um convite à descoberta

Convido todos os leitores a mergulharem mais profundamente na história dessas águias e a apoiar iniciativas como o Projeto Harpia. Confiram o SITE e o INSTAGRAM.

Através do meu trabalho, espero inspirar ações que promovam a conservação ambiental e a valorização de nossa rica biodiversidade. 

Descubra mais sobre essas criaturas fascinantes e busque formas de você também fazer parte dessa importante missão de conservação.

Espero que tenham gostado de mais essa história. Te vejo na próxima aventura!

Leonardo Merçon, fotógrafo de natureza sorri enquanto um passaro chamado de "corrupião" ou "sofrê" pousa em sua câmera, interagindo com o fotógrafo.

Foto: Iago Bueno

Por Leonardo Merçon

Fotógrafo e Cinegrafista de natureza, fundador do Instituto Últimos Refúgios, apaixonado pelo meio ambiente!

Junte-se a mim nesta incrível jornada de descobertas sobre a vida selvagem e veja mais histórias lindas que vivo estando sempre explorando a natureza. 🌳

 

 

 

 


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