Itaipu: curiosidades que você nem imagina

Luciene Araujo
Hidrelétrica de Itaipu, uma gigante

Foto: Viagens e Menus

Itaipu é uma gigante. E quando o assunto é grandeza em construção, o Brasil é referência global. Talvez a maioria das pessoas não saiba, mas em solo brasileiro estão 14 das 50 maiores obras de infraestrutura do mundo.

E o que não faltam são curiosidades sobre essas obras gigantes. Então, vamos começar pela maior delas, a hidrelétrica de Itaipu, que contou com o trabalho de alguns capixabas em sua construção.   E neste grupo que vez por outra encontrava um jeitinho para saborear a tradicional moqueca,  estava o engenheiro civil  Jarua Voellger Nogueira, que havia se formado há dois anos na Ufes. E por lá, ele permaneceu durante 10 anos, período em que vivenciou inúmeros desafios.

Itaipu, a campeã

Itaipu que na linguagem tupi-guarani significa pedra de águas cantantes. E quem conhece a usina de Itaipu, localizada no Rio Paraná, logo entende porque desse nome. “As àguas realmente cantam”, conta a economista Tathyama Maia, que conheceu  o local em 2015, em uma viagem com a família. “Tivemos a sorte de assistir as  turbinas entrarem em funcionamento assim que chegamos. Impressiona a gradiosidade da obra”, completou.

E ela tem razão. Afinal, estamos falando da maior barragem do Brasil e a segunda maior do mundo, perdendo apenas para a usina hidrelétrica de Três Gargantas na China.

O Complexo Hidrelétrico de Itaipu é um projeto do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, inaugurado em 1984. Hoje, a barragem consegue gerar até 14 mil megawatts por hora e possui aço suficiente para construir 380 Torres Eiffel. O comprimento é de quase 8 mil metros e 1.350 km² de área alagada. Além de estar no topo do ranking das maiores obras de engenharia civil do Brasil, a usina hidrelétrica de Itaipu é a maior produtora de energia limpa do mundo.

Em 2022, o turismo da margem brasileira da usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), recebeu 418.819 visitantes.

Anos de espera

Turbinas itaipu

Parte do conjunto de turbinas da usina. Foto: Viagens e Menus

Somente em 1982 as obras da barragem da Usina de Itaipu foram concluídas. Então, teve início a operação Mymba Kuera (que em tupi-guarani significa “pega-bicho”). Assim, os profissionais envolvidos salvaram a vida de 36.450 animais que viviam na área a ser inundada pelo lago. Devido às chuvas fortes e enchentes da época, as correntezas do Rio Paraná levaram 14 dias para encher o reservatório. A lâmina de água soma 135 mil hectares, ou quatro vezes o tamanho da Baía da Guanabara.

Finalmente, no dia 5 de novembro de 1982, com o reservatório já formado, os presidentes do Brasil, João Figueiredo, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, inauguraram oficialmente a maior hidrelétrica do mundo, após mais de 50 mil horas de trabalho. Ou seja, acionaram o mecanismo que levanta automaticamente as 14 comportas do vertedouro, liberando a água represada do Rio Paraná.

No entanto, o projeto só foi mesmo finalizado, com as 20 unidades geradoras de energia conforme planejado, em 2016. Atualmente, a usina é responsável por 19,3% da energia consumida no Brasil. Da mesma forma, abastece 91% do consumo paraguaio e tem potência total instalada de 14.000 MW.

Curiosidades sobre Itaipu

Itaiupu. Panorâmica

Usina ainda em construção. Foto: Andrade Gutierrez

A primeira delas é que a Usina de Itaipu foi a única grande obra a sobreviver a fase mais aguda da crise econômica brasileira.

O início da construção foi em 1974, quando chegaram as primeiras máquinas no canteiro de obras. Desde então, a Usina Hidrelétrica de Itaipu tem uma história cheia de fatos bem interessantes. Muitos deles, foram presenciados pelo engenheiro civil  Jarua Voellger Nogueira, que integrou a equipe responsável pela obra durante 10 anos. Tempo suficiente para ter dois filhos paranaenses, hoje com 43 e 46 anos.

Nogueira havia se formado há dois anos e estava no Paraná, para a construção de uma estrada. Até que recebeu uma visita inesperada em um sábado. “Um homem passou na porta da minha casa, viu uma caravan amarela com placa de Vitória, igual a dele. Parou, descobriu que eu era engenheiro, e me pediu para ir ao RH da empresa e levar meu currículo. Assim comecei a trabalhar na usina e fiquei lá por muito tempo”, conta.

Entre 1975 e 1978, mais de 9 mil moradias foram construídas nas duas margens para abrigar os trabalhadores. Foi necessário erguer até um hospital, o Madeirinha, que mais tarde se tornaria o Costa Cavalcanti. Foz do Iguaçu era uma cidade com apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil moradores. Em dez anos, a população ultrapassou a marca de 101 mil habitantes.

“Um dos desafios era estruturar o organograma”, aponta Nogueira. E ele sabe o que está dizendo. No auge da construção da barragem, a Hidrelétrica de Itaipu mobilizou diretamente cerca de 40 mil trabalhadores no canteiro de obras e nos escritórios de apoio no Brasil e no Paraguai.

Trabalho de Hércules

A primeira tarefa foi alterar o curso do Rio Paraná. Assim, os trabalhadores tiveram de fazer um “trabalho de Hércules”. Ou seja, remover algo em torno de 55 milhões de metros cúbicos de terra e rocha.

Isso para escavar um desvio de dois quilômetros de extensão, 150 metros de largura e 90 metros de profundidade. Em 20 de outubro de 1978, 58 toneladas de dinamite explodem as duas ensecadeiras que protegiam a construção do novo curso.

Guerra do Paraguai

Itaipu Binacional

Foto: Mineiros na Estrada

Outra curiosidade, na visão de Nogueira, tem como ponto de partida a guerra entre Brasil e Paraguai, de 1864 a 1870, que resultou na morte de quase 90% da população paraguaia. Episódio que ficou conhecido como ‘genocídio americano”. “Uma guerra planejada por players internacionais que buscaram destruir um país emergente. Isso porque Solano Lopes havia mandado o filho estudar fora. E ele, formado engenheiro, vinha auxiliando o pai a industrializar o país”, conta o engenheiro. “Então os ‘comandantes’ globais promoveram a união de Brasil, Argentina e Uruguai para destruir aquele país”.

Foi então que ao final da década de 1960, o embaixador brasileiro Saraiva Guerreiro reaproximou os dois países. Primeiramente, por meio de um acordo, no qual o Brasil iria promover a industrialização do Paraguai. “Ele trabalhou para tirar essa mancha das costas do Brasil. E a primeira ação seria a construção da hidrelétrica e o Paraguai entrou com a cessão de metade do rio”, detalha Nogueira.

Universo de concreto

A construção da Itaipu consumiu 12,7 milhões de m³ de concreto, volume suficiente para erguer 210 estádios de futebol como o Maracanã, no Rio de Janeiro. A concretagem ocorreu numa velocidade incomum. Em um único dia, o volume de concreto lançado chegou a 15 mil m3 e, em um mês, 340 mil m³.

E para produzir todo o cimento necessário, foram montadas duas fábricas, uma em cada país, ao lado da obra. “O João Santos, dono da fábrica de concreto de Cachoeiro de Itapemirim, saiu daqui do estado para ir construir uma fábrica no Paraguai, mas sofreu um acidente fatal, com a queda do avião em que estava”, relata o engenheiro.

Na fase da concretagem da barragem, em um único dia – 14 de novembro de 1978 – lançaram na obra 7.207 metros cúbicos de concreto. O recorde sul-americano equivale a um prédio de dez andares a cada hora. Ou seja, 24 edifícios no mesmo dia. Os construtores utilizaram sete cabos aéreos para o lançamento de concreto.

Registros de Itaipu

Nogueira registrou muitos momentos em Itaipu. As imagens já estão desgastadas pelo tempo. Mas contam a história. Confira algumas delas do arquivo pessoal de Jarua Nogueira.

Fotos históricas de Itaipu

Obras de Terraplanagem

 

Panorâmica

Detonação

 

Foto de Alex Pandini

Alex Pandini

Alex Pandini é jornalista, tem 53 anos e mais de 3 décadas de experiência profissional em rádio, jornal, TV, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda e marketing político. Além de repórter e apresentador na TV Vitória, é responsável pelo conteúdo da plataforma ConstróiES.