Projetos inovadores no setor de rochas ornamentais

Luciene Araujo
projetos inovadores no setor de rochas ornamentais

Cerâmicas vermelhas produzidas com resíduos. Foto: Fapes

Projetos inovadores ganham destaque nacional. Pesquisas apoiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) têm alcançados resultados  ambientais significativos no setor de rochas ornamentais. Entre os projetos, o que utiliza resíduos de rochas na fabricação de cerâmicas recebeu premiação nacional.

Projetos inovadores

Um novo destino dado aos resíduos do beneficiamento de rochas ornamentais e a criação de novos produtos levaram pesquisadores do Espirito Santo à conquista do prêmio ‘Melhores Práticas em Arranjo Produtivo Local – APL de Base Mineral 2022’.

A normatização na utilização dos resíduos na produção de materiais e componentes construtivos à base de cimento portland é uma produção ecologicamente sustentável que impacta diretamente no meio ambiente. Isso, devido ao destino adequado dos resíduos, e na economia, com a redução de custos no setor da construção civil com inovação.

Os estudos científicos, com foco no setor de rochas ornamentais, começaram em 2018. Então, com dois projetos paralelos referentes às questões ambiental e tecnológica. Ambos com apoio financeiro da Fapes.

Projeto envolvendo resíduos

A pesquisadora Monica Gadioli, do Núcleo Regional do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) em Cachoeiro de Itapemirim, recebeu o apoio financeiro de R$ 700 mil.  Iso, para desenvolver os estudos do projeto “Normatização da utilização de resíduos de rochas ornamentais em artefatos de cerâmica vermelha e à base de cimento Portland”. Recursos provenientes do Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo/Mobilização Capixaba pela Inovação (Funcitec/MCI).

O projeto teve o objetivo de colaborar com a redução do impacto ambiental por meio da normatização do uso dos resíduos finos do beneficiamento de rochas ornamentais (Fibro). Afinal, os pesquisadores buscam tornar a economia de forma circular. Ou seja, inserir resíduos de produção no ciclo de vida de produtos e serviços. Logo, visando à redução do consumo de energia, água e recursos, como também as emissões sólidas, líquidas e atmosféricas para o meio ambiente.

O uso do Fibro em artefatos de cerâmica vermelha e concreto à base de cimento Portland e a elaboração das propostas de instruções normativas exigiu uma sequência de exaustivas ações. Entre elas, levantamento bibliográfico, visitas técnicas às indústrias e instituições de pesquisa e o levantamento das indústrias dos setores em estudo. Ainda a caraterização tecnológica de matérias-primas, produtos e resíduos. E somou-se a essa lista os testes laboratoriais e nas indústrias; e a elaboração das propostas de instruções normativas. Além disso, nos materiais produzidos nos testes nas indústrias de cerâmica vermelha foram realizados ensaios normativos.

Resultados

O levantamento feito das indústrias de cerâmica vermelha e de concreto com os polos de indústrias de beneficiamento de rochas apontam proximidades entre eles. Existem cerca de 60 indústrias de cerâmica vermelha que poderão absorver os resíduos Fibro, conforme explica a Doutora em Engenharia e Ciência dos Materiais e coordenadora da pesquisa, Mônica Gadioli.

“Nos estudos, nós substituímos parte de uma das matérias-primas naturais utilizadas na produção pelos finos do beneficiamento de rochas ornamentais, que já estão disponíveis. Nós produzimos os artefatos cerâmicos tanto em laboratório quanto nas indústrias e conseguimos produtos até melhores do que aqueles feitos da forma tradicional. Os resíduos de rochas ornamentais podem ser utilizados para a produção de artefatos de cerâmica vermelha e de componentes de concreto à base de cimento portland, desde que atendam aos requisitos descritos nas propostas de instruções normativas elaboradas”, explicou a coordenadora Mônica Gadioli.

Além de reduzir o consumo de matérias-primas naturais, a utilização do Fibro vai contribuir na diminuição da quantidade de resíduos descartados na natureza, agregar valor a um subproduto, até então indesejável, e gerar novos empreendimentos e produtos ecoeficientes.

Premiação

O troféu ouro, de 1° lugar nacional no ‘Prêmio Melhores Práticas em Arranjo Produtivo Local – APL de Base Mineral 2022’ foi para o projeto coordenado pela pesquisadora titular do CETEM, Mônica Gadioli, e pelo pesquisador aposentado do órgão, Francisco Vidal. Assim como o projeto contou com a colaboração dos professores Geilma Vieira, Mariane de Aguiar, Maria Angélica Sant’Ana, Kayrone de Almeida e Carlos Maurício Vieira.

A premiação visa a reconhecer as práticas inéditas realizadas no âmbito da cadeia produtiva do setor mineral. A premiação foi realizada durante o XVIII Seminário Nacional de Arranjos Produtivos Locais de Base Mineral, entre os dias 30 de novembro e 03 de dezembro de 2022, em Teresina, Piauí.

Projeto Lama abrasiva e resíduos

A Professora do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Mirna Neves, coordenou o desenvolvimento do projeto “Caracterização da lama abrasiva e dos depósitos de resíduos do beneficiamento de rochas ornamentais visando à adequação da normatização ambiental e destinação ambiental”, recebendo recursos de R$ 550 mil por meio da Resolução CCAF de nº 233/2018, através do Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo/Mobilização Capixaba pela Inovação (Funcitec/MCI).

A pesquisadora Mirna Neves enalteceu o impacto ambiental positivo dos resultados alcançados com o projeto. “Com relação ao uso dos resíduos para fabricação de cerâmica e concreto, os dados mostram que não há impedimentos do ponto de vista ambiental, pois as matérias-primas tradicionais já têm características semelhantes às dos resíduos. Mantendo respeito às normativas ambientais, o uso dos resíduos trará ganhos econômicos e ambientais”, destacou.

Recomendação

projetos inovadores reutilização de resíduos do setor de rochas ornamentais

Pesquisadores coletando resíduos. Foto: Mirna Neves

Mirna Neves acrescenta ainda a necessidade de uma importante ação para se buscar o aperfeiçoamento da normativa ambiental. Em outras palavras, “é recomendável a criação de um sistema de classificação de resíduos específico para o setor de rochas ornamentais, a exemplo do que já existe para o setor de construção civil”,a firmou. “No mesmo sentido, uma produção mais limpa poderá ser incentivada com a criação de um “selo verde” para produtos “eco sustentáveis”. Incentivos para troca da tecnologia de serragem, seleção e triagem de efluentes, educação ambiental e gestão de aterros”, acrescentou.

O trabalho de coleta do material para amostragem da lama abrasiva e demais resíduos foi intenso. Por exemplo, somente uma etapa exigiu a perfuração de 7,5 metros de profundidade em vários depósitos.

Para o diretor-presidente da Fapes, Denio Arantes, os resultados dos projetos demonstram a qualidade do trabalho da equipe técnica da Fundação. Ou seja, o acerto no apoio de pesquisas dessa natureza. “Observamos que o Espírito Santo e o setor de rochas ornamentais ganham soluções para grandes problemas enfrentados com os resíduos. São vertentes tecnológicas e ambientais que já se destacam no cenário nacional e a Fapes comemora participar deste processo”, frisou Arantes.

Resíduos das Rochas Ornamentais

O Espírito Santo é um dos maiores produtores de rochas ornamentais do País. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais (Abirochas), o Estado é responsável por cerca de 40% da produção. E ainda por 80% da exportação brasileira de rochas ornamentais. As etapas de lavra e beneficiamento das rochas geram resíduos, que ao longo da cadeia produtiva representam perdas de até 90%. Resíduos oriundos de duas categorias principais: grosseiros, provenientes da etapa de extração ou lavra nas pedreiras; e finos das indústrias de beneficiamento.

A maioria são resíduos grossos da lavra, normalmente de blocos fora do padrão de mercado. Além de outros irregulares. Esses, dependendo do método da lavra, do tipo geológico e da própria rocha, podem atingir perdas de milhões de toneladas. Por exemplo, as das pedreiras de quartzitos que representam entre 80-90%.

No beneficiamento também ocorrem perdas de resíduos grossos no aparelhamento dos blocos, conhecido por casqueiro, em torno de 14%. A transformação do bloco em chapas na serraria produz os resíduos finos do beneficiamento (Fibro) e gera um passivo de 26% em volume de bloco.

Aterros associativos

No Espírito Santo, as empresas depositam esses resíduos em aterros associativos e particulares. A cada ano, são 2 milhões de toneladas de resíduos finos por ano, do total estimado de 2,5 milhões de toneladas em todo o Brasil. Além da quantidade considerável, o problema se agrava devido ao fato de a maioria das indústrias não gerenciar corretamente o manejo de seus resíduos.

A grande quantidade de resíduos gerada, principalmente, nas etapas de extração e beneficiamento da rocha representam as perdas de material. Os resíduos são uma preocupação crescente para o setor de rocha ornamental brasileiro, pois seu descarte inadequado pode causar problemas ambientais.

O desenvolvimento dos dois projetos apoiados pela Fapes deu diretrizes normatizadas. Da mesma forma, fiocu consolidado que os resíduos de rochas têm características relevantes para serem utilizados como matérias-primas na fabricação de novos produtos. E os resíduos já são utilizados para fabricação de diversos materiais, em especial para a fabricação de cerâmica vermelha e de cimento.

Com informações da Fapes

Foto de Alex Pandini

Alex Pandini

Alex Pandini é jornalista, tem 53 anos e mais de 3 décadas de experiência profissional em rádio, jornal, TV, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda e marketing político. Além de repórter e apresentador na TV Vitória, é responsável pelo conteúdo da plataforma ConstróiES.