A Não Existência dos Bancos Centrais

Você já parou para imaginar um mundo sem a existência de bancos centrais? Hoje, os bancos centrais são entidades comumente vistas por grande parte das pessoas como essenciais, algo que já faz parte do sistema financeiro mundial, primordial para garantir a estabilidade, o poder econômico da moeda e da economia dos países. Por definição, cabe […]

Por Antônio Paulo Bazzarela

Você já parou para imaginar um mundo sem a existência de bancos centrais? Hoje, os bancos centrais são entidades comumente vistas por grande parte das pessoas como essenciais, algo que já faz parte do sistema financeiro mundial, primordial para garantir a estabilidade, o poder econômico da moeda e da economia dos países.

Por definição, cabe aos bancos centrais o monopólio da emissão de moeda, ser o banco do governo ao qual ele é ligado, supervisionar o sistema financeiro, executar a política monetária e a política cambial, e ser o depositário das reservas monetárias internacionais de seu país.

Atualmente, os bancos centrais possuem uma capacidade ilimitada de criação de moeda. Contudo, a história recente da economia mundial nos mostra que nem sempre foi assim. Entre 1870 e 1914, o Reino Unido – até então a maior potência mundial – estabeleceu o padrão-ouro, que determinou que o valor das moedas de cada país deveria ser ajustado pelo montante de suas reservas em ouro.

Porém, com o início da Primeira Guerra Mundial e a necessidade dos países — principalmente do próprio Reino Unido — de aumentar a capacidade de conseguir empréstimos através da expansão da oferta monetária, levou-se ao fim o padrão-ouro. Esse período de capacidade limitada de criação de moeda pelos bancos centrais durou até 1944, ano em que foi criado o acordo de Bretton Woods, que restabeleceu o padrão-ouro.

Esse novo acordo durou até agosto de 1971, data em que os Estados Unidos rompem com o acordo de Bretton Woods, acabando com a convertibilidade do dólar em ouro. Em efeito, o dólar americano se tornou a moeda utilizada por vários países para suas reservas internacionais.

Desde então, o que temos observado é um crescimento acelerado na oferta monetária mundial. Segundo dados do Banco Mundial, a oferta monetária mundial em 1969 não passava de 500 bilhões de dólares. Hoje, representa cerca de 20 trilhões de dólares. Junto com esse crescimento exponencial da oferta monetária global, podemos observar que a dívida dos principais países mundiais cresceu de maneira paralela. Ou seja, os países vêm financiando seus gastos através da criação de títulos de dívidas, e para honrarem essas dívidas precisam aumentar a oferta monetária mundial.

Assim sendo, na atualidade, os principais países utilizam todo o poder dado aos bancos centrais para a emissão de moeda, de modo a aumentar a base monetária mundial, e assim cobrir os seus próprios gastos. Inclusive, esse artifício foi amplamente explorado para o autofinanciamento dos países durantes as duas grandes guerras mundiais.

Posto isso, proponho o seguinte questionamento: como funcionaria um país sem o banco central? O economista Milton Friedman nos responde essa pergunta com base no “monetarismo”, uma teoria econômica que propõe que os objetivos da política monetária serão cumpridos de uma maneira mais eficiente ao se criar metas para o aumento de oferta monetária. Friedman acreditava que poderia haver um sistema computacional que garantisse que a oferta monetária mundial crescesse anualmente a taxas entre 3% a 5% ao ano.

Se adotássemos esse modelo computacional e a teoria do monetarismo proposto por Friedman, o “poder de criação de moeda” sairia da mão dos bancos centrais. Mas então, quem seria o responsável por desempenhar os outros papéis delegados aos bancos centrais? A quem caberia regular o sistema financeiro mundial, bem como garantir o seu adequado funcionamento?

Um bom exemplo, nesse caso, é o Panamá. Desde a sua independência não existe qualquer tipo de banco central. O Panamá adotou o dólar como moeda, e não criou regras e normas às suas instituições financeiras. O que podemos constatar hoje é um país com um sistema financeiro competitivo, cujos bancos analisam com prudência os seus riscos, além de trabalharem com baixas taxas de juros ao consumidor. É um modelo a ser seguido, prova de como o próprio mercado consegue se autorregular.

Precisamos ter ciência de que a não existência de um banco central aumentaria a nossa responsabilidade, mas sobretudo, significaria mais liberdade. Os bancos centrais vêm sendo utilizados ao longo da história mundial como agentes políticos que desestabilizam a economia e ferem os pilares de mercado.

Não seria a hora de revermos esse sistema?