Oportunidade dança com aqueles que já estão no salão

A frase-título do escritor H. Jackson Brown expressa bem uma das maiores habilidades dos inovadores, segundo o livro DNA do Inovador de Clayton Christensen, o papa da inovação, falecido recentemente. Os inovadores parecem entender intuitivamente que ideias novas surgem de conversas com pessoas que vivem em uma rede de contatos diferente. O sociólogo Ron Burt, […]

Por Evandro Milet, bacharelado em matemática UnB, Mestrado em Informática PUC/RJ, MBA Administração FGV/RJ

A frase-título do escritor H. Jackson Brown expressa bem uma das maiores habilidades dos inovadores, segundo o livro DNA do Inovador de Clayton Christensen, o papa da inovação, falecido recentemente. Os inovadores parecem entender intuitivamente que ideias novas surgem de conversas com pessoas que vivem em uma rede de contatos diferente. O sociólogo Ron Burt, da Universidade de Chicago, referiu-se a esse tipo de networking como uma ponte sobre “uma fenda estrutural” ou ” intervalo” entre redes sociais diversas.

“Networking” significa manter uma rede, não de recursos ou oportunidades de emprego, mas de ideias. Significa falar com gente de diversas redes sociais, gente de diferentes posições nos negócios, empresas, setores, países, grupos étnicos, grupos sócio-econômicos, etários(pessoas com 18 anos e com 80 anos), políticos e religiosos.

A diversidade de redes alimenta a diversidade de ideias. É fundamental estar no salão para ser convidado a dançar. Vejamos alguns casos onde conexões de diferentes naturezas proporcionaram negócios inovadores. Em 2007, o Sebrae/ES montou, em parceria com a Prefeitura de Vitória, dentro da incubadora Tecvitória, um Centro de Excelência em Tecnologia 3D. Para desenvolver um projeto piloto convidou a empresa Rochaz, de Iconha, fabricante de máquinas para o setor de rochas ornamentais, que tinha interesse em desenvolver um tear multifios, uma inovação naquele tempo, utilizando esse novo ambiente tecnológico. O projeto acabou não dando certo, mas um sócio da Rochaz se juntou aos sócios de uma empresa de software também incubada na Tecvitória, e criaram o PicPay, sucesso nacional.

Em San Francisco, Noah Glass, que tentava montar um projeto de rádio pirata, folheando a revista Forbes, viu uma foto de Evan Williams, fundador de uma startup que começava a fazer sucesso. Para sua surpresa, ao fundo na foto aparecia uma janela por onde se avistava, no prédio vizinho, uma cozinha que ele percebeu que era do seu próprio apartamento. Ele abriu a janela da cozinha, gritou pelo vizinho e ali começou uma grande amizade e juntos criaram o Twitter.

Henry Ford tirou a ideia da linha de montagem de automóveis em uma visita a uma indústria de processamento de carnes, onde a desmontagem dos animais era feita a partir da suspensão das carcaças recentes em um transportador aéreo que as levava de trabalhador a trabalhador. Steve Jobs era um entusiasta de encontros ao vivo e da sinergia do imenso parque tecnológico em volta da Universidade de Stanford: “Existe uma tentação em nossa era digital de pensar que as ideias podem ser desenvolvidas por email. Loucura. A criatividade vem de encontros espontâneos, de conversas aleatórias. A gente encontra alguém por acaso, pergunta o que anda fazendo, diz uau e logo começa a borbulhar todo tipo de ideia.”

Esse tipo de encontro não precisa ser fortuito, pode ser planejado para proporcionar oportunidades. E pode ser proporcionado por ambientes de inovação planejados para abrigar iniciativas inovadoras.