Gustavo Fonseca: “A única forma de ser um líder mais humano é se importar com as pessoas”

“Seja em uma reunião, aula, palestra, live ou até mesmo um processo judicial, acreditamos que a comunicação menos técnica e formal é melhor, porque ela tem maior chance de ser entendida.”

Gustavo Fonseca é sócio da Fass Advogados, especialista em Direito do Trabalho e Legal Law Master em Direito Corporativo pelo IBMEC Business School, com mais de 12 anos de atuação em casos estratégicos e mediações. É formado pelo Dale Carnegie Institute em Gestão, Liderança e Alta Performance em Vendas e hoje aplica sua experiência internacional e paixão pela inovação trabalhando diretamente nas áreas de Startups e Negócios da Fass.

 

Você foi eleito líder no seu segmento de atuação por votação popular. A que atribui sua vitória? Por que as pessoas o elegeram líder?

É difícil responder a essa pergunta, porque a gente não sabe quem votou. Mas meu pai costumava dizer que o único lugar onde conquista vem antes de trabalho é no dicionário, e eu concordo plenamente.  Antes de mais nada, foi fruto do trabalho de muitas pessoas, durante muitos anos.

Além disso, nós inovamos em um mercado bastante tradicional, e havia uma demanda reprimida de empresas que gostariam de se relacionar com seu advogado de outra forma. Por esse e outros motivos, tivemos a oportunidade de trabalhar com empresários de todos os perfis, desde startups capixabas em fase pré-operacional, e que depois ganharam o Brasil, até multinacionais estrangeiras consolidadas, o que nos deu bastante projeção.

Outro ponto relevante é a forma como nos comunicamos, sem “juridiquês”. Seja em uma reunião, aula, palestra, live ou até mesmo um processo judicial, acreditamos que a comunicação menos técnica e formal é melhor, porque ela tem maior chance de ser entendida.

Os assuntos que nós tratamos no Direito já são densos por si só. E não estou falando só quando estamos solucionando algum problema, mas também quando trabalhamos com prevenção ou em uma oportunidade tributária. A matéria em si geralmente é densa, então preferimos uma comunicação mais leve, para contrabalancear.

 

Qual seu conceito de liderança?

A liderança pelo exemplo, cooperação, inspiração e transpiração. Pelo exemplo, porque nenhum discurso é mais convincente do que as ações do dia a dia. Por cooperação, porque não acredito na imposição. É claro que existem exceções, dependendo do setor, mas, dentro do nosso modelo, percebemos que quando os objetivos são construídos em conjunto, quando os motivos estão claros para todos, é muito mais fluido contar com a cooperação.

Além disso, nós também buscamos pessoas que estejam alinhadas com o projeto, que tenham vontade de construir uma carreira. Isso tem a ver com inspiração, com o senso de pertencimento, o que é muito mais poderoso do que o conceito tradicional de motivação.

Com relação à transpiração, volto à questão do trabalho. Para alcançar algo realmente relevante, é necessário também uma entrega extraordinária.

 

Por que é importante ter uma liderança positiva e como praticá-la?

Primeiro porque dá resultado. A valorização das particularidades e talentos de cada membro do time e a proximidade dos liderados com os líderes têm impacto direto nos resultados. Ao analisar pesquisas sobre liderança positiva, encontramos dados sobre o aumento de performance e produtividade, o aumento da atração e retenção de talentos e diminuição dos índices de turnover.

Com relação a como praticar a liderança positiva, o ponto de partida é a empatia, o interesse genuíno nas pessoas que estão do seu lado, suas histórias e objetivos. A partir do ponto de vista do outro, fica mais fácil desenvolver estratégias em conjunto e que tenham na mira um mesmo objetivo comum.

 

Na sua avaliação, como é possível encontrar o equilíbrio e desenvolver uma liderança mais humana, capaz de engajar pessoas?

Na verdade, não acredito que seja necessariamente uma questão de equilíbrio. Para mim, a única forma de ser um líder mais humano é se importar genuinamente com as pessoas. É comum acreditar que a liderança mais “humana” é mais gentil, elogia mais e critica menos, mas não se trata disso. Elogiar espontaneamente um liderado que teve um desempenho fora do comum é tão importante quanto dar a ele um feedback estruturado quando algo precisa ser ajustado. Isso possibilita evolução e desenvolvimento da equipe. E o mesmo se aplica para os momentos em que a equipe precisa de apoio, quando está passando por um momento difícil, ainda que sejam questões pessoais e não relacionadas ao trabalho.

Outro ponto importante é que nenhuma cultura resiste ao tempo caso não seja verdadeira. Não adianta escrever o regimento interno, dar treinamentos e pregar uma determinada cultura se ela não reflete a visão dos líderes e da organização.

Quais comportamentos e habilidades precisam estar mais desenvolvidos no líder?

Ter capacidade de se adaptar, de ajustar o rumo do barco, de decidir com a velocidade necessária e entender de pessoas. Seja internamente com os sócios, com a equipe, no atendimento aos clientes, no trato com parceiros, com o poder judiciário etc., em todos os desdobramentos da nossa atuação, temos contato direto com pessoas, por isso a cooperação é tão importante.

 

Qual o papel do líder para a garantia da diversidade na companhia?

Tudo começa pelo exemplo. Não é suficiente só “respeitar” ou “aceitar” a diversidade, é preciso abraçá-la. A diversidade é a nossa realidade desde sempre e entendo que nós, enquanto líderes, devemos ser pivôs da aceleração dessa mudança de paradigma. Nós temos muito orgulho de dizer que somos um time composto de pessoas de diferentes culturas, religiões e orientações sexuais. Inclusive, atualmente temos mais mulheres do que homens na equipe.

Por quê? Porque selecionamos os melhores profissionais, independentemente de qualquer atributo físico ou opinião, porque encontramos soluções melhores com pessoas diversas, que pensam de formas diferentes. Porque os resultados falam por si só, porque as pesquisas indicam e, acima de tudo, porque nós evoluímos como pessoas quando temos a oportunidade de conviver diariamente com a diversidade.

 

A quais outras pautas e temas o líder precisa estar atento nos dias atuais?

Depende muito da área de atuação. No nosso caso, a inovação e a capacidade de adaptação foram muito importantes, e tudo indica que continuarão sendo. A advocacia tem evoluído nos últimos anos, mas, na minha opinião, as grandes ondas de transformação ainda estão por vir aqui no Brasil. Se compararmos o Brasil com outros países com sistemas jurídicos similares, percebemos que muitas práticas ainda não chegaram por aqui, seja por falta de aderência do mercado ou por ainda não ser permitido pela OAB mesmo. Muitas profissões mudarão drasticamente nos próximos anos, e a advocacia será uma delas.

 

Quais foram seus maiores desafios e conquistas até hoje enquanto líder?

Tivemos muitos desafios no início. Começamos um escritório do zero, em uma sala de 30m2, sem clientes, sem equipe, sem procedimentos. Cada evolução foi conquistada com muita dedicação de todos que passaram pela Fass. Na medida em que o escritório foi crescendo, os desafios jurídicos dos casos também foram aumentando. Por exemplo: às vezes somos contratados para fazer uma análise jurídica de risco sobre um negócio inovador, que ainda não existe, portanto não é regulado. Outras vezes atendemos clientes de outros países, e nem sempre a sistemática jurídica brasileira faz sentido para o estrangeiro, em especial quando isso é explicado em outro idioma.

Com relação às conquistas, me orgulho muito da equipe que nós construímos, de ter pessoas comprometidas com o projeto, e isso a gente percebe nas pesquisas de qualidade, nos elogios espontâneos dos clientes. Também foi uma grande conquista construir uma sede confortável para todos trabalharem e para recebermos nossos clientes como merecem.

No último ano, outra conquista pessoal foi que tenho sido convidado para dar palestras, aulas, participar de painéis e eventos que não são comumente frequentados por advogados. Vejo isso como uma grande oportunidade de apresentar para esse público uma outra visão da advocacia.

 

Qual é, para você, o futuro da liderança? Que habilidades precisa ter o líder do futuro?

Alguns dos pontos que comentei, como diversidade, tomada de decisão com base em dados e com diálogo, cultura forte, dentre outros, já são uma realidade. Sobre o futuro, acredito que vamos caminhar cada vez mais para o modelo de liderança por colaboração, com estímulo à criatividade. Também percebo que estamos caminhando para um modelo de gestão e liderança mais descentralizada e humanizada. Por isso, sou da opinião de que, de maneira geral, a principal habilidade que um líder precisa desenvolver é a forma como se relaciona com as pessoas.

 

 

 

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