Os R$ 25 milhões e as duas versões

Crédito: Secom-ES

A expectativa era de que rolasse um climão. Mas todo mundo segurou a onda na inauguração do Aeroporto de Linhares. Governador, prefeito e o ministro da Infraestrutura dividiram o mesmo palanque na manhã de ontem, um dia depois das alfinetadas, ataques e bate-boca na internet por conta da paternidade da obra.

Na manhã de ontem (10), os discursos foram protocolares, de valorização da obra de grande porte na região, de agradecimentos pelo empenho de todos. O clima ameno da cerimônia, porém, não significa que a paz está selada. Pelo contrário, fora do evento, o ambiente continua sendo de guerra.

Na noite de quinta-feira (09), a Prefeitura de Linhares publicou em seu perfil pessoal que o governo do Estado perdeu um recurso federal de R$ 25 milhões para a obra de Aeroporto de Linhares. Ontem, após a inauguração do aeroporto, Guerino endossou a nota da prefeitura e foi além: “A nossa nota, ou melhor, a nota da Prefeitura de Linhares foi tímida, foi muito educada. Porque o que o governo fez foi um absurdo”.

Guerino colocou na sua conta a viabilização do Aeroporto de Linhares, afirmando que correu atrás do governo federal, da bancada em Brasília e dos dois governadores que passaram nos últimos anos pelo Palácio Anchieta (Casagrande e Paulo Hartung). “Foi trabalho nosso, da prefeitura, minha luta”, afirmou Guerino, contando toda a saga do aeroporto linharense até chegar aos R$ 25 milhões.

“Foi assinado um acordo entre a Secretaria Nacional de Aviação Civil e o governo do Estado estabelecendo que quando a obra do aeroporto chegasse em determinado ponto, o governo federal iria repassar R$ 25 milhões para construir um terminal e a contrapartida do Estado seria de R$ 5 milhões. O município poderia ter executado a obra, mas o Estado pediu para executar e demos autorização. Da primeira vez em 2018, com a pista, tendo o terminal ficado para depois. E eu sempre cobrando o governo. Quando chega em novembro de 2021, a Anac comunica à prefeitura, que é a dona do aeroporto, que estava cancelando o repasse dos R$ 25 milhões porque o Estado não deu atenção às demandas a serem alteradas no projeto. É um absurdo, depois de tantas tratativas, perdermos R$ 25 milhões”, disse Guerino.

A assessoria de Guerino apresentou um ofício que mostra o cancelamento do Termo de Compromisso 16/2019, sobre o repasse do recurso. O ex-prefeito afirma que segurou esse documento por um motivo: “Não comuniquei na época porque não queria aumentar todos os problemas que estávamos enfrentando com o governo”.

Ele alega que o governo do Estado rejeitou o recurso para não ter o carimbo do governo federal na obra, mas o que mais parece ter incomodado o ex-prefeito foi o convite que partiu do Palácio Anchieta. “Com dois dias de antecedência (da inauguração do aeroporto), solta um convite, falando que a obra é do Estado, numa grande indelicadeza e falta de respeito ao governo federal e à prefeitura”, disse, indignado.

“A obra é nossa”

Crédito: Secom/ES

Coube ao secretário estadual de Mobilidade e Infraestrutura, Fábio Damasceno, defender o governo e as obras do aeroporto, já que estão ligadas à sua pasta. Segundo Damasceno, mais de 70% dos recursos investidos no Aeroporto de Linhares são do governo do Estado, que decidiu deixar o termo de compromisso com o governo federal para, segundo o secretário, não atrasar ainda mais a obra.

“São decisões que o governo tem que tomar para melhor atender a população. O aeroporto era um projeto que vinha se arrastando há muitos anos, passando por várias mãos sem conseguir chegar a um denominador comum. O governo federal queria que nós fizéssemos a contratação de um projeto executivo para depois licitar a obra. O que isso iria acarretar? Pelo menos mais dois anos elaborando licitação, projeto e aprovando um novo projeto, e mais três anos com a obra, e isso com a pista pronta. Seriam mais cinco anos sem operar o aeroporto”, disse Damasceno.

Segundo ele, a decisão do governo então foi reduzir o tamanho do terminal. “Um terminal de 3 mil metros, como estava previsto, não refletia a realidade, muito grande para a aviação comercial regional, fora o custo operacional. Tomamos a decisão de fazer um projeto em cima do antigo terminal, que seria para 80 passageiros, mas já chegamos a 200, num projeto de 600 metros quadrados, que consegue operar com cinco pousos durante o dia. Qualquer avião que opera no terminal de Vitória, pode operar em Linhares. Fizemos a contratação, o projeto e hoje a obra está em pleno andamento. O terminal será entregue em dezembro e passa a operar em janeiro”.

Damasceno fez questão de enfatizar que a obra é do governo do Estado: “A obra é nossa”, afirmando que foram gastos R$ 50 milhões. “O aeroporto é uma realidade, colocamos mais de R$ 50 milhões, botamos equipamento que a prefeitura não teve como colocar e o aeroporto vai operar porque nós tomamos uma decisão acertada. Do contrário, só daqui a cinco anos que Linhares teria um aeroporto”.

Nas alfinetadas, Damasceno disse ainda que a Prefeitura gastou “zero” reais para colocar a obra de pé, o que é contestado por Guerino: “O terreno que foi cedido pela Prefeitura vale no mínimo R$ 100 milhões”. “Que terreno?”, questiona Damasceno, alegando que o aeroporto sempre foi no mesmo local e que foi o Estado quem fez as desapropriações. “Eles faltam com a verdade”, rebate Guerino, dando sinais que as desavenças com o governo do Estado estão só no começo.

 

Panos quentes

Parte da bancada federal capixaba esteve presente na inauguração da nova pista do Aeroporto de Linhares para receber o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio. Durante o evento, o deputado federal Neucimar Fraga teria dito no discurso que não era hora de criar barreira entre governo federal e governo estadual.

Sem bola dividida

Ao falar sobre a obra do aeroporto, o ministro Marcelo Sampaio, disse se tratar de um esforço conjunto da bancada e citou a senadora Rose de Freitas, por sua atuação na presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO), e o deputado federal Da Vitória, coordenador da bancada federal capixaba. Ao citá-los evitou a bola dividida, já que os dois disputam o mesmo posto: a vaga de Senado na chapa do governo.