Reprodução: Daisy Korpics/WSJ, iStock
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Na última semana, o The Wall Street Journal publicou uma reportagem intitulada “Conheça os pais que estão criando ‘bebês carnívoros’, trocando purê de frutas por bife”. A matéria mostra famílias americanas que decidiram oferecer uma alimentação quase totalmente baseada em produtos de origem animal para seus filhos. Um dos casos é o de Dariya Quenneville: quando sua filha iniciou a introdução alimentar, ela não recebeu o tradicional purê de banana ou abacate. No prato, entraram gema de ovo crua e fígado de frango batido. Hoje, a menina consome principalmente carne, além de ovos e manteiga. A mãe descreve a criança como ‘um bebê fácil’, atribuindo esse comportamento à alimentação da dieta.

Apesar dos relatos, a prática desperta preocupação entre pediatras e nutricionistas. Crianças pequenas precisam de vitamina C para o desenvolvimento saudável das cartilagens e tecidos conjuntivos, e de fibras, essenciais para a digestão e o funcionamento da microbiota intestinal.

O que diz o guia alimentar da criança brasileira

O Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, publicado pelo Ministério da Saúde, recomenda que a alimentação complementar seja variada e equilibrada. Isso inclui frutas, verduras, cereais, leguminosas e também carnes, pela importância do ferro e do zinco. O guia destaca que as carnes não devem ser oferecidas cruas ou malpassadas, para evitar riscos de infecções. Ou seja, a carne faz parte do processo de introdução, mas sempre junto de outros alimentos que ampliam a oferta de nutrientes e garantem segurança alimentar.

Carências nutricionais em dietas restritivas

Dietas muito restritivas aumentam o risco de deficiências nutricionais. A carne fornece ferro de alta absorção e alguns outros nutrientes importantes. No entanto, quando oferecida de forma isolada, não supre todas as necessidades da criança. Bebês que consomem pouca variedade podem apresentar falta de vitamina C, tiamina, cálcio, magnésio, potássio, folato e fibras, nutrientes essenciais para crescimento, imunidade e desenvolvimento cognitivo.

Outro ponto de atenção é o sódio, que costuma ultrapassar o limite recomendado em dietas baseadas apenas em alimentos de origem animal, o que pode representar risco de sobrecarga para os rins em idades tão precoces. Como os bebês crescem rapidamente e têm alta demanda nutricional, eles precisam de diferentes grupos alimentares para garantir o aporte completo de vitaminas e minerais nessa fase.

O papel das fibras

As fibras, presentes em frutas, legumes, verduras e cereais integrais, são essenciais para o bom funcionamento intestinal, ajudam a regular o metabolismo e contribuem para prevenir doenças crônicas no futuro. A ausência de fibras pode prejudicar a função intestinal e o equilíbrio da microbiota. A própria reportagem cita o exemplo de Bonkowski, que precisou introduzir frutas meses depois de adotar a dieta carnívora, porque sua filha Isabella começou a apresentar episódios de constipação. Do ponto de vista nutricional, isso mostra como a exclusão de grupos alimentares pode rapidamente trazer consequências negativas para a saúde do bebê.

Carne vermelha e riscos em excesso

A carne vermelha é uma fonte importante de ferro heme, proteína de qualidade e vitamina B12. Porém, o consumo excessivo, sobretudo de processados como salsicha e linguiça, já foi associado a maior risco de doenças crônicas, incluindo câncer colorretal. Isso não significa excluir a carne do prato, mas inseri-la em uma dieta equilibrada, que ajuda a reduzir riscos à saúde no futuro.

O caso dos “bebês carnívoros” chama atenção porque mexe com um tema sensível: a forma como escolhemos nutrir nossos filhos. Ainda que a busca por alternativas diferentes possa parecer natural, a infância exige diversidade alimentar. Garantir carnes, sim, mas também frutas, verduras, cereais e leguminosas é o caminho mais seguro para formar saúde e bons hábitos desde cedo.

Bruna Tommasi

Colunista

Nutricionista graduada pela Universidade Vila Velha e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética. É apaixonada por promover saúde de forma prática, combinando ciência e estilo de vida para ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos com equilíbrio

Nutricionista graduada pela Universidade Vila Velha e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética. É apaixonada por promover saúde de forma prática, combinando ciência e estilo de vida para ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos com equilíbrio