Ramon Dino fez história ao se tornar o primeiro brasileiro campeão da categoria Classic Physique no Mr. Olympia 2025, o maior evento de fisiculturismo do mundo, realizado neste sábado (11) em Las Vegas. Uma conquista inédita para o fisiculturismo masculino brasileiro, que já vinha se destacando nas categorias femininas com nomes como Natália Coelho e Eduarda Bezerra, também campeãs nesta edição.
Mas por trás dos troféus e da estética impecável, há uma disciplina que merece ser olhada com mais atenção: a nutrição.
O fisiculturismo é, sim, um esporte
Mais do que estética, o fisiculturismo é um esporte que demanda foco, estratégia e a mesma entrega de qualquer modalidade de alto rendimento. A alimentação, o treino e o descanso são planejados com precisão quase cirúrgica. É um esporte em que cada refeição tem propósito: construir, preservar ou revelar músculos.
E, diferente do que muitos imaginam, não basta gostar de comer muito. É preciso saber o que comer, quando e por quê. O fisiculturista organiza a alimentação em ciclos bem definidos: o off season (fase de ganho de massa muscular), o pré-contest (fase de definição e redução de gordura) e o período de competição, em que ajusta cada detalhe para atingir o auge estético no palco.
Estratégias alimentares do esporte
Durante o off season, o objetivo é aumentar a massa muscular de forma gradual e controlada. O atleta consome um superávit calórico calculado e uma quantidade elevada de proteínas, associada a carboidratos de boa qualidade e gorduras saudáveis. A meta é crescer com o mínimo possível de acúmulo de gordura.
No pré-contest, o foco muda completamente. A dieta torna-se mais restrita, reduzindo gradualmente as calorias e, em muitos casos, os carboidratos, para diminuir o percentual de gordura corporal sem comprometer a massa magra. É uma fase de alta exigência física e mental, que pode incluir manipulação de sódio e água, priorizando alimentos de digestão leve e pouco processados.
Peak week
Durante a semana que antecede o palco, o atleta faz ajustes precisos para potencializar a definição muscular. O objetivo é claro: aumentar o volume dos músculos e reduzir a retenção de água sob a pele, destacando a aparência seca e definida no palco. O atleta modula a ingestão de água, carboidratos e sódio para atingir esse equilíbrio delicado.
Estudos recentes mostram que protocolos muito extremos, como desidratação severa ou cortes bruscos de sódio, podem comprometer o desempenho e até reduzir o volume muscular. Por isso, as estratégias da peak week devem sempre ser testadas com antecedência, garantindo segurança e previsibilidade no resultado final. Pequenos erros nesse período podem anular meses de preparação.
Após a competição, vem um dos momentos mais delicados: a fase pós-contest. Depois de semanas de restrição, o corpo tende a reagir com fome intensa, retenção hídrica e alterações hormonais. Por isso, a reintrodução gradual de alimentos e o retorno a um plano equilibrado são essenciais para evitar ganho rápido de gordura e manter a saúde metabólica.
Distribuição e timing dos nutrientes
A rotina alimentar de um fisiculturista costuma incluir de cinco a seis refeições por dia, com a ingestão de proteínas distribuída ao longo do dia para otimizar a síntese muscular. Esse controle é conhecido como nutrient timing. A ideia é garantir que o corpo receba nutrientes adequados nos momentos de maior demanda, como antes e após o treino, para favorecer recuperação e crescimento muscular.
Hidratação e manipulação de líquidos
A água também é parte da estratégia. Muitos atletas utilizam protocolos de hiperidratação nas semanas anteriores à competição, chegando a ingerir entre 100 e 130 ml por quilo de peso corporal, ajustando gradualmente até o dia do palco. O controle do sódio anda junto: sua redução ou aumento pode alterar o volume de água dentro e fora do músculo, impactando diretamente na aparência final.
O que o fisiculturismo ensina
O fisiculturismo mostra o poder da disciplina e do planejamento, mas não é sinônimo de saúde. O uso disseminado de esteroides anabolizantes e o extremo controle sobre dieta e líquidos trazem riscos sérios, como problemas cardiovasculares, disfunções renais e metabólicas. A musculação, base do esporte, é saudável; o esporte competitivo, nem sempre.
Mas há algo que esse esporte ensina a qualquer pessoa, mesmo longe dos palcos: manter e desenvolver massa muscular é investir em saúde e longevidade. Estudos mostram que pessoas com mais músculos vivem mais e têm menor risco de doenças crônicas. Em idosos, a preservação da massa muscular está associada a mais força, autonomia e qualidade de vida.
O fisiculturismo, com toda sua exigência, escancara uma verdade simples: músculo é saúde. E, ainda que a rotina de um atleta seja extrema, seu princípio mais valioso serve para todos nós: cuidar do corpo todos os dias é o que garante os melhores resultados, dentro e fora dos palcos.