
Nos últimos anos, a nutrição se tornou um tema central nas redes sociais. É ótimo ver tantas pessoas interessadas em saúde, mas isso também traz um desafio: filtrar o que é informação de qualidade daquilo que é desinformação. Nem tudo o que circula online está errado, mas muitos conteúdos acabam simplificados demais, tirados de contexto ou apresentados por quem não tem formação na área. Por isso é tão importante buscar referências confiáveis, especialmente de nutricionistas, médicos e outros profissionais de saúde, que trabalham com evidência científica.
Para ilustrar como a informação pode se perder nesse caminho, vamos usar como exemplo algumas falas recentes da influenciadora Virgínia Fonseca sobre suplementos e nutrição. A ideia aqui não é crítica pessoal, mas sim esclarecer o que a ciência realmente diz. Como esta é uma coluna de nutrição, o objetivo é orientar o leitor com informações corretas e contextualizadas.
Onde a informação se perde: analisando as falas que viralizaram
Nos últimos dias, algumas falas da influenciadora ganharam grande repercussão e ilustram bem como uma informação pode se distorcer durante a viralização. Vamos a elas:
“Fico mais sequinha tomando lactase”:
A lactase é uma enzima que o próprio corpo produz para digerir a lactose, o açúcar natural do leite. Porém, algumas pessoas produzem essa enzima em quantidade reduzida, o que leva à intolerância à lactose. Nesses casos, o uso da enzima em suplemento ajuda a melhorar a digestão e reduzir sintomas como gases, estufamento e desconforto, diminuindo a sensação de inchaço abdominal. Isso muitas vezes é confundido com “secar”, mas não tem relação com perda de gordura ou emagrecimento. A lactase não acelera o metabolismo, não reduz retenção de líquido e não altera a composição corporal. Ela apenas ajuda na digestão dos laticínios para quem realmente precisa.
“Nosso corpo não absorve a quantidade de magnésio que precisamos, então temos que repor”:
O magnésio realmente é um mineral importante, mas a ideia de que o corpo não absorve o suficiente não procede. A maior parte das pessoas consegue suprir suas necessidades pela alimentação, principalmente com vegetais verde-escuros, castanhas, sementes e leguminosas. A suplementação só é necessária em situações específicas, como deficiência comprovada ou indicação profissional. Além disso, excesso de magnésio pode causar desconforto intestinal e atrapalhar a absorção de outros minerais. O problema aqui é transformar uma orientação individual em regra geral.
“Ômega 3 tem as proteínas do peixe que a gente não consegue ingerir no dia a dia”:
Aqui há uma mistura de conceitos. O ômega 3 é uma gordura boa, não uma proteína. Peixes são ricos em proteína e em ômega 3, mas o suplemento contém apenas o ácido graxo, não os aminoácidos presentes nas proteínas do alimento. Tratar o ômega 3 como se fosse proteína confunde nutrientes com funções muito diferentes. Proteínas participam da construção de músculos, hormônios e tecidos, enquanto o ômega 3 atua na saúde celular, na inflamação, nos triglicerídeos e no sistema nervoso. São nutrientes complementares, mas não equivalentes.
Como o consumidor pode se proteger da desinformação
O primeiro passo é desenvolver um olhar mais crítico. Sempre que uma frase soar muito simples, muito milagrosa ou muito generalizada, vale buscar mais contexto. Verificar se existem explicações mais técnicas sobre aquele assunto e procurar fontes confiáveis ajuda a evitar interpretações equivocadas e escolhas precipitadas.
Isso não significa deixar de acompanhar influenciadores, e sim entender que experiência pessoal é diferente de recomendação técnica. E antes de comprar qualquer suplemento que viu na internet, o ideal é buscar a orientação de um profissional que possa avaliar se aquilo realmente faz sentido para você.
A nutrição é um tema que desperta interesse e curiosidade. Mas episódios como esse mostram como informações incompletas podem se espalhar rapidamente e gerar confusão. As falas recentes de Virgínia são apenas exemplos de como conceitos técnicos podem ser mal interpretados quando chegam ao público sem explicação.
A internet inspira. A ciência orienta.
E quando combinamos as duas com consciência e filtro crítico, fazemos escolhas melhores para a nossa saúde.