Saúde

Do ouro ao fôlego curto: como o corpo reage ao fim da carreira esportiva

Ex-atletas costumam ganhar peso e perder condicionamento após a aposentadoria. Entenda como o fim da rotina de treinos afeta a saúde e a alimentação, e veja estratégias para evitar esses problemas.

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Foto: Reprodução/ O Globo
Foto: Reprodução/ O Globo

Quando Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, admite aos 39 anos que fica sem fôlego ao subir escadas e que hoje prefere assistir séries ou brincar de Lego a correr, a notícia ganha destaque não por curiosidade, mas porque traduz uma realidade comum a quem encerra a carreira no alto rendimento. Na mesma entrevista ao jornal britânico The Telegraph, ele contou que nem corre mais e que deveria voltar a trotar para “colocar a respiração em dia”. É um retrato de uma vida muito menos ativa do que antes, e isso tem consequências fisiológicas previsíveis.

O que acontece no corpo quando se interrompe o treino

Encerrar ou reduzir drasticamente o treino dispara uma sequência de reversões das adaptações conquistadas no esporte. Estudos mostram que em apenas 2 a 3 semanas sem treinar já ocorre queda mensurável da capacidade aeróbia, em parte pela redução do volume sanguíneo e plasmático. Essa perda inicial é de cerca de 4% no VO₂máx (quantidade máxima de oxigênio que o corpo consegue captar e usar durante o exercício), e tende a se acentuar com o passar dos meses. O corpo também passa a utilizar combustível de forma menos eficiente, o limiar de fadiga diminui, a sensação de esforço aumenta e a tendência ao ganho de peso se intensifica, especialmente quando a alimentação permanece compatível com a rotina de treinos que já não existe.

Mais do que físico, também psicológico

Não é apenas a mudança no gasto energético que pesa. A aposentadoria esportiva é uma transição de identidade. Muitos atletas perdem a estrutura de treinos, a rede de apoio e até o senso de propósito. Essa lacuna abre espaço para sedentarismo, sono irregular, comer por estresse e oscilações de humor. Quando a aposentadoria vem por lesão, o impacto psicológico costuma ser ainda maior, já que o desligamento acontece de forma brusca, sem preparação adequada. Pesquisas apontam que ex-atletas apresentam maior risco de sintomas de ansiedade, depressão e estresse quando comparados à população geral.

Um dado marcante é que, em média, ex-atletas ganharam 18,5 kg após a aposentadoria, enquanto pessoas que nunca foram atletas ganharam apenas 4,3 kg. Além do peso, os níveis de estresse percebido também foram significativamente mais altos nos ex-profissionais. Isso mostra que a saúde mental é parte fundamental do processo de adaptação à vida fora das quadras, pistas e campos.

O caso dos ex-jogadores e o exemplo brasileiro

Pesquisas com ex-jogadores de futebol reforçam esse cenário. No Brasil, um estudo transversal mostrou que muitos atletas carregam para a vida adulta dores crônicas, aumento do peso corporal e queixas relacionadas à saúde metabólica. Manter-se fisicamente ativo depois da carreira se associou a menor risco de síndrome metabólica e ganho de gordura, enquanto o abandono total das atividades aumentou esses problemas.

Como desacelerar a perda de condicionamento e segurar o peso

O objetivo não é viver como atleta, e sim adotar hábitos que caibam no dia a dia. Caminhadas, pedaladas ou algumas corridas leves já ajudam a manter o corpo em movimento. Incluir treinos de força, seja na academia ou em casa, contribui para preservar a musculatura. Também vale apostar em pequenas atitudes fora do treino, como subir escadas, levantar-se mais vezes durante o trabalho e evitar passar muitas horas sentado. Esses gestos simples, quando somados, tem grande impacto no gasto energético, ajudam a controlar o peso e a manter a saúde em dia.

A nutrição também precisa acompanhar a nova demanda. Muitos ex-atletas mantêm por hábito porções compatíveis com o período competitivo, mas agora precisam ajustar quantidades e priorizar qualidade. Distribuir proteína ao longo do dia, reduzir calorias totais quando necessário, dar atenção especial a frutas, verduras e legumes, e evitar o consumo excessivo de álcool são passos essenciais.

Por fim, contar com acompanhamento profissional, tanto nutricional quanto psicológico, ajuda a reocupar o espaço que antes era preenchido por treinos e competições. Isso reduz as recaídas no sedentarismo, controla o comer emocional e dá novas ferramentas para enfrentar essa fase da vida com saúde.

Bruna Tommasi

Colunista

Nutricionista graduada pela Universidade Vila Velha e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética. É apaixonada por promover saúde de forma prática, combinando ciência e estilo de vida para ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos com equilíbrio

Nutricionista graduada pela Universidade Vila Velha e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética. É apaixonada por promover saúde de forma prática, combinando ciência e estilo de vida para ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos com equilíbrio