Arquitetura hospitalar: o que deve ser priorizado?

A arquitetura hospitalar deve estar em consonância com o propósito de um hospital. Os ambientes precisam ser pensados de forma a garantir o cuidado com a saúde do paciente e favorecer a sua recuperação. Por isso, o projeto exige atenção e soluções a nível de funcionalidade, logística e segurança. A beleza é importante, entretanto não é a preocupação principal.

Roberta Drummond
Arquiteta, empresária e colunista do Folha Vitória

Essa priorização se contrapõe à “perfumaria” de que os brasileiros tanto gostam. Por aqui, o interesse em criar um hospital que remete ao lar dos pacientes faz com que ele se torne um ambiente pouco seguro. Devemos levar a segurança mais a sério do que a estética. Muitos detalhes de decoração podem se tornar um problema.

Por exemplo, adornos nos móveis, quadros nas paredes e algumas mobílias que priorizam a estética tornam mais complicada a limpeza dos quartos. E a higienização precisa ser facilitada para eliminar quaisquer riscos de contaminação de quem ali está hospedado.

A escolha de materiais também é primordial para proporcionar a segurança necessária. Em um pós-operatório ou quando paciente está com a mobilidade prejudicada, um piso mal selecionado e escorregadio favorece quedas. Imagine que uma pessoa perde o equilíbrio e cai no banheiro. O excesso de elementos por ali podem representar pontos de colisão. Bater com a cabeça em uma quina pode causar uma lesão grave.

Entra, então, outra questão relevante a ser incorporada no projeto de arquitetura de um hospital: as facilidades de contato com as equipes de enfermagem. São necessárias linhas para solicitação de ajuda no banheiro e ao lado da cama, que o enfermo consegue acessar sem dificuldade; passagens para oxigênio até o leito; camas elétricas que eliminam a necessidade de usar escada para subir nelas, e outros recursos assistenciais para o paciente.

Em tempos de pandemia

Outras necessidades foram escancaradas no último ano com a pandemia. A estrutura hospitalar teve de se ajustar para atender novas demandas. Contudo, em meio a emergência, não houve tempo para a adaptação nos moldes adequados. Não houve tempo para refletir, pois as mudanças ocorreram com hospitais em pleno funcionamento e atuando contra uma doença que ninguém conhecia: a Covid-19.

Inicialmente, a preocupação foi isolar pacientes contaminados com o coronavírus daqueles que precisava de atendimento hospitalar e não podiam se contaminar. As áreas de recepção e atendimento foram separadas.

Um problema que persistiu – e segue ainda – é a questão do ar-condicionado. São poucas as áreas que têm aparelhos de ar condicionado que fazem a filtragem e a renovação do ar como realmente tem de ser feito. Geralmente, só em UTIs e centros cirúrgicos. Nas demais, são aparelhos simples. E sem essa renovação de ar, mesmo os pacientes estando isolados, a contaminação acaba ocorrendo. Portanto a questão dos equipamentos de ar-condicionado tem de ser revista.

A área de box de UTI é outro ponto que requer atenção. A legislação determina o mínimo de 9m² para box simples e 10m² para box de isolamento. Só que quando há um paciente grave, como no caso da Covid-19, que precisa estar ligado a máquinas, esse espaço se torna um caos, e a circulação de profissionais fica limitada.

Há ainda a estrutura dos necrotérios, que são muito pequenos nos hospitais. Geralmente, eles contam com duas mesas, e quando a demanda é grande, há um gargalo. Pensar o que se fazer com os corpos é uma necessidade. Mesmo após passarmos pela pandemia da Covid-19, devemos estar preparados para outras situações que podem vir a ocorrer.

Mesmo que o momento atual já tenha impactado a estrutura hospitalar, ainda existem questões a serem debatidas e soluções a serem encontradas.

 

Roberta Drummond
Arquiteta, empresária e colunista do Folha Vitória