Nesta semana, quase 4 mil embalagens do biscoito proteico Wheyviv foram retiradas de circulação em bairros da Grande Vitória. Um laudo do Laboratório Central (Lacen) do Espírito Santo, solicitado pela Polícia Civil, apontou que os produtos apresentam apenas metade do valor proteico indicado no rótulo. O caso reacendeu o debate sobre a veracidade das informações nutricionais e a responsabilidade das empresas na comunicação com o consumidor.
Nos últimos meses, diferentes situações semelhantes geraram grande repercussão na internet por levantarem dúvidas sobre rótulos de alimentos no Brasil. A bebida Hydro Protein da Moving, que prometia 30 g de proteína a partir da levedura nutricional, entrou em debate por aparentar incompatibilidade entre tabela nutricional e lista de ingredientes. A fiscalização também apreendeu o biscoito de polvilho Veganitos, por apresentar teores de sódio superiores aos informados. Mais recentemente, a marca Milky Moo foi citada em discussões após inconsistências serem constatadas em suas tabelas nutricionais. Esses episódios mostram que o consumidor está cada vez mais atento e exigente em relação à transparência das informações que recebe.
Quando os números não fecham
Discussões como essas evidenciam a importância de olhar além do marketing. Inconsistências podem ocorrer por erros de cálculo, falhas no processo de desenvolvimento ou até por omissão de nutrientes relevantes. A tecnologia evolui e permite a criação de produtos inovadores, com tabelas nutricionais cada vez mais atrativas. Porém, as empresas devem utilizar laudos do produto final e não apenas das matérias-primas. O cálculo correto depende do conhecimento da composição de cada alimento e garante que o rótulo corresponda ao que está realmente no produto.
Esses erros não afetam apenas a credibilidade das marcas, mas também podem trazer riscos reais à saúde. O consumo excessivo de sódio, por exemplo, eleva o risco de hipertensão; uma tabela com calorias subestimadas pode comprometer estratégias no plano alimentar; e a omissão de nutrientes essenciais pode prejudicar quem depende dessa informação para uma condição clínica específica, como os diabéticos.
O papel do nutricionista na rotulagem
Nesse cenário, o trabalho do nutricionista é essencial. Cabe a ele calcular, validar e interpretar corretamente os dados nutricionais, garantindo que o rótulo traduza a ciência em informação clara para o consumidor e em conformidade com a legislação vigente.
Como ressalta Carmelita Zacchi Scolforo, fundadora da Ideale Business, empresa especializada em rotulagem de alimentos:
“A rotulagem de alimentos deve ser elaborada com rigor técnico e responsabilidade. Um erro pode confundir o consumidor, comprometer sua saúde e ainda gerar sérias consequências legais e de imagem para a empresa. O nutricionista tem papel essencial nesse processo, garantindo clareza e conformidade com a legislação. Além disso, é fundamental que o nutricionista explique aos consumidores como fazer a leitura adequada dos rótulos. Dessa forma, o consumidor pode ter autonomia nas escolhas alimentares.”
O olhar crítico do consumidor
O consumidor também tem papel ativo nesse processo. Questionar informações que soam irreais, comparar as calorias totais com os macronutrientes e observar a lista de ingredientes são atitudes que contribuem para escolhas mais conscientes.
Até mesmo marcas populares e consideradas de confiança podem apresentar esse tipo de falha, especialmente diante do aumento expressivo de produtos com apelo fitness e proteico no mercado. Isso reforça a importância do senso crítico, mas também do direito do consumidor de cobrar transparência e veracidade das informações que chegam até ele.
Desenvolver esse olhar é positivo, mas o equilíbrio também é necessário. Escolher marcas com histórico de boas práticas, que se posicionam com clareza diante de questionamentos e divulgam dados técnicos sobre seus produtos, ajuda a evitar desconfianças excessivas. No fim das contas, o rótulo não serve apenas para especialistas. Ele existe para você, consumidor, que precisa de clareza para escolher o que coloca no prato e no corpo.