Set 2021
27
Tiago Pessotti
MERCADO DIÁRIO

porTiago Pessotti

Set 2021
27
Tiago Pessotti
MERCADO DIÁRIO

porTiago Pessotti

Como a Evergrande se insere no panorama do mercado imobiliário chinês

Primeiramente vale lembrar que a China viu uma forte aceleração após os primeiros meses de pandemia. Mas o governo central do país começou a pesar a mão em alguns aspectos nos últimos meses, com controles no setor educacional, de games, de commodities, entre outros, que ganharam notoriedade e preocuparam o mercado.

Mas as restrições no mercado imobiliário local eram pouco faladas até então. No segundo semestre de 2020 o Banco Popular da China e o Ministério da Habitação criaram novas restrições à alavancagem de grandes incorporadoras no país.

A Evergrande foi uma das empresas que sentiu os efeitos da alteração, que delimitou novas regras para a tomada de crédito, prejudicando a situação de alta alavancagem da incorporadora. Naquele momento, houve um acordo com investidores estratégicos, o que adiou uma crise no caixa da empresa.

Mas uma hora a conta tinha que vir. A ideia do governo era provocar uma desalavancagem forçada das empresas do setor no país para gerar um impacto positivo na saúde financeira. E isso se deu por meio da políticas de “três linhas vermelhas”, por meio de medidas como a observação de uma razão de passivo/ativo menor que 70%, por exemplo. Como a concessão de crédito era baseada na observação dessas regras, a Evergrande passou a ter nas mãos uma situação insustentável de alta alavancagem, mas agora sem fontes de financiamento.

Com menos acesso ao crédito, a reação lógica é uma redução dos preços, de forma a aumentar vendas. Isso deve levar a uma redução dos preços de imóveis em geral na China, que estiveram em alta constante nos últimos 15 anos.

Porque a possível falência de uma incorporadora chinesa está repercutindo tanto no mundo?

O medo é de que a redução do ritmo de crescimento chinês, que já estava no radar, seja agravada pelo cenário de falência de uma das maiores empresas chinesas. E com isso uma redução da demanda no restante do mundo, principalmente nos setores mais fortemente correlacionados ao mercado imobiliário.

Afinal, o mercado imobiliário chinês é responsável por cerca de 20% do PIB do país, enquanto a Evergrande sozinha representa por volta de 2% deste. Além disso, ela influencia, de forma direta ou indireta, no emprego de mais de 3,8 milhões de trabalhadores, isto é, 0,4% da força de trabalho no país.

O risco é real?

As próximas semanas são chave para o caso Evergrande e para a China, principalmente no que se refere à condução da expectativa do mercado quanto ao tema.

Uma das consequências na dinâmica de curto prazo é a maior vigilância nos investimentos em emergentes. Além disso, o mercado passa a avaliar outros players envolvidos, como outras empresas de real estate e empresas do setor financeiro que estão expostas ao risco de crédito chinês.

A principal solução para o problema que tem gerado expectativas em investidores é a questão do socorro do governo chinês à empresa. Na avaliação do BTG Pactual, isso deve ocorrer, mas de uma forma mais leve, e não sob a forma de uma cobertura total. A justificativa é que o governo chinês não daria tal incentivo para maus comportamentos, podendo ocasionar uma repetição da história.

Nesse sentido, em matéria do Global Times, jornal ligado ao governo chinês, a deixa foi de que a empresa não deveria ficar esperando por ajuda do governo e sim deveria correr atrás do mercado privado para isso.

Sobre os próximos passos, já foi formado um “grupo de trabalho” na empresa com consultores financeiros e especialistas jurídicos e contábeis para cuidar do processo de agora em diante. Espera-se agora a liquidação de ativos a preço descontado para honrar com as obrigações.

Comparações com a crise de 2008 e com o Lehman Brothers

A comparação da quebra da Evergrande com a do Lehman Brothers tem sido recorrente no mercado, com diversas manchetes enfatizando a correlação. Mas as situações são diferentes: o sistema financeiro global, com ênfase para o mercado americano, europeu e japonês, é muito menos exposto ao mercado imobiliário chinês do que eram às instituições financeiras americanas a época da falência do Lehman Brothers, uma instituição centenária e que ganhou forma juntamente ao crescimento do mercado financeiro norte-americano.

Assim, a influência deste quadro para o mercado ocidental existe, mas o risco é mais controlado. Dessa forma, embora o cenário certamente seja desafiador, tem se mostrado superável no médio e longo prazo.

Essa coluna tem como único propósito fornecer informações e não constitui ou deve ser interpretada como uma oferta, solicitação ou recomendação de compra ou venda de qualquer instrumento financeiro ou de participação em qualquer estratégia de negócio específica. Possui finalidade meramente informativa, não configurando análise de valores mobiliários nos termos da Instrução CVM Nº 598, e não tendo como objetivo a consultoria, oferta, solicitação de oferta e/ou recomendação para a compra ou venda de qualquer investimento e/ou produto específico.

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