Tensão entre EUA e Iraque reflete no mercado financeiro
Nova York - Dois anos e meio depois de os Estados Unidos terem retirado o último soldado norte-americano do Iraque, o rápido aumento da violência e da tensão nos últimos dias em um dos maiores produtores mundiais de petróleo tem repercutido no mercado financeiro mundial e dividido opiniões sobre a participação mais ativa de Washington no conflito. Em Wall Street, a avaliação é que a piora da situação pode seguir afetando os preços do petróleo e precipitar nova realização de lucro no mercado financeiro, especialmente com as bolsas internacionais em níveis recordes de pontos.
O tema foi manchete nessa sexta-feira, 13, dos dois principais jornais dos EUA, o The New York Times e do The Wall Street Journal e tem ocupado espaço crescente no noticiário da televisão norte-americana. O Times defendeu em editorial nessa sexta-feira que não é o momento de a Casa Branca se envolver em uma nova guerra no Iraque, lembrando que o conflito no país já custou a morte de 4,4 mil soldados norte-americanos. A participação dos EUA seria inútil se o exército iraquiano se mostrar incapaz de defender o país, avalia o jornal. É hora de os dirigentes iraquianos mostrem liderança, inclusive trocando o primeiro-ministro, conclui o editorial.
Já em um artigo no WSJ, a diretora do Institute for the Study of War, de Washington, Jessica Lewis, defende a participação militar dos EUA para resolver rapidamente o conflito, na medida em que os rebeldes insurgentes estão chegando próximos a capital Bagdá. "O Iraque precisa dos Estados Unidos. As forças especiais norte-americanas forneceriam notável apoio ao exército iraquiano no campo de batalha", escreve a especialista. Um fato inusitado é que uma eventual participação militar dos EUA colocaria as tropas do país lutando ao lado do inimigo Irã, país que já enviou soldados para ajudar o exército iraquiano a combater os rebeldes.
O especialista em questões militares do Oriente Médio do Institute for Near East Policy, Michael Knights, também defende participação mais ativa dos EUA no conflito, seja via ataques aéreos, seja via cooperação com o exército local. "Washington precisa agir se quer evitar que rebeldes islâmicos se transformem na única força política e militar em regiões do Iraque", escreveu em um relatório. Um dos temores é que a produção de petróleo do país fique comprometida, depois de atingir em fevereiro o maior nível em mais de 30 anos.
A Casa Branca disse que Washington está pronta para ajudar. O presidente Barack Obama anunciou em um pronunciamento pela televisão que estuda maneiras de dar assistência militar ao governo do Iraque, mas descartou o envio de tropas. O presidente disse que deve tomar uma decisão sobre que tipo de ajuda militar que vai oferecer nos próximos dias. Fontes do Pentágono ouvidas pela imprensa norte-americana afirmaram que uma das possibilidades seriam ataques aéreos, ou por aviões de guerra tripulados ou por meio dos drones.
O conflito no Iraque também chegou ao Congresso e recebeu críticas tanto de democratas como de republicanos. O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, disse que a segurança do Iraque está claramente em risco e que Obama foi pego de surpresa pelo aumento da violência nos últimos dias. Mesmo aliados do presidente expressaram preocupação. "Desnecessário dizer que a situação é grave", disse o senador democrata Bill Nelson, da Flórida.
Desde o último dia 10, insurgentes sunitas entraram pela fronteira da Síria e ocuparam a cidade de Mosul. No dia seguinte, mais duas cidades a caminho de Bagdá foram ocupadas. Ontem, forças curdas tomaram Kirkuk, capital de uma província que é importante polo de produção de petróleo. Os preços da commodity atingiram nessa sexta-feira o nível mais alto em nove meses.
"Considerando o atual ambiente de baixa volatilidade, a crise no Iraque teve um impacto significativo", afirma o analista do Danske Bank, Morten Helt. Hoje, porém, apesar de a situação tensa na região, a crise não repercute nas bolsas norte-americanas, mas segue influenciando os juros dos títulos do Tesouro dos EUA, que operam em alta.
Na avaliação do estrategista-chefe da Capitol Securities, Kent Engelke, há o risco de que, nestes tempos de baixa volatilidade e férias no hemisfério norte, questões geopolíticas passem a ditar o rimo de preços, tanto de ações, como na renda fixa. Com os investidores buscando motivos para realizar lucros, a crise no Iraque pode voltar a ter peso maior nas bolsas.
Há uma preocupação crescente, diz Engelke, de que o Iraque caia na mão dos rebeldes islâmicos e o governo tenha dificuldades para lidar com as diferenças entre xiitas, sunitas e curdos. A alta do preço do petróleo pode afetar, por exemplo, os resultados das companhias aéreas, além de a busca por ativos de menor risco provocar novas altas nos títulos do Tesouro.