Desembolsos do BNDES ainda têm queda de 10% no acumulado de janeiro a agosto
Presidente da instituição, Dyogo Oliveira também afirmou que empréstimos feitos a Cuba e Venezuela não deveriam ter sido realizados
Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para empréstimos já aprovados ainda registra queda de 10% no acumulado do ano até agosto, na comparação com os oito primeiros meses de 2017, afirmou nesta terça-feira, 18, o presidente da instituição de fomento, Dyogo de Oliveira.
Segundo o executivo, as incertezas relacionadas às eleições de outubro têm afetado a demanda por crédito para investimentos. "Com a eleição e todo esse processo de incertezas, há uma repressão. As próprias empresas recolhem um pouco os 'flaps' antes de solicitar o desembolso. Estamos aguardando a solução do processo para ter uma retomada mais forte dos desembolsos", afirmou Oliveira, ao deixar a cerimônia de abertura do IX Sipid, seminário sobre inovação promovido pela Abifina, entidade que representa a indústria da química fina, no Rio de Janeiro.
Apesar da queda nos desembolsos, Oliveira ressaltou que outras fases do processo de pedido de financiamentos ao BNDES têm registrado alta. No caso das consultas, primeira etapa do processo, que normalmente serve de termômetro do apetite por crédito para investimentos, a alta é de 10% no acumulado de janeiro a agosto.
Visão de empresa
Para ampliar sua capacidade de financiar a inovação nas empresas, especialmente de menor porte, o BNDES tem buscado "reinventar sua forma de atuar", afirmou nesta terça-feira o presidente da instituição de fomento. "O BNDES está gradualmente migrando para uma visão de empresa em vez da visão de projeto. A transformação é para que o BNDES apoie de forma mais efetiva, de forma mais inovadora, o processo de inovação das empresas", afirmou Oliveira, durante a palestra na abertura do IX Sipid.
Essa mudança, segundo Oliveira, se insere num quadro em que a discussão sobre as políticas de fomento à inovação deve se focar no "ecossistema de inovação", que inclui necessariamente o papel do empreendedor inovador. Nessa visão, o registro de patentes é o resultado do processo e não o fim em si mesmo, embora seja preciso que o País "consiga minimamente registrar os pedidos de patente".
Com foco maior nas companhias, em vez dos projetos de investimento, o BNDES pensará seus clientes pelo seu "ciclo de vida". Assim, os produtos de crédito ou de apoio por meio de participação acionária serão desenvolvidos conforme cada ciclo da vida empresarial, de startups até grandes empresas.
Na apresentação, Oliveira destacou que já começa a haver uma recuperação nos desembolsos do BNDES para o financiamento à inovação. Projetos desse tipo receberam R$ 2,2 bilhões em 2017. Nos 12 meses até junho de 2018, o valor está em R$ 3 bilhões.
O presidente do banco de fomento aproveitou ainda para anunciar o lançamento, até o fim do ano, de dois produtos, o BNDES 10 e o BNDES Produtividade. Ambos são voltados para pequenas empresas, explicou Oliveira após a palestra. No primeiro, o objetivo será aprovar o crédito para investimentos, de até R$ 10 milhões por empresa, em até 30 dias, com operação direta pelo BNDES, sem o uso de banco repassador. O segundo produto será uma linha para investimentos específicos em aumento de produtividade.
Cuba e Venezuela
O BNDES está negociando alternativas com o governo de Cuba para que a ilha caribenha retome os pagamentos das parcelas de sua dívida, que hoje somam cerca de US$ 17,5 milhões em atrasos, afirmou Dyogo de Oliveira.
Ele lembrou das críticas aos empréstimos do BNDES para obras em países como Cuba e Venezuela. "Olhando hoje, fica claro que eles (países como Cuba e Venezuela) não tinham condições de pagar. Provavelmente, (os empréstimos) não deveriam ter sido feitos, mas agora temos que ir atrás do dinheiro. Temos que buscar receber", disse o presidente do BNDES.
Cuba está em atraso com o pagamento de US$ 17,4 milhões em parcelas vencidas em junho, julho e agosto de sua dívida com o BNDES, informou o banco. Em agosto e neste mês, a ilha caribenha pagou US$ 4 milhões da parcela de junho, em duas operações. Cuba já havia atrasado a parcela de maio, de US$ 6,6 milhões, em duas operações, com atraso de 50 e 60 dias em cada, como revelou o Broadcast na última terça-feira. A dívida de Cuba com o BNDES, que financiou a modernização do Porto de Mariel, obra tocada pela Odebrecht, está em US$ 597 milhões.
As negociações com Cuba, segundo Oliveira, envolvem opções que não passam, necessariamente, por uma reestruturação completa da dívida. "O governo de Cuba tem se mostrado solícito, aberto a buscar soluções. Alega, no entanto, que em virtude de questões climáticas e financeiras não tem condições de honrar totalmente os pagamentos", afirmou Oliveira, ao deixar a cerimônia de abertura de um evento sobre inovação, no Rio.
Apesar das críticas, Oliveira frisou que 90% da carteira de crédito para comércio exterior não está direcionada para esses países. Por causa dos atrasos, o banco de fomento será obrigado a provisionar em seu balanço financeiro valores para fazer frente a eventual calote.
Segundo Oliveira, o provisionamento não preocupa. "Hoje, são cerca de US$ 17,5 milhões em atraso. O volume disso em relação à carteira do banco não é exatamente preocupante, diante de uma carteira de exportações de US$ 10 bilhões", afirmou Oliveira.