Economia

Eleições e crise de emergentes levam estrangeiros a tirar US$ 10 bi do País

Em julho, a entrada de moeda americana superou a saída em US$ 4,8 bilhões

Redação Folha Vitória
Economistas avaliam que o resultado do fluxo financeiro em agosto marca uma nova tendência de curto prazo e que, pelo menos até o desfecho da eleição, as saídas financeiras devem continuar | Foto: reprodução

O desconforto dos investidores com o processo eleitoral e a turbulência que atingiu os países emergentes provocou a retirada de US$ 9,8 bilhões da economia brasileira em agosto. O resultado negativo da conta financeira - que inclui investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamentos de juros, entre outras operações - é o maior desde março, quando US$ 10,5 bilhões deixaram o Brasil, depois que o governo de Michel Temer engavetou a reforma da Previdência.

Em julho, a entrada de moeda americana superou a saída em US$ 4,8 bilhões. Já um ano atrás, em agosto de 2017, a retirada foi a metade da registrada no mês passado.

Economistas avaliam que o resultado do fluxo financeiro em agosto marca uma nova tendência de curto prazo e que, pelo menos até o desfecho da eleição, as saídas financeiras devem continuar.

"Não que chegue a ser uma surpresa o fluxo financeiro ruim em agosto. Mas no fundo é uma mudança forte em relação aos últimos meses, quando havia, apesar das incertezas, um quadro de predomínio de fluxo positivo", disse o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria Integrada. "As entradas financeiras caíram bastante. A média diária em agosto veio bem mais baixa que o visto nos últimos meses", acrescentou.

O economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, acredita que cerca de 30% da saída de capitais ocorre em decorrência do panorama internacional e 70% por causa da aproximação eleitoral e do quadro fiscal crítico do País. "A preocupação com as eleições é grande. Ninguém está tomando risco no Brasil."

O cenário indefinido da disputa eleitoral deve elevar a tensão do mercado financeiro "de modo relevante" nas próximas semanas, na avaliação do economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani. "Pode haver uma tempestade perfeita, com a saída de capital. Os mercados vão perder a racionalidade aqui também", diz, comparando o quadro brasileiro com o argentino, onde a moeda já se desvalorizou 50% neste ano. No Brasil, em um mês, o dólar teve alta de quase 25% ante o real. Ontem, a moeda americana caiu 0,23%, para R$ 4,14.

A condição das contas externas brasileiras deve impedir uma perda do valor do real tão acentuada quanto a do peso. "Os padrões argentinos são fora da realidade", frisa Padovani.

Por causa da crise no país vizinho, os investidores estão mais seletivos em relação aos países emergentes nas últimas semanas, de acordo com os economistas. Padovani lembra que muitos investidores estrangeiros veem os emergentes como um único bloco e, por isso, acabam deixando o Brasil quando o risco argentino aumenta.

O economista Sidney Nehme, da NGO Corretora, lembra que o cenário de saída é influenciado pela subida de juros dos EUA, que deve continuar. No próximo dia 26, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciará a nova taxa de juros, hoje na faixa de 1,75% a 2,00% ao ano. A probabilidade de alta, de 0,25 ponto porcentual, é de 99%, conforme o CME Group, empresa americana que agrega as maiores bolsas de derivativos do mundo.

Desfecho eleitoral. Na prática, os investidores observam um Brasil incerto, por conta da eleição, e um exterior com perspectiva de juros mais elevados. "A curto prazo, o fluxo financeiro negativo deve continuar. Depois, tudo depende do desfecho do quadro eleitoral", afirma Campos Neto. "Pode tanto haver uma reversão desse fluxo, com entrada forte de capitais, como pode ocorrer intensificação dessas saídas líquidas", destaca ele.

Um fluxo financeiro instável, porém, também é uma possibilidade para 2019 dado o fato de o País não ter mais grau de investimento (selo de bom pagador emitido por agências de classificação de risco). Padovani explica que ativos de grau especulativo, como os da dívida brasileira, são operados por investidores de curto prazo, o que aumenta a volatilidade no mercado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.