Economia

Tensão pré-eleição faz fundos elevarem capital 'represado' no País para R$ 36 bi

A tensão pré-eleição, que atingiu em cheio o mercado financeiro na semana passada, levando o dólar a R$ 4,20, também é sentida entre os fundos de private equity (que compram participações em empresas). O receio em fechar negócios neste momento é percebido tanto nos dados de total de operações fechadas quanto no aumento do estoque de dinheiro captado que ainda não foi aplicado.

Em agosto, o número de transações caiu a menos da metade do mesmo mês do ano passado. De janeiro até julho, a cifra disponível, mas não investida, subiu em mais de R$ 5 bilhões, para R$ 36 bilhões.

Para Piero Minardi, presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap), o mercado está em compasso de espera principalmente em função da volatilidade do câmbio. "Como os fundos são investidores de longo prazo, essa instabilidade pode comprometer os retornos (na hora do desinvestimento)."

Segundo Mário Malta, diretor do fundo Advent, a postura dos donos de empresa também influencia no ritmo menor dos fechamentos de negócio. "Em função das incertezas, eles atrasam decisões como trazer um sócio ou acessar novos mercados."

Malta ressalta que não falta capital no mercado, ainda mais com a desvalorização cambial, que deixa os ativos mais baratos para quem capta dinheiro em dólares.

Segundo outros gestores de fundos ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, até o segundo turno das eleições só negócios inadiáveis serão fechados. Alexandre Pierantoni, especialista em fusões e aquisições e diretor da Duff & Phelps no Brasil, diz que a incerteza se dissipará quando o pleito estiver definido.

A partir do perfil do candidato escolhido - mais ou menos "amigável" ao que o mercado financeiro acredita ser o caminho certo para a economia -, fundos e empresas deverão refazer as contas. "Estamos em um período muito específico", diz Pierantoni. "E esperar, neste momento, custa pouco."

Os números de transações feitas até agosto são um reflexo desse compasso de espera. Segundo dados da TTR - Transactional Track Record -, entre janeiro e agosto de 2018, as operações caíram 18% em relação ao ano passado, de 65 para 53. As captações, que ficavam na casa de US$ 10 bilhões, também recuaram e estão em torno de US$ 3 bilhões.

Segundo o gestor de um grande fundo, os investidores querem aguardar o fim das eleições para aportar os recursos com mais segurança.

Mas, apesar do cenário conturbado, os fundos continuam avaliando os ativos, especialmente aqueles voltados para empresas em dificuldade financeira. É o caso da empresa de reestruturação Starboard, sócia da gestora americana Apollo, e do IG4 Capital.

O sócio da Starboard, Meton Morais, diz que a expectativa é que no longo prazo a situação econômica do País se acomode. "Acreditamos nos fundamentos do País, que tem um mercado consumidor vasto; vemos boas oportunidades", diz ele, que espera fechar duas operações após o segundo turno das eleições. Na parceria com a Apollo, a empresa tem R$ 1,3 bilhão para investir.

O IG4 está em fase de capitalização do fundo que controla a Iguá Saneamento (ex-Cab Ambiental) e de um segundo fundo, de US$ 400 milhões, que terá foco em diferentes negócios. "Temos um 'pipeline' grande de ativos em análise", diz Paulo Mattos, sócio da IG4. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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