O livro do nosso quintal

O quintal da nossa casa é lindo! Ele tem árvores, plantas e animais dos mais variados tipos! Mas existe alguma coisa errada com ele. Ele não está sendo bem cuidado! O que podemos fazer? Um bom começo é mergulhar nas páginas do novo livro de Fernando Nuno, O quintal da minha casa, que a Companhia das Letrinhas está lançando.

Com belas ilustrações de Bruno Nunes, o livro é um delicioso passeio pelo maravilhoso quintal que é o nosso mundo e um convite a pensarmos sobre o que podemos fazer para impedir que ele seja destruído.

Batemos um papo muito legal com o autor Fernando que nos contou detalhes interessantíssimos sobre o seu trabalho e sua vida. Divirta-se! 

Folhinha Kids – Como começou sua carreira de autor infantil?

Fernando Nuno – No fim do segundo ano, ganhei um livro da professora. Era a adaptação do romance Robinson Crusoé. Gostei tanto do livro que passei a colecionar e ler muitas adaptações de obras clássicas da literatura. Já adulto, estudei línguas, passei a ler os clássicos na versão integral, viajei muito e trabalhei durante dezessete anos como editor do Círculo do Livro, que chegou a ser a maior editora do Brasil. Fiquei amigo de muitos escritores importantes e quando acabou o Círculo do Livro pensei em começar a escrever. Como aprendi a amar os livros principalmente por causa dos clássicos adaptados para crianças, decidi recontar vários deles no meu estilo de escrever.

 

Folhinha Kids – Qual foi o seu primeiro livro?

Fernando Nuno – O primeiro foi um romance histórico que escrevi quando tinha uns 11 anos; eu estava no sexto ano. Era enooorme (pelo menos para mim): tinha nove páginas de caderno. Mas esse não conta, né? O primeiro pra valer foi a adaptação que fiz justamente de, adivinhem só?, Robinson Crusoé. O livro ganhou a distinção de Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e foi adotado nos principais programas de adoção de livros para a escola pelo governo, assim como todas as outras adaptações que fiz depois dessa.

 

Folhinha Kids – Conte onde e quando você nasceu. Como era sua casa na infância?

Fernando Nuno – Nasci no dia 12 de junho de 1951, numa aldeia de Portugal chamada Saldanha. Como vim para o Brasil no colo da minha mãe, só conheci já adulto a casa onde nasci, quando voltei lá. A aldeia é tão pequena que ela toda parece um quintal. E a minha casa, uma construção antiga toda de pedra, tem uma colmeia, um pombal e várias oliveiras no quintal.

 

Folhinha Kids – Como era o quintal da sua casa?

Fernando Nuno – Tive vários quintais na infância, todos em São Paulo. O primeiro tinha o muro dos fundos na principal avenida da cidade (a Avenida da Luz, que hoje se chama Avenida Prestes Maia). A avenida dá no Jardim da Luz, um parque lindo de São Paulo, muito arborizado, com coreto e tudo, que parece os parques de Paris (o projeto foi baseado neles, por sinal). Eu ia lá todos os dias, porque no Jardim da Luz ficavam o imenso jardim da infância e a escola onde fiz jardim, pré e primeiro ano. E meu pai ficou bravo porque quebrei com martelo o cimentado que havia no nosso quintal de fundos para a avenida…

O segundo quintal, no bairro de Santana, era bem grande e tinha mamoeiros, abacateiros, outras árvores, roseiras e outras flores que minha mãe plantava, além da horta, e a balança que meu pai construiu para meus irmãos e para mim. Uma parte plana e gramada era o nosso campinho de futebol. A uma quadra de casa ficava uma mata imensa, onde meus pais promoviam piqueniques em alguns domingos. Pena que hoje virou um monte de prédios, uma fábrica de camisas, um posto de gasolina, várias casas grandes etc.

O terceiro quintal era no bairro do Brás e era pequeno. Mas os fundos de várias casas tinham um muro que dava para um pomar enorme junto à linha do trem. Às vezes pulávamos o muro, com medo, para catar goiabas do lado de lá — mas não havia casas nem ninguém nele, esse quintal pertencia à estrada de ferro Central do Brasil.

Adoro passear nos parques de São Paulo e das cidades que visito. Eles são belos quintais do grande quintal mundo.

 

Folhinha Kids – O que dá mais saudade da sua infância?

Fernando Nuno – Muitas coisas. Os amigos, as escolas, as brincadeiras, os livros que li, as comidas que minha mãe preparava, os passeios, mas, sobretudo… os quintais.

 

Folhinha Kids – Fale pra gente um pouquinho sobre seu livro “O quintal da minha casa”.

Fernando Nuno – Vocês sabiam que as frases principais do livro eu sonhei? Mas mesmo os textos principais da primeira parte do livro, as listas de plantas e de animais, escrevi com a sensação de que ainda estava sonhando. Tudo me veio num ritmo poético, para ler alto. Experimentem ler as primeiras páginas do livro em voz alta, como se estivessem lendo poesia. E é poesia. Porém, quando entra a destruição gradual do ambiente, notem que a poesia vai se perdendo, não só no mundo como no livro. O texto foi ficando menos poético, mais preocupado, foi se tornando prosa em vez de poesia. E eu nem percebi isso na hora de escrever. Foi um processo natural, como que inconsciente. A beleza do mundo ia sendo destruída por invasores sem método e sem futuro. Assim, o final vai ficando mais sério, até percebermos que, embora no processo de proteger o ambiente cada um de nós seja uma gota importante no oceano, é somente quando nos unirmos e nos tornarmos realmente oceano que poderemos reverter o processo que poderá tornar inviável a vida no planeta Terra como a conhecemos.

 

Folhinha Kids – Você acha que os livros de papel vão acabar?

Fernando Nuno – Penso que não, mas isso é porque eu gosto mais de folhear e ler livros de papel do que de ler telas. Mas nunca sabemos de verdade como será o futuro. Ao pensar nisso, sempre me lembro dos filmes de cinema que se passam no futuro e que foram feitos antes de 1990. Em todos eles as pessoas falam umas com as outras em telefones com fio. Fica superengraçado ver, no meio daquela modernidade toda, os telefones com longos fios como meio de comunicação, nada de celulares, nada de tablets ou microcomputadores. Ou seja: mesmo o mais óbvio é difícil de prever, que não dirá do futuro do livro de papel?

 

Folhinha Kids – Como podemos despertar o cuidado com o meio ambiente nas crianças?

Fernando Nuno – Penso que com o exemplo, com a conversa, com a demonstração, com a educação. Educação para economizar os recursos naturais, para proteger a natureza, para reciclar o lixo. A escola tem papel importante no assunto. Os governos e os lares devem trabalhar conjuntamente. É realmente, como você diz muito bem na pergunta, uma questão de ‘despertar’.

 

Folhinha Kids – Você tem muitos projetos na cabeça? Quer falar sobre algum deles?

Fernando Nuno – Sim, tenho muitos projetos. Quero recontar muitos clássicos da literatura ainda, porque os clássicos são livros que nos ensinam a nos conhecermos melhor. Quero escrever bastante poesia e livros sobre muitos assuntos variados. Quero compor muita música. Fui roqueiro, tive algumas bandas, componho músicas para os livros da Silvana Salerno, a Nana, que é casada comigo, toco músicas com meus filhos. Ah, e quero viajar bastante ainda. Se a gente se cuidar direito, logo será o fim desta pandemia também no Brasil. Por falar nisso, alguém aí conhece algum país que resolveu a questão tomando algum produto farmacêutico que não seja a vacina?

 

Folhinha Kids – O que é mais divertido em seu trabalho?

Fernando Nuno – É durante a escrita, mas é também quando a gente acaba de escrever o livro e fica satisfeito. É divertido também porque depois a gente quer mudar tudo de novo. Meus outros livros foram escritos e reescritos nove vezes, porque nunca ficava satisfeito. O quintal da minha casa é o único que quase não foi reescrito; como veio de um sonho, quase tudo nele já estava pronto — apesar de que muitas vezes os sonhos não dão em nada no papel…

 

Folhinha Kids – E o que é mais difícil?

Fernando Nuno – O mais difícil é arrumar tempo para tudo. Faço muitas coisas ao mesmo tempo, e ainda trabalho em edições, por incumbência das editoras. Tenho várias músicas incompletas e não acho tempo para o acabamento. E fico sempre reescrevendo os projetos de livro também. Por isso acho que nem vou reler o que escrevi acima, senão vou querer mudar tanta coisa que não conseguirei entregar as respostas a tempo.

 

Folhinha Kids – Qual é o seu grande sonho como escritor?

Fernando Nuno – Que aquilo que escrevo sirva para promover um mundo melhor para todas e todos nós. Que seja sempre um trabalho digno e bem feito. (Sou fã dos Beatles e admiro neles o fato de que sempre se preocuparam em entregar ao público o melhor trabalho que conseguiam fazer. Eles são um belo exemplo.)

 

Folhinha Kids – Deixe um recado para o pessoal que acompanha o Folhinha Kids.

Fernando Nuno – Vamos curtir o nosso quintal. Preste atenção na natureza, da qual nós também fazemos parte. Observe com carinho as árvores, todas as plantas, preste atenção nos animais, veja as semelhanças e as diferenças entre as plantas e entre os bichos e entre eles e nós. Sinta como sem tudo isso não podemos viver, como fazemos parte do mesmo quintal-universo que eles. Observe bem também as pedras, os minerais, as montanhas, os rios, os lagos, os mares. Proteger o ambiente é o mesmo que proteger a nós próprios. E o último recado vem da música de Paulo Vanzolini ‘Volta por cima’, uma das que eu mais gostava de cantar quando criança. Como vocês viram no livro, no fim das frases do sonho sonhei o nome desse cientista músico que cuidava da natureza. Com certeza a minha cabeça tinha um motivo para isso. Na música dele está algo que orienta muito em como levo a vida. A vida é de vitórias e de tombos. Quando vencemos, celebramos. E, quando tropeçamos e tombamos, o melhor a fazer é o que diz a música do Vanzolini: “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.

 

Serviço

Livro “O quintal da minha casa”

Páginas: 40

Formato: 21 X 25 cm

Acabamento: Livro brochura

Selo: Companhia das Letrinhas

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